Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, participa de audiência pública (Leopoldo Silva/Agência Senado)
Alessandra Azevedo
Publicado em 13 de novembro de 2020 às 11h59.
O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, negou nesta sexta-feira, 13, que haja interferência política nas medidas tomadas pela agência. Em audiência pública na comissão mista do Congresso que acompanha medidas de combate à covid-19, ele afirmou que foi totalmente técnica a decisão de suspender os testes clínicos da vacina CoronaVac no Brasil, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Butantan.
Questionado sobre a possibilidade de ingerência do governo na decisão, que foi comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro, Barra Torres foi direto. “Interferência política na agência são duas palavras: não há”, disse. Segundo ele, a interrupção temporária dos estudos, na última segunda-feira, 9, foi puramente técnica, para verificar um “evento adverso grave" ocorrido: a morte de um dos voluntários, ainda em investigação. "Não houve nenhum outro motivo senão técnico para interrupção temporária dos testes”, reforçou.
Barra Torres disse que não comentaria nenhuma fala do presidente ou de governadores sobre o assunto. “Quanto a avaliações nossas que possamos fazer sobre posturas do governo, quer seja governo federal, quer seja estadual, não é atribuição da Anvisa fazê-lo”, afirmou. “Não faremos comentários a esse respeito, sobre o que tem este ou aquele governo declarado ou promulgado em relação a essa questão”, completou. Ele apontou que a condução da política nacional de imunização é responsabilidade do Ministério da Saúde e comentou que “certamente este ministério terá opiniões para fornecer”.
As perguntas sobre interferência política foram motivadas por declarações de Bolsonaro e pelas brigas recorrentes com Doria sobre a CoronaVac. O tucano defende a reserva com antecedência da vacina, enquanto o presidente já chegou a dizer que não aceitaria o produto chinês nem se tivesse registro da agência reguladora, mas depois voltou atrás.
Bolsonaro chegou a comemorar, nas redes sociais, quando a Anvisa suspendeu os testes. "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", escreveu.
Barra Torres, no entanto, garantiu que nenhuma decisão foi influenciada por declarações políticas. "Não podemos permitir a politização desses eventos. A agência tem se pautado buscando a total isonomia”, assegurou. Ele mencionou ter recebido na Anvisa políticos de vários partidos, mantendo “sempre a postura apartidária e apolítica da agência”. Entre as visitas recentes, citou Doria e diversos parlamentares.
Segundo o presidente da Anvisa, a suspensão “foi um evento de rotina”, que pode, inclusive, acontecer novamente. Os testes foram retomados na quarta-feira, 11, dois dias após a interrupção. Ele lembrou que as outras vacinas também sofreram pausas nos estudos, em momentos diferentes. “Não foi o primeiro e poderá não ser o último”, disse. Ele também explicou que o trabalho da agência não acaba quando o registro é concedido. Cabe à autarquia, segundo ele, fazer o acompanhamento de possíveis eventos adversos.
O diretor do Butantan, Dimas Covas, também participa da audiência pública. O instituto, que se dedica há meses aos estudos relacionados à CoronaVac, discordou da suspensão da vacina e afirmou ter sido pego de surpresa, já que o evento apontado não tem relação com os testes ou com a imunização. O diretor disse que soube da decisão por meio da imprensa.
"Os estudos prosseguem. Essa interrupção temporária não teve nenhum efeito sobre a condução dos estudos. Os efeitos maiores foram efeitos políticos decorrentes da forma como isso aconteceu, no momento em que isso aconteceu", comentou Dimas Covas, na audiência. Ele cobrou bom senso, "em favor da vida, porque os tempos de urgência necessitam".