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Para FHC, Brasil vive momento sem regras e precisa de ordem

Para o ex-presidente, a situação de Temer é "embaraçosa", mas que as transições da conversa Joesley Batista, da JBS, não são "taxativas"

FHC: o tucano salientou que o presidente deve ter o direito de defesa respeitado, como qualquer outra pessoa (foto/Divulgação)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 22 de maio de 2017 às 08h37.

São Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acredita que o Brasil vive um "momento de anomia" - estado que se caracteriza pela ausência de regras - e que é preciso "botar ordem na casa".

"Há falta de sentido de organização e autoridade. Em toda a parte", disse o tucano em entrevista ao programa Canal Livre, da Band, transmitida no início da madrugada desta segunda-feira (22).

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"De repente o Ministério Público autoriza que um empresário ponha um microfone para pegar um presidente da República. Não é uma coisa banal. Por outro lado você ouve as delações, algumas conversas são impublicáveis. Por outro lado tem um ministro (do STF, Edson Fachin) que suspende um senador (Aécio Neves, PSDB-MG). Não estou julgando, mas estou dando elementos para dizer que está faltando ordem na casa."

Questionado sobre o que faria se estivesse no lugar do presidente Michel Temer, FHC disse que "a essa altura, eu estaria considerando o futuro do Brasil e pensando bem: será que eu tenho condições de governar?".

Na sequência, o tucano foi perguntado quanto tempo levaria para fazer essa reflexão. "Não muito. As coisas vão variar com muita velocidade, vão se mover com muita rapidez, eu acho. Sem julgar, mas em termos das condições do Brasil, estamos passando por um momento de... Vou falar em sociologuês, mas é simples... De anomia."

FHC afirmou ainda que a situação de Temer é "embaraçosa", mas que as transições da conversa que o presidente teve, em março, no Palácio do Jaburu, com o empresário Joesley Batista, da JBS, não são "taxativas".

"Acho que o presidente Temer foi sincero quando ele falou (nos dois pronunciamentos que deu após o estouro da crise), mas não explica tudo."

O tucano salientou que o presidente deve ter o direito de defesa respeitado, como qualquer outra pessoa, para que apresente suas explicações sobre o caso.

"Se ficar evidenciado que ele não tem defesa aceitável (...), aí ele tem obrigação moral de renunciar pra abrir espaço pra construir um futuro."

Sobre a reação do PSDB às denúncias, o tucano disse que, a princípio, houve um movimento em direção à ruptura com a gestão Temer.

"O PSDB achou que tinha que desembarcar como se não tivesse nada com o governo. Ele (o partido) tem. Seria oportunismo sair correndo", disse FHC.

"O PSDB tem responsabilidade. Não cabia, a meu ver, dar uma punhalada nas costas do presidente naquele momento. Não estava nada claro."

A posição do partido, segundo o ex-presidente, é de cautela. Isso não significa, no entanto, que não poderá haver uma mudança de pensamento que resulte no desembarque do governo - o PSDB controla quatro ministérios.

FHC elogiou a postura do senador Aécio Neves de deixar o comando do PSDB assim que as denúncias contra ele foram reveladas, mas disse que o mineiro "foi realmente alvejado de uma maneira grave" ao aparecer em uma gravação pedindo R$ 2 milhões para o empresário Joesley Batista.

"(Aécio) agiu como tinha que agir. Não esperou que os outros tomassem a dianteira. Conheço bem o Aécio, mas fatos são fatos. Ele ficou inviabilizado (para exercer a presidência do PSDB) até poder esclarecer (as denúncias)."

Na entrevista ao Canal Livre, o ex-presidente falou ainda sobre o que chamou de "crise da democracia representativa", o aparecimento de "outsiders" no cenário político (como Donald Trump nos EUA e Emmanuel Macron na França), a importância das redes sociais nas eleições e preconizou a criação das candidaturas independentes no País.

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