PGR defende que suposto espião russo continue preso no Brasil
Sergey Vladimirovich Cherkasov deseja ser enviado para cumprir pena na Rússia
Agência de notícias
Publicado em 24 de fevereiro de 2024 às 17h11.
A Procuradoria-Geral da República ( PGR ) defendeu que Sergey Vladimirovich Cherkasov, russo suspeito de atuar como espião no Brasil, continue preso preventivamente. A defesa havia solicitado que ele fosse solto ou enviado para cumprir pena na Rússia.
Cherkasov está preso na Penitenciária Federal de Brasília, onde cumpre pena de cinco anos e dois meses por uso de documento falso. Ele também foi indiciado pela Polícia Federal (PF) por lavagem de dinheiro e associação criminosa.
No ano passado, o ministro Edson Fachin, do STF, homologou uma declaração de entrega voluntária apresentada por Cherkasov. Essa declaração ocorre quando o alvo de um pedido de extradição concorda em se entregar voluntariamente ao país requerente — neste caso, a Rússia.
Entretanto, a decisão de Fachin ressaltou que a extradição só poderá ocorrer quando forem encerradas as investigações contra o russo que tramitam na Justiça brasileira. Por isso, ele continua no país.
A PGR ressaltou que Cherkasov responde no Brasil a outros processos, inclusive o inquérito que investiga a possível espionagem, e por isso ainda não pode ser extraditado. Em relação ao pedido de liberdade, o órgão considerou que a prisão é necessária para permitir a futura extradição.
Cherkasov está sendo representado pela Defensoria Pública, que argumenta que a pena a qual ele foi condenado deveria ser cumprida no regime semiaberto. Além disso, aponta que os demais processos "podem levar muitos anos para serem concluídas", inclusive com a chance de absolvição, e que ele não pode ser mantido "por tempo indeterminado aguardando-se tais desdobramentos".
Governo russo nega espionagem
Cherkasov criou uma identidade brasileira falsa há mais de dez anos, em nome de Victor Müller Ferreira. Com esse documento, ele estudou na Irlanda e nos Estados Unidos e tentou entrar na Holanda para trabalhar no Tribunal Penal Internacional, em Haia, que julga crimes de guerra. Para a PF, o objetivo dele era obter informações sensíveis para a Rússia, que está em guerra com a Ucrânia.
A descoberta da farsa ocorreu na tentativa de entrar na Holanda, em abril de 2022. Enviado de volta ao aeroporto de Guarulhos, o estrangeiro foi preso e processado na Justiça Federal em São Paulo por uso de documento falso. Logo após sua condenação em primeira instância, em junho de 2022, a Rússia pediu a extradição do suposto espião.
As autoridades russas sustentaram que Cherkasov não era um espião, mas sim um traficante ligado a um grupo criminoso, liderado por um cidadão do Tadjiquistão, que fornecia heroína da região de Moscou para Lipetsk. O governo de Vladmir Putin pede a sua extradição para que cumpra a pena na Rússia.
Como mostrou O GLOBO, porém, a PF identificou indícios que o russo contava com uma rede de apoio no Brasil que tinha a participação de um funcionário da diplomacia russo. Esse agente diplomático também foi indiciado pela PF. As investigações apontam que o estrangeiro recebeu em sua conta depósitos mensais feitos em uma agência bancária do Rio pelo servidor da Embaixada da Rússia.
Espião russo foi descoberto em abril de 2022
O espião russo foi descoberto em abril de 2022, quando tentava entrar com o passaporte brasileiro falso em Amsterdã, na Holanda, para fazer um estágio no Tribunal Internacional de Haia. O governo holandês o mandou de volta ao Brasil.
Em audiência, pediu para ser extraditado. O governo russo formalizou um requerimento para que ele responda, no país, a supostas acusações de tráfico de drogas. A reportagem do "Fantástico" informou que o suposto espião recebeu visitas de representantes russos na cadeia.
Os Estados Unidos também têm interesse no caso, porque Sergey Cherkasov fez mestrado em relações internacionais, entre 2018 e 2020, na Universidade Johns Hopkins, em Washington, o que coloca o Brasil no centro de uma crise diplomática.
A decisão da Justiça sobre o destino de Cherkasov só deve ser tomada depois que a Polícia Federal concluir a investigação sobre as suspeitas de espionagem no Brasil.