PM que agrediu estudante durante ato em Goiânia é afastado
Augusto Sampaio foi filmado atingindo com cassetete Mateus Ferreira da Silva, de 33 anos, que sofreu traumatismo craniano e está internado em estado grave
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de maio de 2017 às 09h08.
Goiânia - A Polícia Militar de Goiás decidiu nesta segunda-feira, 1º, afastar das ruas o capitão Augusto Sampaio de Oliveira Neto.
Subcomandante da 37.ª Companhia Independente, ligada ao Comando do Policiamento de Goiânia , ele foi filmado atingindo com um cassetete Mateus Ferreira da Silva, de 33 anos, na dispersão da greve geral de sexta-feira passada. Silva sofreu traumatismo craniano e múltiplas fraturas e está internado em estado grave no hospital.
Após repercussão da ação da PM contra manifestantes, o capitão foi afastado do policiamento ostensivo e deve se dedicar a atividades administrativas.
A punição dura 30 dias, período em que será conduzido Inquérito Policial Militar sobre o caso. O prazo para a investigação ainda pode ser prorrogado por mais 15 dias, e depois o processo será encaminhado à Justiça. O Estado não conseguiu contato com Oliveira Neto.
O comandante-geral da corporação, coronel Divino Alves de Oliveira, classificou a ação como "incorreta". Disse também que a tropa usava material químico não letal. A restrição a atividades administrativas foi adotada porque não há punição que preveja afastamento total nessas circunstâncias.
Já o secretário de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, afirmou nas redes sociais que uma "intervenção nunca tem como objetivo ferir as pessoas, mas imobilizá-las e conduzi-las à autoridade encarregada do processo de responsabilização".
No protesto do dia 28, a repressão teve início após a dispersão dos organizadores e a permanência de um grupo de jovens estudantes, a maioria deles mascarados. Durante a manifestação, vidraças de pelo menos um banco foram quebradas no centro de Goiânia.
Não há imagens que liguem o estudante aos atos de vandalismo. Silva aparece apenas correndo no meio da multidão quando o militar corta o seu caminho e desfere o golpe. A pancada que o capitão desferiu contra o rapaz foi tão forte que arrancou a capa de borracha que encobre o cassetete.
Além desse episódio, circulam pelas redes sociais imagens de quatro PMs batendo em uma jovem caída no chão. O próprio capitão é flagrado empurrando manifestantes.
A reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde Silva estuda, condenou "atos de repressão contra o direito à livre manifestação". O Ministério Público goiano informou que vai acompanhar todas as investigações para individualizar eventuais desvios de conduta.
No hospital
Mateus Ferreira da Silva está sedado e entubado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgências de Goiânia. Ele sofreu traumatismo cranioencefálico e múltiplas fraturas.
Segundo o hospital, o estudante foi submetido ontem a uma cirurgia delicada na face, que durou cerca de quatro horas, e está com comprometimento renal e pulmonar.
De acordo com parentes, o estudante foi diagnosticado com pneumonia. Também estava previsto para começar ontem o tratamento de hemodiálise.
Na porta do hospital onde Silva está internado foi organizada uma vigília. Amigos e pessoas solidárias ao estudante chegaram a coletar dinheiro para ajudar a família - os pais e um casal de irmãos -, que veio de Osasco, na Grande São Paulo.
A "vaquinha virtual" por Silva já havia alcançado R$ 14 mil em doações na tarde de ontem, com contribuições vindas de diversos Estados.
Formado em Tecnologia de Informação, Silva mudou de área e se transferiu para Goiânia com o objetivo de cursar Ciências Sociais. Atualmente desempregado, tinha planos de tentar recursos com monitorias na universidade e tentar vaga em um mestrado.
O Diretório Central de Estudantes da UFG convocou para amanhã uma paralisação de alunos em protesto contra a violência policial no Estado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.