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Orçamento secreto: decisões do STF beneficiam Lula. Como se comportarão os parlamentares?

Decisões do Supremo auxiliam Lula a cumprir promessa de campanha sobre o Bolsa Família. O fim do orçamento secreto, porém, apresentará a necessidade de outro instrumento para compor maioria a partir de 2023

Diplomação de posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e do vice, Geraldo Alckmin, na sede do TSE com presidentes dos outros Poderes (Fabio Rodrigues Pozzonbom/Agência Brasil)
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Luciano Pádua

Publicado em 19 de dezembro de 2022 às 12h34.

O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou nesta segunda-feira, 19, que as emendas de relator, conhecidas como orçamento secreto, são inconstitucionais. A decisão beneficia o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que disporá de mais instrumentos para compor a governabilidade em seu mandato. O maior derrotado é o grupo de parlamentares que comanda o Congresso, que perde sua principal ferramenta para composição de maioria em votações.

O presságio para a decisão do plenário do Supremo veio ainda na madrugada de domingo, quando o ministro Gilmar Mendes -- que será o último a votar no caso do orçamento secreto -- tomou outra decisão, envolvendo retirar o Bolsa Família do teto de gastos. A questão é o "nó górgio" da truncada negociação entre Lula e Lira a respeito da PEC da Transição, que permitiria ao governo gastar bilhões de reais fora do teto.

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Qualquer governo, hoje, tem receio de gastar acima do teto de gastos sem respaldo de outros órgãos -- como o Tribunal de Contas da União e o STF. O temor é o argumento de irresponsabilidade fiscal e a abertura de caminho para um processo de impeachment, um trâmite que cabe ao presidente da Câmara. A decisão de Gilmar, na madrugada, traz algum respaldo -- e principalmente sinalização política -- de que o próximo governo pode tentar outras soluções para o orçamento sem precisar da PEC de Transição. De bate pronto: o governo poderia abrir créditos extraordinários via medida provisória para garantir o pagamento do novo Bolsa Família.

A decisão de Gilmar Mendes, vale lembrar, precisará passar por análise dos outros ministros -- processo conhecido como referendo. Mas, como o Supremo entrará em recesso na terça-feira, 20, ela seguirá válida até fevereiro, quando os ministros retornarão. Na prática, fica aberto o caminho para Lula conseguir cumprir sua principal promessa de campanha, a de elevar o Bolsa Família para 600 reais.

Lula tem vitória. Como reagirá o Congresso?

A decisão do STF nesta manhã acaba por atropelar os esforços do Congresso, que passou um projeto de resolução na sexta-feira para institucionalizar o orçamento secreto a partir de regras mais claras de transparência e impessoalidade -- princípios constitucionais que os ministros do Supremo julgaram não ser observados no atual modelo de repasse das emendas de relator.

Como mostrou EXAME em sua edição de novembro, trata-se de um vultoso instrumento para composição política. Os valores repassados pelo relator do orçamento bateram recorde durante o governo de Jair Bolsonaro. Em governos anteriores, os relatores definiram o destino de recursos discricionários de 5,8 bilhões de reais por ano. No atual governo, essa média subiu para 26,1 bilhões de reais por ano. Para 2023, o próprio Congresso previa R$ 23 bilhões para essas emendas -- mesmo que sob novas regras.

A aparente vitória de Lula na questão ainda está por ser provada. Em um primeiro momento, as duas decisões do Supremo lhe garantem gastar fora do teto e minam uma das principais ferramentas de articulação política dos últimos anos. Isto posto, resta saber como o grupo de parlamentares que se beneficiou do orçamento secreto, com mais recursos para financiar suas bases eleitorais, reagirá.

Parte das críticas da classe política ao julgamento do STF está relacionada a uma interferência do Judiciário em questões que cabem ao Legislativo -- no caso, a formulação do orçamento. Alguns ministros se mostraram sensíveis a esse argumento, como Alexandre de Moraes, Kassio Nunes, André Mendonça e Dias Toffoli. É certo que a decisão ampliará o coro de invasão do Supremo em atribuições de outros Poderes.

A oposição ao novo governo já vinha se formando. Com essa derrota, certamente crescerão as pressões por uma composição mais equânime da futura Esplanada dos Ministérios. Em outras palavras: já que o orçamento secreto sairá de cena, o que o próximo governo poderá oferecer aos deputados mais pragmáticos -- aqueles que não se alinham ideologicamente nas votações -- para que apoiem suas pautas?

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