Óleo: pesquisador da Ufal diz ter localizado mancha que pode explicar origem de petróleo nas praias (Teresa Maia/Reuters)
Reuters
Publicado em 30 de outubro de 2019 às 12h17.
Última atualização em 31 de outubro de 2019 às 08h31.
Rio de Janeiro — As manchas de petróleo que atingem o litoral do Nordeste brasileiro desde setembro podem ter origem em um grande vazamento abaixo da superfície do mar, afirmou um pesquisador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), vinculado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), após três semanas de processamento de dados.
O pesquisador Humberto Barbosa, do Lapis, identificou um "enorme vazamento de óleo, em formato de meia lua, com 55 quilômetros de extensão e seis quilômetros de largura, a uma distância de 54 quilômetros da costa do Nordeste", localizado no sul da Bahia, de acordo com comunicado publicado nesta quarta-feira no site da instituição.
As medidas da mancha citadas no estudo compreendem uma área com tamanho semelhante à da cidade de Fortaleza.
Segundo o Lapis, foi identificado um padrão característico de manchas de óleo no oceano que pode explicar a origem da poluição que atingiu o litoral do Nordeste, com base em imagens do satélite Sentinel-1A, da Agência Espacial Europeia (ESA). O laboratório disponibilizou reproduções das imagens em sua página na internet.
"Ontem tivemos um grande impacto, pois pela primeira vez, encontramos um assinatura espacial diferenciada. Ela mostra que a origem do vazamento pode estar ocorrendo abaixo da superfície do mar. Com isso, levantamos a hipótese de que a poluição pode ter sido causada por um grande vazamento em minas de petróleo ou, pela sua localização, pode ter ocorrido até mesmo na região do Pré-Sal", disse Barbosa no comunicado do laboratório.
A Marinha disse que a mancha que estaria avançando pelo mar da Bahia não é de óleo, segundo informação do site de notícias G1. A Reuters procurou um representante da Marinha, mas não foi possível falar imediatamente.
As manchas de óleo foram identificadas inicialmente no início de setembro, e já atingiram praias ao longo de mais de 2.000 quilômetros desde então.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e a Petrobras, o óleo encontrado nas praias brasileiras é venezuelano, e o governo investiga se navios que passaram pelo litoral brasileiro seriam responsáveis pelo incidente.
"É como a montagem de um quebra-cabeça, com peças muito dispersas, que são as manchas muito espalhadas pelas correntezas no Litoral do Nordeste do Brasil, principalmente nas faixas costeiras. De repente, você encontra uma peça-chave, mais lógica, foi o que ocorreu ontem ao encontrar essa imagem. Foi a primeira vez que observamos, para esse caso, uma imagem de satélite que detectou uma faixa da mancha de óleo original, ainda não fragmentada e ainda não carregada pelas correntezas", disse Barbosa.
A causa mais provável das manchas de óleo que têm atingido o litoral do Nordeste brasileiro é um derrame provocado por alguma embarcação que navegava pela costa do país, e não há indicação de vazamento no fundo do oceano, afirmou o comandante da Marinha, Ilques Barbosa Junior.
Segundo o comandante, uma "exsudação de petróleo no fundo do mar é incompatível pelas bacias que temos na nossa área".
"De imediato, nós tivemos a confirmação de que o óleo não era brasileiro. Isso confirmou: não há exsudação de fundo de oceano, não há problema de plataforma ou terminais nossos ou dos nossos navios", acrescentou o comandante em entrevista à Globonews.
O comandante acrescentou que atualmente as investigações se concentram em dez navios suspeitos de terem provocado o derramamento.
"O que nós consideramos como mais provável é um derrame, acidental ou não, de um navio mercante que esteja em trânsito em nossas costas", afirmou.
"A Polícia Federal, em conjunto com a Marinha do Brasil está atuando firmemente, e nós temos certeza absoluta e convicção de que chegaremos a uma indicação correta do causador dessa tragédia", acrescentou.