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O dia em que o poço secar

Enquanto busca retardar o declínio da produção de petróleo, a Petrobras amplia investimentos em energias renováveis

Campo de Albacora, no Rio: tecnologia para adiar o fim (--- [])

Campo de Albacora, no Rio: tecnologia para adiar o fim (--- [])

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h29.

Foram necessários 125 anos para que o mundo consumisse o primeiro trilhão de barris de petróleo, mas bastarão 30 anos para consumir o segundo. A frase, de um recente anúncio publicitário do grupo americano Chevron Texaco, ilustra o dramático aumento do consumo de petróleo no planeta nos últimos anos. Prever quando essa escalada vai levar ao esgotamento dos poços é um exercício de futurologia -- a Agência Internacional de Energia (AIE), por exemplo, diz que a produção mundial do óleo negro vai atingir o pico em algum ponto "entre 2013 e 2037". Mas uma coisa é certa: é preciso se preparar para viver num mundo sem petróleo.

A recomendação é especialmente válida para quem tem no petróleo seu principal negócio, como a Petrobras, a maior empresa do país. Das 276 concessões da estatal, 199 -- 72% -- estão na maturidade, eufemismo para se referir aos campos em fase de declínio da produção. Essas áreas representam 40% das reservas provadas da Petrobras e cerca de 75% do óleo e do gás produzidos no Brasil. Na bacia de Campos, no Rio de Janeiro, 30 das 32 concessões já entraram na fase de maturidade. Na tentativa de adiar o declínio dos campos maduros, a Petrobras lançou em 2005 um programa de revitalização que combina o uso de novas tecnologias com melhorias no gerenciamento das operações. Com investimento de 2,4 bilhões de dólares até 2011, a meta é recuperar 800 milhões de barris de petróleo, o correspondente à descoberta de um campo gigante. Os primeiros resultados começam a aparecer. Em Albacora, na bacia de Campos, por exemplo, que hoje produz 116 000 barris por dia, a empresa inaugurou um sistema inédito de injeção submarina de água no reservatório que deverá resultar num ganho de 45 000 barris diários em 2010.

Biocombustíveis
Além de tentar adiar o inevitável, a Petrobras começou a atuar em outra frente: a das energias renováveis. Mais do que uma companhia de petróleo, a estatal quer cada vez mais ser vista como uma empresa integrada de energia. "Nossa estratégia prevê a expansão da participação no mercado de biocombustíveis, liderando a produção nacional de biodiesel e ampliando a participação no mercado de etanol", disse o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, no final de julho, ao apresentar o plano de negócios da companhia para o período 2007-2011. O plano prevê investimentos de 700 milhões de dólares em projetos de energias renováveis e biocombustíveis, e mais 660 milhões de dólares na expansão de alcooldutos. O projeto dos alcooldutos foi ampliado para contemplar a Região Centro-Oeste e deverá triplicar as exportações brasileiras de álcool. Demanda para isso não falta. "Estamos fechando contratos com a Venezuela e a Nigéria que deverão somar 250 milhões de litros de álcool neste ano", diz Paulo Roberto Costa, diretor de abastecimento da Petrobras.

A partir de janeiro de 2008, todo o óleo diesel comercializado no país deverá ter adição de 2% de biodiesel. Antecipando-se à medida, a Petrobras está construindo três complexos industriais para a produção desse combustível nos estados da Bahia, do Ceará e de Minas Gerais. Orçadas em 90 milhões de dólares e previstas para entrar em operação no final de 2007, as fábricas terão capacidade para produzir 144 milhões anuais de litros de biodiesel extraído de óleo de mamona, algodão, soja e dendê. Além disso, a Petrobras vai processar outros 425 milhões de litros de óleo vegetal em suas refinarias. O objetivo é adicionar o óleo vegetal ao diesel comum num processo desenvolvido pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) e batizado de H-Bio, que resulta num "diesel verde", menos poluente. Durante os testes do H-Bio, foram usados até 18% de óleo vegetal na composição do novo combustível. "Vamos plantar diesel", afirma Costa.

A nova aposta
Os investimentos da Petrobras em energias renováveis - em milhões de dólares
2002/ 2006
65(1)
2007/ 2011
700(2)
(1) Estimativa
(2) Previsão

Outro projeto é o desenvolvimento de parques eólicos de geração de energia elétrica, principalmente na Região Nordeste. No Rio Grande do Norte, a estatal opera, desde 2003, a Usina Eólica de Macau. Com capacidade de 1,8 MW (megawatt), ela fornece energia para a operação de poços e unidades de produção de biodiesel. A meta para os próximos cinco anos é ampliar a capacidade instalada de geração de energia elétrica de fontes renováveis para 240 MW, suficiente não só para o consumo próprio da Petrobras como também para comercializar a energia excedente no mercado.

Entre outros estudos em andamento no Cenpes, está o uso da energia geotermal, que flui do interior da Terra sob a forma de calor. Valendo-se da elevada temperatura das águas subterrâneas em Mossoró (RN), a Petrobras está utilizando um poço antes abandonado no município para preaquecer a água que vai para seus geradores de vapor. "Agora, queremos testar o uso do gás geotérmico para produzir energia", diz João Norberto Noschang Neto, coordenador do Programa Tecnológico de Energias Renováveis (Proger), criado pela Petrobras em 2004.

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