O Ministro do Desenvolvimento Regional do Brasil, Waldez Goés, citou que o desafio no Estado é grande pela logística na Amazônia (Michael Dantas/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 13 de outubro de 2023 às 14h24.
Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 17h03.
Pelo segundo dia consecutivo, Manaus acordou escuro, nas cinzas. O motivo é alarmante: um incêndio de grandes proporções atingiu a região Amazônica, resultado do desmatamento ilegal e do tempo seco, somados ao fenômeno do El Niño.
A capital do Amazonas já consta entre as cidades com pior qualidade de ar no mundo, de acordo com monitoramento da plataforma World Air Quality Index. Nos 12 primeiros dias de outubro, foram registrados 2.704 focos de queimada no estado, o segundo maior do país (atrás do Pará), e um número 148% maior do que houve no mesmo período do ano passado.
Os moradores se queixam de dificuldade para respirar, ardência no nariz e dores de garganta, além de tosse pela fumaça. A polução que tomou a capital do Amazonas foi levada pelas queimadas na floresta, e as temperaturas recordes do local contribuem para que o incêndio seja mais difícil de se combater.
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Na tarde de quarta, no dia 11 de outubro, o prefeito de Manaus, David Almeida, anunciou medidas de combate a incêndios, que acontecem majoritariamente no interior e na Região Metropolitana da capital. O governador do Amazonas, Wilson Lima, reforçou as equipes de combate às queimadas e solicitou apoio do governo federal.
Em coletiva de imprensa, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou que foram mobilizados mais de 300 brigadistas para combater as queimadas que atingem a região. Pelos dados coletados na quinta-feira, 12, são, no total, mil focos de calor no Estado do Amazonas, segundo ela. "O principal vetor das queimadas é desmatamento, não existe fogo natural na Amazônia. O fogo ou é feito propositalmente por criminosos ou é a transformação da cobertura vegetal para determinados usos e depois o ateamento do fogo", disse.
De acordo com o ministro do Desenvolvimento Regional do Brasil, Waldez Góes, foram reconhecidos 55 municípios do Estado do Amazonas em situação de emergência pela ocorrência de incêndios. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, deve editar uma medida provisória na próxima semana com determinação de envio de recursos federais para ajuda humanitária e reconstrução da região.
Manaus covered in smoke from the fires in the Amazon. Where are the “ancient” defenders of the forest! pic.twitter.com/hGZk9yqY1J
— Helton Barros (@HeltonBarros9) October 11, 2023
O Ministro do Desenvolvimento Regional do Brasil, Waldez Goés, citou que o desafio no Estado é grande pela logística na Amazônia. Como exemplo, ele citou que em alguns locais as equipes demoram cerca de 12 dias para chegar com comida.
Marina Silva comentou, ainda, que a atual situação do ambiente contribui para que o incêndio se alargue. "É uma situação de extrema gravidade porque há cruzamento de três fatores: grande estiagem provocada pelo El Niño; matéria orgânica em grande quantidade ressecada; ateamento de fogo em propriedade particulares e dentro de áreas públicas de forma criminosa", avaliou.
Com a quantidade de focos de incêndio, é difícil que a nuvem de polução deixe Manaus tão cedo. Moradores temem que ela só se extingua quando chover — e a previsão do estado é de estiagem por quase todo o mês de outubro.
Marcada para o próximo domingo, a Maratona Internacional de Manaus foi adiada para dezembro, devido à fumaça que encobre a capital do Amazonas desde quarta-feira por causa de queimadas. Por causa da situação, a qualidade do ar em Manaus está entre as piores do mundo, segundo monitoramento da plataforma World Air Quality Index. O evento esportivo que ocorreria no fim de semana é o maior do tipo na Região Norte e inclui a Expo Amazonas Running, no Centro de Convenções Vasco Vasquez II. A feira, que abriria amanhã e sábado, também foi adiada pela prefeitura.
