Os bastidores da eleição de 2014 na versão de Mônica Moura
Segundo a delatora, o primeiro turno da campanha custou R$ 70 milhões, sendo que R$ 20 milhões teriam sido pagos “por fora” pela Odebrecht
Valéria Bretas
Publicado em 13 de maio de 2017 às 15h33.
Última atualização em 15 de maio de 2017 às 10h45.
São Paulo - Na última sexta-feira (12), o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou vídeos dos depoimentos de João Santana e Mônica Moura, os marqueteiros que fizeram as campanhas presidenciais de Lula (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014).
O casal foi preso preventivamente como resultado das investigações da Lava Jato e fechou recentemente um acordo de delação premiada com a força-tarefa da operação.
Segundo a delatora, o primeiro turno da campanha eleitoral de 2014, que reconduziu Dilma ao Planalto, teria custado R$ 70 milhões. Desse total, R$ 20 milhões teriam sido pagos “por fora” - ou via caixa 2- pela Odebrecht .
No segundo turno, o valor fechado teria sido de R$ 35 milhões -- sendo R$ 15 milhões “por fora”. As negociações dos valores teriam sido feitas por Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda de Dilma.
De acordo com Mônica, Dilma teria garantido que ela própria cuidaria dos pagamentos ao casal. A decisão veio em resposta à uma suposta dívida pela campanha de 2010, que a petista não queria que se repetisse.
“Não quero o PT em nada, não quero o Vaccari [ex-tesoureiro do PT] em nada porque eu não confio nele”, teria afirmado a ex-presidente, segundo o depoimento da empresária.
A marqueteira diz que a empreiteira pagou R$ 10 milhões em espécie e que os outros R$ 25 milhões seriam pagos em 2015 na conta Shelbill, mantida pelo casal na Suíça. Como a Lava Jato já estava em operação, a Odebrecht teve receio e não fez o depósito do valor restante.
"Eu só recebi R$ 80 milhões dos R$ 105 que foram cobrados", diz Mônica Moura.
Após o atraso no pagamento, Mônica diz que procurou Dilma, mas parou de cobrar o valor quando Marcelo Odebrecht foi preso na 14ª fase da Lava Jato, em junho de 2015.
Lula queria ser o candidato
A publicitária também relatou à Procuradoria Geral da República (PGR) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva queria ser o candidato oficial do PT na corrida eleitoral de 2014, mas que Dilma não teria aceitado.
"Em 2014, houve um certo estremecimento entre o Lula e a Dilma, acho que isso é do conhecimento de todos. Os jornais especulavam bastante na época. Eles negavam, mas é verdade. Porque o Lula queria ser o candidato. Aí a Dilma não aceitou. Ela queria a reeleição dela", disse Mônica Moura em seu depoimento.
"Ela se sentia forte. 'Por que que eu não vou?'. Isso era a conversa dela [Dilma] com o João [Santana]. Eu nunca tive esse tipo de conversa com a Dilma, depois é o que João me contava", disse.
Apesar disso, Lula continuou dando suporte à petista. Segundo ela, o ex-presidente não se envolveu com os pagamentos da campanha de 2014.
Veja um trecho do depoimento de Mônica Moura.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=Aaj46OIA3qI%5D
Este vídeo foi divulgado no canal do Estadão do Youtube.