Ministros: é comum que em começos de governo, os novos membros sejam confrontados sobre a veracidade das informações (Agência Brasil/AFP/Agência Brasil/Reuters/Exame)
Clara Cerioni
Publicado em 22 de maio de 2019 às 18h34.
Última atualização em 29 de junho de 2020 às 22h40.
No Brasil, mentir no currículo é algo praticado por cerca de 7 em cada 10 profissionais, de acordo com um levantamento da empresa DNA Outplacement. Políticos e figuras públicas, que não deveriam se surpreender de ter suas vidas vasculhadas, também não hesitam em florear suas experiências pregressas.
Desde a semana passada, as experiências profissionais do novo ministro da Educação do governo Bolsonaro, o professor Carlos Alberto Decotelli, vêm sendo colocadas à prova.
Logo após o anúncio do presidente sobre a sua escolha para substituir Abraham Weintraub, o título de doutor pela Universidade Nacional de Rosário na Argentina foi desmentido pelo reitor da universidade. Sua formação de pós-doutorado pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha, também não foi confirmada.
A prática atravessa campos políticos. Um exemplo clássico é o da ex-presidente Dilma Rousseff, que colocava no currículo os títulos de mestre e doutora em economia pela Unicamp. Na verdade, ela havia concluído os créditos mas não tinha nenhum dos diplomas por não ter defendido tese. A revelação veio à tona pela Revista Piauí, em 2009.
É comum os novos membros de governos sejam confrontados sobre a veracidade das informações dos seus currículos. Nesta vez, foi a vez dos ministros de Bolsonaro. Desde o início do governo, em 2019, todos os nomes que passaram pelo MEC tiveram inconsistências apontadas em seus currículos.
Na semana passada, o reitor da Universidade Nacional de Rosário na Argentina, Franco Bartolacci, usou sua conta oficial do Twitter para desmentir o título de doutor do novo chefe do MEC na faculdade argentina. A informação estava em seu currículo lattes, que posteriormente foi editado.
Também constava no currículo de Decotelli que ele havia pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha. No entanto, a instituição informou à EXAME que ele não esteve na universidade por todo o período que consta em seu currículo e não cumpriu os requisitos necessários para a titulação de pós-doutor.
Há ainda, a denúncia de plágio em pelo menos quatro trechos da dissertação de mestrados e em textos acadêmicos assinados pelo novo chefe do MEC. Todos os trabalhos foram entregues na Fundação Getulio Vargas, que já anunciou uma apuração para verificar se houve cópia.
De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o atual ministro da Educação também traz inconsistências em seu currículo.
Em relação a sua produção, foram encontrados dois artigos idênticos publicados em periódicos diferentes que exigem ineditismo do material - prática conhecida no meio acadêmico como autoplágio.
Antes de ser demitido do Ministério da Educação, o professor Ricardo Vélez Rodriguez errou 22 vezes em seu currículo Lattes, como apontou o site Nexo.
As inconsistências são repetidas inúmeras vezes, como "esquecer" de acrescentar coautores de seus textos, como por exemplo ter citado como de sua autoria única o livro “Formação e Perspectivas da Social-democracia".
O título, no entanto, foi organizado pelo diplomata Carlos Henrique Cardim, docente do Instituto Rio Branco. O ministro decidiu na ocasião não se pronunciar sobre as revelações.
Em janeiro de 2019, uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, não era "mestre em educação” e “em direito constitucional e direito da família”, como afirmava em seus discursos.
Na ocasião, ela afirmou que seu título tem a ver com o ensino bíblico. “Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico".
Em fevereiro do ano passado, foi a vez do site Intercept Brasil revelar que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não é mestre em direito público pela Universidade Yale, título atribuído a ele há anos em seus artigos.
O veículo entrou em contato com a instituição, que negou a existência de registro de frequência do ministro. Após a reportagem, Salles disse em seu Twitter que “a informação de 2012 foi veiculada erroneamente por um equívoco da assessoria".
A informação de 2012 foi veiculada erroneamente, por um equívoco da assessoria. De qualquer modo, desde então, vem sendo sempre corrigida, exatamente como bem relatou o Roda Viva em sua nota.
— Ricardo Salles (@rsallesmma) February 24, 2019