Para amenizar o desconforto da população, a prefeitura anunciou que caminhões pipa estão sendo usados para irrigação em praças, canteiros e vias públicas. A medida, dentro das chamadas ações de resfriamento, pretende também evitar focos de incêndio em meio ao calor. Até o começo da tarde desta sexta, segundo a prefeitura, já haviam sido utilizados mais de cem mil litros d´água.
A nuvem cinza sobre a cidade desde quarta-feira levou ao adiamento da Maratona Internacional de Manaus, marcada para domingo, com mais de 7 mil inscritos, e também do Boi Manaus, que ocorreria entre os dias 21 a 23 deste mês. Os eventos fazem parte das comemorações pelos 354 anos da capital amazonense, no dia 24, quando haverá no novo Parque Municipal Amazonino Mendes shows de Tierry e Joelma.
Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, a tendência é que a onda de queimadas no Amazonas continue pelos próximos 30 dias. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e outras autoridades da pasta anunciaram nesta sexta-feira o reforço de 149 brigadistas federais para auxiliar no combate a incêndios florestais no estado.
Há três dias, uma onda de fumaça decorrente de fortes queimadas encobre Manaus, colocando a capital do Amazonas entre as cidades com uma das piores qualidades de ar do mundo, segundoz monitoramento da plataforma World Air Quality Index.
— Vemos com muita gravidade essa situação e a tendência é continuar por cerca de 30 dias. Se for necessário, vamos fazer remanejamento de brigadistas de um estado para outro — informou o titular do Ibama em entrevista a jornalistas.
Desde 1° de outubro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 2.770 focos de calor ativos no estado. O número já é um recorde desde o início da série histórica para outubro, mesmo com menos da metade do mês. No ano passado, foram 1.503 queimadas no mês inteiro, quantidade 84% menor do que foi visto até o dia 12.
De acordo com o diretor do Inpe Givan Sampaio, a previsão é que haja chuvas isoladas no estado nos próximos 30 dias, mas elas "não devem contribuir para reverter o cenário" e seguirão abaixo da média.
Com o reforço de brigadistas anunciado, o número de profissionais envolvidos na operação chega a 289, podendo aumentar ainda mais nos próximos dias. Outra linha de estratégia da pasta é combater o desmatamento no estado — segundo o Ibama, 73,5% dos focos de incêndio no Amazonas entre 2019 e 2023 ocorreram em áreas já desmatadas.
— Não existe fogo natural no Amazonas, ou é feito propositalmente por criminosos ou é por desmatamento. Outro grande fator é a estiagem causada pelo El Niño — declarou Marina Silva. — Estamos vivendo uma situação atípica.
Conforme dados do Inpe, 12% dos focos de incêndio ocorreram em Lábrea, uma das cidades campeãs de desmatamento no país. Cidades da Região Metropolitana de Manaus, como Autazes e Careiro também estão com altos registros de incêndios: 236 e 133, respectivamente. Somente na última terça, houve mais de 500 queimadas no estado, quando o problema se acentuou e os efeitos começaram a chegar à capital.
Setembro já havia sido um mês muito quente no Amazonas, que enfrenta uma seca extrema que atinge quase toda a região amazônica. A situação levou o governador Wilson Lima a decretar situação de emergência. No mês passado, houve 6991 focos de queimada no estado.
Nas redes sociais, moradores de Manaus relatam dificuldades para respirar e enxergar devido à quantidade de fumaça. Nesta sexta, o Ministério da Saúde alertou para o aumento de doenças e agravos, como doenças gastrointestinais agudas, desidratação, doenças respiratórias, acidentes vasculares e alergias.
A pasta divulgou alguns cuidados que devem ser tomados:
Evitar ficar próximo ao local de queimadas;
Lavagem das mãos e do rosto;
Fechar portas e janelas de casa e do ambiente de trabalho para que a fumaça não entre;
Manter os ambientes umidificados e ventilados (com umidificadores e ventiladores)
Aumentar a ingestão de água para hidratação;
Evitar exposição em locais abertos, se possível;
Uso de máscara ao ar livre; e
Evitar atividades físicas / esportivas ao ar livre
(Com O Globo e Agência Estado)