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Protestos param SP enquanto Dilma promete ouvir as ruas

Milhares de manifestantes ocuparam a Praça da Sé, no centro de São Paulo, em um protesto que reúne mais de 50 mil pessoas, segundo o instituto Datafolha

No início da noite, um grupo tentou invadir a sede da Prefeitura de São Paulo, o que levou à reação da Guarda Metropolitana (REUTERS/Alex Almeida)

No início da noite, um grupo tentou invadir a sede da Prefeitura de São Paulo, o que levou à reação da Guarda Metropolitana (REUTERS/Alex Almeida)

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Da Redação

Publicado em 18 de junho de 2013 às 22h45.

Rio de Janeiro - Ao menos 50 mil pessoas ocuparam o centro de São Paulo nesta terça-feira, enquanto a presidente Dilma Rousseff prometia ouvir os milhares de brasileiros que saem às ruas contra o aumento dos preços das passagens e os gastos astronômicos com a Copa do Mundo de 2014, entre outras reivindicações.

Milhares de manifestantes ocuparam a Praça da Sé, no centro de São Paulo, em um protesto que reúne mais de 50 mil pessoas, segundo o instituto Datafolha.

No início da noite, um grupo tentou invadir a sede da Prefeitura de São Paulo, o que levou à reação da Guarda Metropolitana.

As grades de proteção diante da prefeitura foram retiradas pelos manifestantes, que atiraram objetos contra os guardas municipais, que reagiram com gás de pimenta e bombas de efeito moral.

Diante do avanço dos manifestantes, os guardas municipais recuaram para dentro da prefeitura, enquanto integrantes do protestos se dividiam entre invadir ou não o prédio.

Após alguns incidentes, os próprios manifestantes recolocaram as grades de proteção diante da prefeitura e evitaram a invasão.

Ainda diante da prefeitura de São Paulo, no viaduto do Chá, manifestantes incendiaram uma van de retransmissão da TV Record e sacudiram uma caminhonete da Rede Globo.

Na Avenida Paulista, milhares de pessoas se manifestavam pacificamente agora a noite.

"Estou aqui porque quero reclamar por todo este dinheiro usado nos estádios. Quero educação, hospitais, e ao menos ter uma cidade mais limpa", disse à AFP a estudante Alina Castro, 18 anos, na Praça da Sé.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, aceitou rever o preço das passagens de ônibus na capital paulista, após uma reunião com integrantes do Movimento Passe Livre, que prometem manter a mobilização até a anulação efetiva do aumento, de R$ 3,00 para R$ 3,20.


"Meu governo está ouvindo essas vozes pela mudança. Meu governo está empenhado e comprometido com a transformação social", afirmou Dilma em um discurso no Palácio do Planalto, ao comentar o movimento que levou mais de 250 mil pessoas às ruas das principais cidades do país na véspera.

"Essas vozes das ruas precisam ser ouvidas", afirmou Dilma em um discurso no Palácio do Planalto.

"Esta mensagem direta das ruas é de repúdio à corrupção e ao uso indevido do dinheiro público. As vozes das ruas querem mais cidadania, melhores escolas, melhores hospitais, postos de saúde, direito à participação", acrescentou.

Dilma viajou a São Paulo nesta terça para se reunir com Haddad e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a redução do valor das passagens de ônibus na cidade de São Paulo.

Em São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, outra manifestação reuniu milhares de pessoas que caminharam até a prefeitura da cidade.

Porto Alegre, Recife e outras cidades anunciaram esta terça-feira reduções no preço do transporte público, após os protestos.

Em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, a passagem de ônibus será reduzida de R$ 3,05 a R$ 2,80 após a isenção de um imposto, anunciou o prefeito José Fortunati, citado pela imprensa brasileira.

Em Pelotas, também no sul, a redução das passagens foi de 15 centavos, para R$ 2,60.

Em Recife e região metropolitana a tarifa caiu 10 centavos, assim como em Cuiabá (Mato Grosso), e em João Pessoa (Paraíba).

Milhares de pessoas prometem voltar às ruas nas principais cidades brasileiras depois do maior protesto realizado em décadas no país, que terminou em caos e violência no Rio de Janeiro e surpreendeu o governo por sua dimensão e intensidade.

