Obra questionada pelo MP-PE receberá R$ 23 milhões da União
No entanto, moradores da região atribuem à obra o último grande alagamento ocorrido no local, em maio deste ano
Agência Brasil
Publicado em 27 de dezembro de 2016 às 18h52.
Obra de grande impacto na Região Metropolitana do Recife, nos municípios de Olinda e Paulista, a Via Metropolitana Norte/Fragoso terá a segunda etapa iniciada com o repasse de cerca de R$ 23 milhões do governo federal .
A autorização para o início da obra foi assinada hoje (27) pelo ministro das Cidades, Bruno Araújo, no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco.
A construção da Via Metropolitana Norte e a ampliação e revestimento do canal do Rio Fragoso começou em 2013, e deveria ser concluída em março deste ano.
O projeto, que vai integrar as vias PE-15 e PE-01, foi idealizado para melhorar o tráfego entre Olinda e Paulista e evitar os históricos alagamentos de bairros que margeiam o canal.
No entanto, moradores da região - especialmente do bairro de Jardim Fragoso, em Olinda - atribuem à obra o último grande alagamento ocorrido no local, em maio deste ano, depois de uma chuva intensa que derramou 225 milímetros de água, em 24 horas, na região. Para eles, a construção agravou a enchente, que chegou a níveis maiores que em anos anteriores.
O Ministério Público de Pernambuco (MP-PE) ajuizou ação civil pública, em 2015, pedindo a suspensão das obras, por falta de estudo de impacto ambiental, mas o governo do estado informou que o relatório não era obrigatório para o empreendimento, e assegurou que todos os estudos necessários haviam sido realizados no caso.
Este ano, porém, o MP-PE apresentou relatório técnico segundo o qual o afunilamento causado pelo alargamento incompleto do canal - tem trechos com 45 metros de largura, contra 10 metros do curso natural do rio - é um dos motivos do grande alagamento.
O ministro das Cidades, Bruno Araújo, foi questionado pela imprensa sobre a alocação de recursos federais em obras denunciadas tecnicamente.
Ele disse que "a obra tem duas partes, de mobilidade e de macrodrenagem. O que o governo federal faz neste momento é, no contrato que tem com o governo do estado, e não havendo qualquer impedimento técnico, nem pelo Tribunal de Contas do Estado ou [pelo Tribunal de Contas] da União, em relação à mobilidade, garantir os R$ 23 milhões necessários para tocar essa fase da obra. Fases que possam ter problemas, vão se discutindo momento a momento".
Parte da obra
Os R$ 23 milhões serão utilizados na primeira fase da segunda etapa das obras. Uma das intervenções previstas é a construção de um viaduto no Terminal Integrado da Rodovia PE-15, em Ouro Preto.
A outra é a implantação e adequação de 1,4 quilômetro (km) de via margeando o canal do Rio Fragoso. O prazo para conclusão das obras é de um ano.
O investimento total dessa fase da obra será de R$ 171 milhões, dos quais R$ 120 milhões do governo federal e R$ 51 milhões do estado, e inclui o alargamento de 2,2 km do canal do Rio Fragoso, quatro pontes sobre o canal e implantação de 6,1 km de vias marginais.
A pactuação com o Ministério das Cidades é referente apenas à primeira fase, no entanto. O restante da obra ainda não tem recursos federais garantidos.
A segunda etapa da obra será iniciada sem que a primeira fase, denominada Fragoso II, esteja concluída. Só 60% do trecho está pronto - 1,4 km de alargamento e revestimento do canal, com quatro pontes construídas, das oito previstas.
Essa etapa também tem previsão de 12 meses para ficar pronta. Ao todo, a construção da Via Metropolitana Norte/Fragoso é estimada em R$ 336 milhões, incluindo a construção de 840 unidades habitacionais para realocação de 4.200 pessoas aproximadamente.
Desapropriações
O prefeito de Olinda, Renildo Calheiros, classificou a nova via como uma "Agamenon Magalhães de Olinda", numa referência à principal via do Recife.
Ele aproveitou a ocasião para pedir aos governos estadual e federal priorizem para desapropriação os terrenos e casas que ficam em sete pontos em que o canal afunila e a água se acumula, em caso de chuva intensa, gerando alagamentos.
Condição que, segundo ele, dificulta a limpeza regular do curso d'água.
"Só no trecho final da obra as desapropriações têm custo estimado em R$ 51 milhões. Fiz um apelo para, desses milhões, se calcular quanto se gastaria para resolver esses sete gargalos e dar prioridade a eles para desapropriação. Porque aí a água já vai poder escorrer com mais facilidade, mesmo antes da obra ficar pronta", defendeu.
O secretário de Habitação de Pernambuco, Marcos Baptista, disse que o plano de ação da obra já está traçado.
"Quando começarmos a atuar na segunda metade do canal, vamos da foz em direção ao continente, porque nesse trecho é que está a população mais carente, mais pobre. Vamos indenizar [as pessoas] ou colocá-las em auxílio moradia para um futuro habitacional".
Segundo ele, a prefeitura tem responsabilidade na prevenção dos alagamentos, garantindo a limpeza permanente do canal, "onde não chegamos com a obra, para poder pelo menos minimizar o efeito das chuvas".
O governador Paulo Câmara declarou à imprensa que os recursos estaduais vão garantir as desapropriações.
"Já nos planejamos para as contrapartidas necessárias do Estado, principalmente para as desapropriações. Então, acredito que agora, a partir dessa liberação, a gente tenha condições de cumprir bem o calendário", disse ele.