Propina da Odebrecht pode ter beneficiado diretor de banco suíço
Bancos do país europeu, além de abrir contas com dinheiro de operações ilícitas, tiveram acesso ao servidor clandestino do setor de propinas da empreiteira
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de maio de 2017 às 14h08.
Genebra e Brasília - As propinas pagas pela Odebrecht beneficiaram até diretores de bancos suíços e levaram à reabertura de investigações no país europeu sobre o papel das instituições financeiras no esquema de corrupção na Petrobras revelado pela Operação Lava Jato, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.
Delações no Brasil e apurações na Suíça apontam que bancos no país europeu, além de abrir contas com dinheiro proveniente de operações ilícitas, tiveram acesso ao servidor clandestino do Setor de Operações Estruturadas - o departamento da propina.
O ex-executivo Fernando Migliaccio, em sua delação premiada firmada com o Ministério Público Federal (MPF) brasileiro, relatou a função de gerentes de contas secretas na Suíça.
Ele contou que funcionários das instituições financeiras esconderam o nome da construtora na abertura de contas e tinham o código de acesso ao servidor baseado no país europeu - o sistema Drousys. Nas transações dos recursos, os executivos dos bancos recebiam 1,5% sobre o valor movimentado.
Migliaccio foi preso na Suíça em fevereiro de 2016 quando tentava fechar contas bancárias e retirar pertences de uma instituição financeira, segundo autoridades do país europeu.
Ele voltou ao Brasil com a condição de colaboração com as investigações da Lava Jato. De acordo com o Ministério Público da Suíça, 42 bancos receberam depósitos suspeitos e mais de US$ 1 bilhão foram congelados em mais de mil contas.
Um dos bancos usados pela Odebrecht, segundo Migliaccio, foi o PKB. Um dos diretores da instituição recebeu comissões da construtora e consultou o sistema clandestino de e-mails da empreiteira.
O contato comercial, de acordo com o relator, era um "brasileiro, o qual ocupava provavelmente o cargo de diretor".
Por quatro anos, a Odebrecht operou quatro empresas offshores no PKB: Golac, Smith&Nash, Drumilan e Sherkson. Todas foram bloqueadas ou fechadas pelas autoridades suíças ou fechadas em 2015.
Segundo Migliaccio, a empresa jamais aparecia como beneficiária das contas. Ele contou, porém, que, "após a deflagração da Operação Lava Jato, alguma pessoa do banco inseriu a mão o nome da empresa Odebrecht, provavelmente por receio que houvesse alguma consequência mais grave".
No outro banco usado pela empreiteira na Suíça, o Pictet, havia três offshores responsáveis pela movimentação. "Mas, em 2015, o banco obrigou a Odebrecht a reconhecer que era a beneficiária das contas", disse Migliaccio.
Investigação
A agência reguladora dos bancos na Suíça - a Finma - confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que iniciou investigações sobre mais de 20 instituições, sem revelar nomes, diante das revelações da Lava Jato.
Parte dos bancos foi alvo de novas recomendações, com a agência sugerindo que o combate à lavagem de dinheiro fosse reforçado.
Em três casos, a Finma "constatou a falta de dispositivos para lutar contra a lavagem de dinheiro". Esses três bancos passaram a ser alvos de inquéritos.
Se condenados, os bancos podem receber multas milionárias. Também existe a possibilidade de que gerentes, de forma individual, sejam levados aos tribunais, com o risco de prisão.
Demissão
A reportagem apurou que o banco PKB já demitiu o diretor supostamente envolvido e indicou que medidas legais foram tomadas contra ele.
A mesma instituição, ainda nos casos envolvendo ex-diretores da Petrobras, havia tomado a iniciativa de informar às autoridades suíças os depósitos suspeitos. Segundo o banco, o caso é isolado e "um empregado violou regras internas".
A reportagem questionou o banco Pictet sobre o motivo pelo qual não pediu antes da Lava Jato que a Odebrecht fosse identificada.
"Em linha com nossa política, não comentamos investigações em curso, seja com a participação do Pictet ou não", informou a assessoria.