Plenário do STF durante o julgamento do mensalão: petistas temem que o tema entre na campanha das eleições do ano que vem (Carlos Humberto/STF)
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2013 às 21h21.
Brasília - A possibilidade de um novo julgamento do mensalão divide o PT e preocupa o governo Dilma. Mesmo os petistas que temem o desgaste provocado pela reabertura do caso avaliam, porém, que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, interrompeu a sessão desta quinta-feira, 12, e empurrou a decisão para a semana que vem apenas para que a opinião pública faça pressão contrária aos réus.
A presidente Dilma Rousseff não quer que o julgamento invada a campanha eleitoral de 2014 e ordenou a lei do silêncio no Palácio do Planalto. De todos os réus do PT, Dilma só conversa com o deputado José Genoino, que sofreu isquemia cerebral no mês passado e pediu aposentadoria por invalidez à Câmara. Ela é distante do ex-ministro José Dirceu, a quem sucedeu na Casa Civil em 2005, no auge do escândalo do mensalão, e do deputado João Paulo Cunha.
No Planalto, dois petistas defendem a reabertura do julgamento: o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e a titular das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Em conversas reservadas, no entanto, candidatos do PT a governos estaduais dizem que o julgamento deveria terminar agora porque os adversários vão fazer o partido "sangrar" na campanha se o mensalão for revisitado. O Supremo começou a julgar os réus em agosto do ano passado, durante a disputa pelas prefeituras, e o assunto foi um dos temas preferidos dos rivais do PT. Logo após ser eleito prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) não conteve o desabafo, quando perguntado sobre o tema pelo Estado. "Será que eu vou ter de passar a vida inteira respondendo sobre mensalão?", devolveu ele.
Para o deputado Paulo Teixeira, secretário-geral do PT, nada pode restringir o direito de um condenado à revisão de sua pena. "Nós não podemos sacrificar um novo julgamento, que pode corrigir inconsistências e equívocos cometidos na primeira fase, como a tese da formação de quadrilha, com argumentos que não se sustentam", afirmou Teixeira. "Serão 12 novas análises e creio que o Supremo não ultrapasse 60 dias para fazer isso."
Teixeira disse esperar que Celso de Mello, ministro do Supremo, vote na quarta-feira, 18, pela aceitação dos embargos infringentes dos réus do PT. "A minha expectativa é que ele siga a tradição do Supremo. Se os embargos infringentes valeram até hoje, por que agora não valem mais? Não podemos ter um julgamento casuístico", insistiu.
A interrupção da sessão por Joaquim Barbosa foi considerada uma "armação" por muitos petistas. Na opinião deles, o presidente do Supremo só agiu assim para incentivar a pressão da mídia, no fim de semana, contra o esperado voto favorável de Celso de Mello aos réus do mensalão.
Amigo de Dirceu, o ex-deputado Paulo Rocha (PT) disse acreditar na reabertura do julgamento. "O Supremo não cometeria um ato de autoritarismo num momento tão importante como esse", comentou Rocha, que teve o nome envolvido no escândalo, renunciou ao mandato de deputado em 2005, para não ser cassado, e foi absolvido pelo Supremo no ano passado.
"Um outro julgamento é necessário para mostrar as contradições, a falta de provas e o uso indevido da teoria do domínio do fato", insistiu o deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, numa referência à teoria que define a responsabilidade do agente público pelo cargo ocupado, mesmo sem haver ato de ofício.