Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (Geraldo Alckmin/Divulgação)
João Pedro Caleiro
Publicado em 13 de setembro de 2018 às 13h19.
Última atualização em 13 de setembro de 2018 às 16h18.
São Paulo – Em abril, Geraldo Alckmin (PSDB) deixou o cargo de governador de São Paulo com uma gestão avaliada como boa ou ótima por 36% dos paulistas, de acordo com o Datafolha.
Mas essa aprovação não se traduziu, pelo menos por enquanto, em uma situação confortável na corrida presidencial no estado que governou em quatro mandatos.
Alckmin está em segundo lugar e crescendo: desde a última pesquisa, em 20 de agosto, ele foi de 15% para 18%. Mas o movimento está dentro da margem de erro, que é de três pontos percentuais, e representa metade do seu nível de aprovação.
Christopher Garman, cientista político e diretor para as Américas da consultoria Eurasia, diz que não se pode olhar estes números isoladamente, porque na pesquisa de aprovação, não há comparação.
“Pode ter aí um eleitorado que tem uma aprovação leve do governador, mas está inquieto e insatisfeito. Quando apresentado a uma opção que representa uma mudança com tudo que está na política brasileira, como no caso do Bolsonaro, isso acaba tendo um apelo”, diz Garman.
Sérgio Praça, professor da FGV e colunista de EXAME, destaca que Bolsonaro começou sua campanha mais cedo, mas a esse ponto já não dá para dizer que há amplo desconhecimento de que Alckmin é candidato.
A questão chave seria mesmo a migração de votos históricos do PMDB e do PSDB para outras alternativas mais identificadas com a revolta política. Ao vetor esquerda e direita, tem se somado a diferenciação entre establishment e anti-establishment, e São Paulo não é exceção.
“Para quem está na capital não é tão claro, mas o estado é bem conservador e o Bolsonaro personifica isso, com a vantagem de não ter um partido tão corrupto. Ele junta honestidade, ou a aparência de honestidade, com segurança e autoridade, o que o PSDB significava até pouco tempo atrás”, diz Praça.
Alckmin sabe que sua melhor alternativa é roubar votos que foram para Bolsonaro, especialmente no Sul e no Sudeste.
Alguns sinais dessa estratégia foram a escolha da vice Ana Amélia, senadora pelo Rio Grande do Sul, e posições como a defesa de relaxamento das regras para o porte de arma em áreas rurais.
O que não faltam são recursos para tentar vender a mudança: Alckmin conseguiu atrair o cobiçado “centrão” e tem oito partidos aliados ao PSDB na sua coligação (PRB, PP, PTB, PR, PPS, DEM, PSD e Solidariedade).
Thiago Vidal, analista da consultoria Prospectiva, diz que no fundo, a eleição brasileira acontece em nível municipal.
Por isso, conta muito ter máquinas partidárias fortes e capilaridade regional, que permitem usar prefeitos alinhados para vender sua mensagem em lugares mais isolados.
Isso sem falar em tempo de televisão e rádio. Como ele é dividido com base nos tamanhos atuais das bancadas no Congresso, Alckmin garantiu praticamente metade do horário eleitoral para si. Mas há quem aponte que tempo de televisão não é mais a vantagem inequívoca que foi no passado:
"Vai ter tempo para expor, mas vai ter muita coisa reinterpretada pelas redes sociais. A televisão está gerando insumos para uma produção em massa de memes que pode ir contra o próprio candidato", diz Marco Aurelio Ruediger, diretor do FGV DAPP, que monitora os debates virtuais em tempo real.
De qualquer forma, as circunstâncias se complicaram para Alckmin com os últimos acontecimentos:
“A chance do Alckmin depende muito da capacidade de desconstrução do Bolsonaro, e essa tarefa ficou mais difícil com o atentado, que inibiu uma campanha negativa por pelo menos uma semana. Ele perdeu um tempo valioso”, diz Garman.
Nas pesquisas nacionais, Alckmin tem 9% no Ibope e 10% no Datafolha - abaixo numericamente, mas dentro da margem de erro, com Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).
Mas os analistas seguem apontando um alto potencial de crescimento de Fernando Haddad (PT), oficializado candidato nesta semana, diante da transferência de votos de Lula.