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ONU Mulheres: igualdade deve começar com participação política

Para a organização, o primeiro passo passo para a igualdade de gêneros deve ser a ocupação dos cargos e espaços no nível municipa

Mulheres: é preciso ampliar a representação feminina na política, no setor econômico e em todos os âmbitos, defende representante da ONU (Getty Images)

Mulheres: é preciso ampliar a representação feminina na política, no setor econômico e em todos os âmbitos, defende representante da ONU (Getty Images)

AB

Agência Brasil

Publicado em 29 de outubro de 2016 às 16h38.

Rio - O primeiro passo para termos igualdade plena de gêneros no médio prazo é ampliar a participação política das mulheres, começando pela ocupação dos cargos e espaços no nível municipal, disse a representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, ao participar do evento "Por um Planeta 50-50 em 2030: Mulheres do Amanhã", organizado pela entidade internacional, no Museu do Amanhã, na zona portuária do Rio de Janeiro.

Segundo Nadine, a ideia do evento e do programa 50-50 é discutir com as mulheres de hoje formas de tornar o planeta mais igualitário em 2030, com oportunidades para que todas possam ter as suas potencialidades desenvolvidas e a sociedade possa "aproveitar as capacidades das mulheres em toda a sua diversidade".

"Precisamos de mais mulheres nos gabinetes, agora temos uma boa oportunidade de construir cidades igualitárias, cidades 50-50. Nós lançamos um projeto, Cidades 50-50 - Todas e todos pela Igualdade, que é ter nos municípios gabinetes paritários, ter políticas públicas a nível local, que levem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ao nível local", disse Nadine, ao discursar ontem (28) no evento.

A representante da ONU cita o desafio de incorporar as mulheres no setor econômico, com salário igual para trabalho igual, realidade muito distante do que é constatado no Brasil.

"As estatísticas falam que, no Brasil, a diferença entre homens e mulheres para um mesmo trabalho é de 30%, mas você tem também uma grande diferença entre o que as mulheres negras ganham e os homens brancos, de mais de 300%, elas são a parte baixa da pirâmide dos salários e eles são a parte alta".

Também sobre o Brasil, Nadine diz que o país precisa avançar no cumprimento dos acordos internacionais.

"Eu acredito que o Brasil está em um momento que tem que pensar de uma forma importante nos compromissos que tem assinado com acordos internacionais. Tem que fazer mais para ampliar a representação das mulheres na política, em todos os âmbitos, no setor econômico e ter ações muito claras em torno da inclusão social e o combate à violência contra as mulheres".

Racismo

A pesquisadora e ativista do movimento de mulheres negras Djamila Ribeiro falou sobre o racismo institucional e a violência que ele gera com a naturalização da ausência de negros nos espaços que passam a ser considerados apenas de brancos.

"Desde chegar na escola e não ver a minha história nos livros didáticos, chegar em casa e não ver ninguém como eu na televisão, quatro gerações de paquitas loiras, abrir uma revista e não se enxergar, sair na rua e ser zoada pelos meninos. Então, a gente não sabe bem como é conceituado, mas a gente sente na pele. Uma das coisas que o racismo institucional faz com a gente desde muito cedo e é um sentimento que nos acompanha, é o sentimento de inadequação, porque a gente não se sente fazendo parte de nenhum lugar".

Ela lembra que o racismo institucional associado ao machismo institucional colocou as mulheres negras nas posições de menos prestígio na sociedade brasileira.

"As pessoas brancas chegam nas universidades e nunca questionam não ter nenhum professor negro e todas as pessoas da limpeza serem mulheres negras. O racismo institucional naturaliza o nosso olhar ao ponto da gente não se incomodar e não se revoltar em termos mulheres negras limpando o nosso banheiro e termos aula com homens brancos. Essa naturalização, que é uma violência muito grande, faz com que as pessoas brancas acreditem que é por causa do mérito. Mas as pessoas brancas esquecem que vivemos num país que teve 354 anos de escravidão negra e foi o último a abolir a escravidão e no processo de industrialização do país não foi pensado mecanismos de inclusão da população negra".

Publicidade

A publicitária Carla Alzamora apresentou uma pesquisa feita sobre a representatividade de gênero e raça na propaganda. Segundo ela, 65% das mulheres não se sentem representadas na mídia e na publicidade e que, portanto, 65% das mulheres brasileiras não estão criando conexões com as mensagens passadas pela publicidade. De acordo com ela, isso é um alerta para as empresas se preocuparem em repensar o modelo de propaganda feita atualmente.

"A gente precisa parar de pensar que o que a gente faz é 'só publicidade'. A publicidade é onipresente na vida das pessoas, cada uma recebe em média de 3 mil a 5 mil mensagens publicitárias por dia. Óbvio que a gente não consegue racionalizar todas elas, mas elas vão formando nossas referências de mundo e o que a sociedade considera belo, aceitável, de como a gente deve agir, ser e se comportar. Por essa razão, a gente é parte do problema. Então por ser parte do problema e ter o poder de definir essas mensagens, a gente tem oportunidade também de ser parte da solução".

Foram analisadas mais de 3 mil inserções na TV, que indicam que a prevalência de reforço de estereótipos de gênero, restrição de papéis, padrão de comportamento e de beleza.

Quanto ao protagonista da peça publicitária, 17% eram o próprio produto, 33% homens, 26% mulheres, 7% ambos e 11% a sociedade. Entre os homens protagonistas, 83% eram brancos, 7% negros e 10% diversos. Entre as mulheres, a proporção é de 84% de brancas, 12% de negras e 4% diversas.

*Colaborou Joana Moscatelli, repórter do Radiojornalismo

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