Alter do Chão: polícia argumentou que os brigadistas tinham "informações e imagens privilegiadas dos focos de incêndio" que despertaram suspeita (Brigada de Alter do Chão (PA)/Divulgação)
Reuters
Publicado em 27 de novembro de 2019 às 09h59.
Última atualização em 27 de novembro de 2019 às 10h17.
Brasília — A Polícia Civil do Pará prendeu na terça-feira brigadistas acusados de atear fogo intencionalmente na floresta amazônica, mas ativistas disseram que as prisões representam uma pressão do governo sobre grupos ambientalistas.
Os quatro brigadistas atuavam na região de Alter do Chão, no Pará, onde uma série de incêndios ocorreu no início do ano. A polícia disse que os incêndios criminosos visavam angariar doações aos bombeiros voluntários.
Realizar as prisões "foi um ato de agressão", disse o deputado federal Airton Faleiro (PT-PA) a repórteres em entrevista coletiva realizada por um grupo ambientalista em Brasília.
Faleiro disse que o governo está tentando atribuir os incêndios a organizações não governamentais ao invés de grileiros, que ambientalistas dizem ter iniciado as chamas para liberar terras virgens para a agricultura e a pecuária.
O número de incêndios na Amazônia brasileira disparou em agosto, provocando críticas globais segundo as quais o país não está fazendo o bastante para proteger a maior floresta tropical do mundo. A certa altura, o presidente Jair Bolsonaro insinuou que as ONGs tinham culpa pelos incêndios.
A Polícia Civil do Pará disse em um comunicado que prendeu os quatro membros da Brigada de Incêndio de Alter do Chão como medida preventiva em meio a uma investigação sobre as circunstâncias do ocorrido.
A polícia argumentou que os brigadistas tinham "informações e imagens privilegiadas dos focos de incêndio" que despertaram suspeita.
"Eles filmavam, publicavam e depois eram acionados pelo poder público a auxiliar no controle de um incêndio que eles mesmos causavam", disse o delegado José Humberto Melo Jr., titular da Diretoria de Polícia do Interior, no comunicado.
"Toda vez alegavam surpresa ao chegar no local, mas não havia outra possibilidade lógica".
Segundo a polícia, as imagens foram usadas para fraudar doadores, inclusive um que deu 300 mil reais ao grupo.
Não foi possível contatar os brigadistas e seu representante legal de imediato para obter comentários.
A polícia também realizou uma batida em uma ONG chamada Projeto Saúde e Alegria que está intimamente ligada aos esforços de prevenção de incêndios, informou.
O Greenpeace repudiou as prisões, dizendo representar "uma tentativa de criminalizar movimentos sociais e ONGs que trabalham para preservar a Amazônia".