PF pede prisão preventiva do ex-governador de Goiás, mas Justiça nega
Operação Decantação investiga desvios milionários da Companhia Saneamento de Goiás (Saneago)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de março de 2019 às 09h47.
Última atualização em 29 de março de 2019 às 09h48.
São Paulo - A Polícia Federal (PF) chegou a pedir à Justiça a prisão do ex-governador deGoiásJosé Eliton (PSDB) no âmbito da Operação Decantação, investigação sobre desvios milionários da Companhia Saneamento de Goiás (Saneago). A Justiça autorizou apenas buscas contra o tucano, que também foi vice do ex-governador Marconi Perillo (PSDB).
A Decantação, deflagrada nesta quinta-feira, 28, identificou planilhas de voos em material apreendido na empresa Terra Forte Construtora, controlada por Carlos Eduardo Pereira da Costa. Os dados apontaram que a aeronave PR-FKY da empresa Sanefer, também controlada pelo executivo, foi usada entre 2012 e 2014 pelo então vice-governador e secretário de Segurança Pública, José Eliton, e pelo chefe de gabinete Luiz Alberto de Oliveira.
"O dinheiro repassado por José Eliton diretamente da SSP/GO para pagamento das empresas de Carlos Eduardo retornaram ao primeiro, a título de propina, através de doações eleitorais para campanha do PSDB e de Marconi Perillo, inclusive na forma de empréstimo da aeronave", destacou o juiz Rafael Ângelo Slomp, da 11.ª Vara Federal de Goiânia.
Segundo a investigação, Luiz Alberto de Oliveira "era o responsável por agendar reuniões entre Carlos Eduardo e José Eliton para liberação de recursos da SSP/GO à Saneago".
A Decantação destaca que os recursos eram transferidos imediatamente à Sanefer pela estatal, "possivelmente por determinação de José Eliton. Posteriormente, parte do referido valor seria repassada a Luiz Alberto via cessões de crédito", narra o magistrado.
Rafael Ângelo Slomp pontua que o empresário Carlos Eduardo Pereira da Costa doou, pessoalmente, e por meio de suas empresas Hidrobombas, Sanefer e Terra Forte, "recursos para campanhas eleitorais nos anos de 2008 a 2014, totalizando o montante de R$ 3,878 milhões".
Deste total, R$ 440 mil foram transferidos pela Sanefer à campanha de Marconi Perillo ao Governo de Goiás em 2014, de quem José Eliton era vice.
O Ministério Público Federal foi contrário ao pedido de prisão de Eliton. Segundo o procurador da República Hélio Telho, "embora haja fundadas suspeitas de que integre a organização criminosa e tenha efetivamente agido para beneficiar a empresa Sanefer possivelmente em troca de propina, a deflagração desta operação só será realizada no início de 2019, por questões de logística e de impossibilidade técnica".
"As informações até então obtidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal demonstram que José Eliton praticou os crimes que ora lhe são imputados na qualidade de vice-governador, cargo que lhe conferia amplos poderes e possibilidade de ingerência no Governo do Estado. Governador desde abril de 2018, o investigado permanecerá no cargo somente até 31 de dezembro deste ano. Assim, a decretação de sua prisão preventiva em 2019 não se mostra oportuna, uma vez que o investigado já não exercerá função política no governo", argumentou a Procuradoria da República.
"Diferentemente de Robson Borges Salazar, que se mantém junto à Saneago, José Eliton não exercerá, ao menos a princípio, função pública que lhe possibilite continuar atuando na organização/associação criminosa. Acrescenta-se que as provas coligidas aos autos até o presente momento não demonstram satisfatoriamente a participação de José Eliton na prática de lavagem de capitais. Os relatórios de análise de material apreendido e as informações policiais indicam, na realidade, que houve pagamentos irregulares, quiçá superfaturados, à empresa Sanefer, possivelmente em troca de propina, na forma de doação eleitoral."
O juiz decretou a prisão temporária de Luiz Alberto de Oliveira, Gisella Silva de Oliveira Albuquerque, Carlos Eduardo Pereira da Costa, Nilvane Tomás de Sousa Costa e Robson Borges Salazar por cinco dias.
Defesa
A reportagem está tentando localizar a defesa do ex-governador de Goiás José Eliton. O espaço está aberto para manifestação.