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Petrobras: União tenta emplacar nomes já rejeitados para conselho

Dos oito nomes, a tendência é que seis venham da União e outros dois dos acionistas minoritários

Petrobras (PETR3) paga segunda parcela de megadividendo nesta terçaThe target of the lawsuit are losses recorded on the Bovespa and other markets, such as Latibex in Madrid, in addition to some bonds issued in foreign currencies by the subsidiary Petrobras Global Finance. (Photo by Diego Herculano/NurPhoto via Getty Images) (Nur Photo/Getty Images)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de agosto de 2022 às 13h01.

Última atualização em 19 de agosto de 2022 às 13h34.

A Petrobras promove nesta sexta-feira, a partir das 13 horas (de Brasília), Assembleia Geral Extraordinária de acionistas (AGE) para eleger oito conselheiros para o órgão de 11 cadeiras, e escolher um novo "chairman", o presidente do conselho. Desses oito nomes, a tendência é que seis venham da União e outros dois dos acionistas minoritários.

A tendência é que o governo federal insista nos dois nomes considerados inelegíveis ao conselho de administração (CA) da Petrobras e reforme, na assembleia de acionistas, todas as seis cadeiras da União no colegiado, segundo apurou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. São eles o secretário executivo da Casa Civil, Jônathas de Castro, e do procurador-geral da Fazenda Nacional, Ricardo Soriano.

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Segundo fontes próximas do assunto e especialistas em governança a posição será questionada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e na Justiça, mas deve prevalecer. Alguns falam em fratura anunciada na governança da Petrobras, por mais que as estruturas internas da empresa e o atual conselho tenham sido diligentes na reprovação dos nomes vedados por lei ao CA.

Para o Comitê de Elegibilidade (Celeg) e os atuais conselheiros, a indicação de Castro e Soriano guarda conflito de interesse insuperável. Castro porque atuaria concomitantemente em pasta que participa de discussões sobre o preço dos combustíveis, e Soriano por integrar a alta administração da Fazenda, parte em litígios de natureza fiscal com a Petrobras que somam quase R$ 110 bilhões.

Histórico da polêmica

Até meados de julho, o mercado encarava o rito da AGE da Petrobras como pró-forma e sem polêmicas, porque o maior fator de instabilidade, a troca do comando executivo, já tinha sido concluída, por pressão do governo, no fim de junho, com a posse de Caio Paes de Andrade.

No entanto, o Celeg da companhia, órgão consultivo, reprovou, entre oito indicações, os nomes de Castro e Soriano. Essa decisão foi acolhida dias depois pelo conselho e só os seis nomes aprovados indicados pela União constavam inicialmente no edital da assembleia.

Em termos numéricos, a União não sairia prejudicada, mas teria de reconduzir dois conselheiros, os engenheiros Ruy Schneider e Marcio Weber, este o atual chairman.

Nos bastidores do governo, porém, ambos são considerados mais técnicos e indicações da gestão anterior do Ministério de Minas e Energia (MME), de Bento Albuquerque, e não do atual ministro Adolfo Sachsida e Paes de Andrade, egressos da Economia e ligados ao ministro Paulo Guedes ou ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP).

O governo pretende formar maioria ainda mais alinhada com o Planalto e Paes de Andrade para dar sustentação à nova gestão e, além de, dizem fontes, abrir espaço para indicações políticas na estatal.

Há menos de dois meses da eleição, seria conforto ainda maior para o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que já viu Paes de Andrade promover três reduções no preço da gasolina e duas no diesel nos últimos 30 dias, reajustes facilitados pelo recuo na cotação internacional do petróleo e parcialmente pelo câmbio.

Por isso o governo questionou a reprovação dos nomes de Castro e Soriano e informou, em 21 de julho, que reenviaria os nomes reprovados à Petrobras, abrindo flanco para novas críticas sobre intervenção do governo na condução da empresa. Finalmente, em 11 e 15 de agosto, a poucos dias da AGE, a Petrobras incluiu no edital da AGE dois fatos relevantes ratificando a indicação desses nomes a serem submetidos aos acionistas.

Ainda não está claro se eles estão aptos a receber votos ou se o governo terá de apresentá-los formalmente durante a AGE. Para a votação antecipada, que foca acionistas minoritários no exterior os nomes não apareciam como opção.

Fontes reiteram que Schneider e Weber não devem ser reconduzidos. Suas indicações teriam sido protocolares, apenas para completar a lista de oito nomes, e em deferência ao trabalho realizado. Schneider, por exemplo, presidiu o conselho da Eletrobras durante todo o processo de privatização da empresa um dos objetivos centrais do governo Bolsonaro.

Com isso, o governo deve concentrar os votos da União nos outros seis nomes da chapa: o advogado Gileno Barreto, também indicado à presidência do CA; o atual presidente Caio Paes de Andrade, que precisa ser ratificado como conselheiro; o advogado Edison Garcia; a procuradora da Fazenda Iêda Cagni; além dos questionados Ricardo Soriano e Jônathas de Castro.

Acionistas minoritários já haviam indicado o advogado Marcelo Gasparino e o empresário Juca Abdalla, que devem ser reeleitos para o CA. E os outros três membros do colegiado, os advogados representantes dos minoritários Francisco Petros e Marcelo Mesquita, além da representante dos empregados, a geofísica Rosângela Buzanelli, permanecem por terem sido eleitos por fora do voto múltiplo.

Conselho sem engenheiros e na mira da CVM

Se confirmada essa composição, o novo conselho da petroleira não terá nenhum engenheiro e somente Buzanelli terá formação e currículo próximo com a atividade fim da empresa. O fato não implica ilegalidade, mas causa espécie ao corpo técnico da companhia e, inclusive, a parte do CA atual.

Na visão do especialista em governança, Renato Chaves, a União vai conseguir eleger os dois nomes, mas isso será seguido de questionamentos de entidades e acionistas na CVM e depois na Justiça.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobras (Anapetro) são duas entidades que se preparam para judicializar a questão. Ambas já pediram a suspensão da AGE à CVM, mas a autarquia negou. A FUP informou ao Broadcast que, se o governo insistir nas indicações, será requisitada reconsideração no julgamento da CVM.

Segundo a própria Petrobras, a CVM informou que o pleito possuía "vícios e carências formais", mas a análise não apreciava o mérito da inelegibilidade dos candidatos. Anteriormente consultada pela empresa sobre as indicações, a CVM disse ver "com estranheza" a iniciativa do governo, o que tem sido interpretado pelo mercado como um indicativo de que pode ser aberto processo para apurar o caso.

Para o sócio do escritório Junqueira e Advogados, Jonathan Mazon ainda não está claro se o governo vai insistir na aprovação dos nomes descartados pela governança da Petrobras, o que seria "surpresa desagradável".

Ele argumenta que os currículos de Castro e Soriano não constam no manual da AGE, mas admite que o governo, enquanto controlador da empresa, pode sim tentar emplacá-los de última hora. "É estranho se deixarem para o último momento a apresentação desses nomes. Não condiz com a governança de uma empresa do porte da Petrobras."

Em sua visão, a manobra "pegaria muito mal no mercado" e pode ser contestada por grandes acionistas minoritários na própria AGE, conturbando o rito.

A última assembleia de acionistas da Petrobras durou cerca de sete horas. Embora tenha pauta mais enxuta, a AGE desta sexta-feira tem ingredientes suficientes para repetir a dose.

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