Desafiando a afirmação popular de que os brasileiros são acomodados e não protestam, cerca de 240.000 pessoas marcharam na noite de segunda-feira por mais de 10 cidades para denunciar o aumento das passagens de ônibus e os multimilionários gastos com a Copa do Mundo de 2014 e seu ensaio-geral, a Copa das Confederações.


Os protestos, em sua maioria pacíficos, terminaram, no entanto, com violência em várias cidades, principalmente no Rio. Os manifestantes foram dispersados pela polícia com gás lacrimogêneo e balas de borracha quando tiveram início cenas de vandalismo, destruição do bem público ou quando, em Belo Horizonte, os manifestantes tentaram se aproximar do estádio Mineirão, onde era disputada a partida Taiti-Nigéria.

Os manifestantes, em sua maioria jovens sem partido e de classe média, exigem, além da revogação do aumento do preço no transporte público, melhorias na qualidade deste serviço, assim como inúmeras outras reivindicações, como melhor educação e saúde pública e até o fim da corrupção.

Estes estão os maiores protestos no Brasil desde as manifestações contra a corrupção do governo de Fernando Collor de Mello em 1992, que renunciou durante seu julgamento político no Senado.

Novas manifestações estão convocadas para quinta-feira em várias cidades do país, incluindo o Rio de Janeiro, uma das seis cidades-sede da Copa das Confederações.

Os protestos poderão afetar a competição na quinta-feira, quando, no Rio, será disputada no Maracanã a partida Espanha-Taiti, e, em Salvador, Nigéria-Uruguai.

"O governo está preocupado", afirmou na véspera Gilberto Carvalho, chefe do gabinete de Dilma. "Que ninguém se precipite para tirar proveito político de um lado ou de outro", pediu.

Na véspera, Dilma já havia afirmado que "as manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia". "É próprio dos jovens se manifestar", afirmou no blog da Presidência.


Caos no Rio

A maior e mais violenta das manifestações de segunda-feira aconteceu no centro do Rio, onde algumas dezenas dos 100.000 manifestantes tentaram invadir a Assembleia Legislativa, atearam fogo em um carro e feriram e fizeram 20 policiais se entrincheirarem junto a outros colegas dentro do edifício, além de destruir bens públicos e saquear lojas vizinhas.

Ao menos dois manifestantes ficaram feridos no tiroteio travado durante os distúrbios.

O protesto terminou depois de seis horas, quando os 100 integrantes do Batalhão de Choque da polícia militar dispersaram os manifestantes violentos com gás lacrimogêneo e balas de borracha.

"O governo investiu dinheiro público na Copa ao invés de investir em educação, que é péssima. Estamos muito chateados com a Dilma, que está acabando com o país e, por isso, o povo está nas ruas", declarou à AFP uma das manifestante cariocas, Rosange Campos.

Em São Paulo, onde marcharam cerca de 65.000 manifestantes, um grupo tentou invadir o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, mas foi dispersado pela polícia.

Cenas parecidas se repetiram em Belo Horizonte e Porto Alegre, onde os manifestantes destruíram dezenas de lixeiras na principal avenida da cidade.

Segundo uma pesquisa do Datafolha publicada nesta terça-feira, 84% dos manifestantes em São Paulo declaram não ter preferência partidária. Além disso, 77% têm nível de educação superior e 22% são estudantes.

Em Brasília, mais de 5.000 manifestantes cercaram o Congresso Nacional e centenas deles, eufóricos, invadiram a rampa de acesso e conseguiram subir na cobertura, onde entoaram palavras de ordem, mas o protesto permaneceu pacífico.

Os protestos acontecem num momento de crescimento econômico pequeno e uma inflação em alta no país. Pesquisas recentes mostram pela primeira vez uma queda na aprovação do governo de Dilma, principalmente entre os mais jovens e os mais ricos.

Dilma foi vaiada no sábado passado, na estádio de Brasília, na abertura da Copa das Confederações, apesar de contar ainda com níveis de popularidade recordes e ser favorita para a reeleição em 2014.

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