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O curioso método do partido Novo para escolher seus candidatos

Para as eleições de 2018, legenda se inspirou na seleção dos trainees de grandes empresas para escolher seus candidatos ao Congresso; entenda

Partido Novo: Lohbauer fez a avaliação durante participação no seminário “Brasa em Casa. O Brasil no Divã" (Partido Novo/Facebook/Divulgação)

Partido Novo: Lohbauer fez a avaliação durante participação no seminário “Brasa em Casa. O Brasil no Divã" (Partido Novo/Facebook/Divulgação)

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Clara Cerioni

Publicado em 26 de junho de 2017 às 06h30.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2018 às 11h38.

São Paulo - "O Brasil tem bons políticos. Eles só precisam ser descobertos para ver que política é sim para qualquer cidadão".

É com essa frase que João Amoedo, presidente do partido Novo e um dos fundadores da sigla, justifica o inusitado método adotado pela legenda para escolher os candidatos que representarão o partido nas eleições de 2018: um processo seletivo bastante parecido com a seleção de trainees em grandes empresas.

A ideia, segundo Amoedo, é identificar pessoas com potencial para a política mas sem histórico no ramo — algo que, para ele, pode ser um antídoto para a atual descrença na classe política.

"Com a decepção generalizada hoje em dia, a saída é mudar a cara dos políticos. Mostrar às pessoas que não precisa ter base eleitoral para se candidatar, nem ter contato direto com a política", afirma o presidente do Novo em entrevista a EXAME.com.

Para encontrar essas pessoas com talento natural para a política, o processo seletivo do Novo conta com quatro etapas. No total, 460 pessoas de 13 estados se inscreveram neste ano. Todos os pré-candidatos do Novo para uma vaga no Congresso tiveram que pagar uma taxa de inscrição de 600 reais. Aspirantes a uma vaga na corrida eleitoral pela Assembleia Distrital pagaram 300 reais.

A seleção, que começou em março, deve se encerrar em dezembro deste ano. Nesse período, os inscritos vão passar por uma maratona de testes digna de qualquer boa seleção de trainee do país.

A primeira etapa, que correspondia à análise curricular e teste sobre valores da sigla, aprovou apenas 284 dos 460 inscritos. Até o final de junho, esse grupo de pré-candidatos será avaliado por uma banca de membros do partido durante entrevistas. Nas próximas fases, a ideia é ver, na prática, como o pré-candidato se sairia em uma campanha. (Veja o quadro abaixo).

A primeira experiência do Novo, que foi registrado em 2015, com esse modelo de seleção aconteceu nas eleições de 2016. Naquela época, os pré-candidatos precisavam apresentar um vídeo com um resumo de sua ideologia e fazer uma entrevista com membros do partido — em um método que chegou a ser comparado com a seleção para o Big Brother Brasil (BBB).

“Algo que aprendemos em 2016 é que, além de ser alinhada ao partido, ter valores e princípios, a pessoa também precisa de iniciativa e atitude”, afirma Amoedo.

O vereador de Porto Alegre Felipe Camozzato foi um dos quatro candidatos do Novo a se eleger em 2016. Estudante de Administração e, até então, pouco conhecedor das relações políticas no Brasil, ele fazia parte do grupo que está desacreditado no modelo de gestão das siglas tradicionais.

“Como administrador sempre defendi a ideia de que deveríamos colocar as governanças que vemos nas empresas dentro dos partidos. Incentivar a profissionalização dos políticos, por exemplo, é algo raro nas legendas, mas que me chamou atenção no Novo”, conta.

Cazzamoto também se surpreendeu com o viés liberal adotado pelo Novo, que prega a redução da interferência do Estado e a intensificação do livre comércio. “A definição clara dos ideais da legenda me deixou confiante para me candidatar. Eu sabia que, por isso, os eleitores não seriam pegos de surpresa com uma proposta que não os contempla”, diz.

A proposta de seleção dos candidatos do Novo é vista por seus filiados como um modelo a ser seguido para outros partidos brasileiros. No entanto, para as legendas maiores, a complexidade do processo tornaria sua execução inviável, segundo  Eduardo Lazzari, doutor em ciências políticas pela Universidade de São Paulo (USP).

"Apesar de os partidos terem cartilhas e orientações para os candidatos, adotar um método como o do Novo seria inviável. É uma demanda que não conseguiria ser cumprida e prejudicaria a campanha dos candidatos", afirma.

O especialista acrescenta ainda, que nos grandes partidos, apesar de não ser necessário um reconhecimento na política para se candidatar, se você é um novato, as chances de eleição são menores. "A liderança do partido tem meios de não dar tanta vasão à candidatura desses políticos neófitos, porque sabem que as chances de uma efetiva eleição são pequenas", diz.

A eleição de 2018 marcará a estreia do Novo em uma corrida eleitoral para cargos federais -- vale lembrar que o partido foi registrado em setembro de 2015. Em tempos de crise das siglas tradicionais, a aposta é que iniciativas similares à lógica empresarial chamarão a atenção do eleitor. Só o resultado das urnas em outubro do ano que vem mostrará se a legenda acertou na previsão.

- (Infográfico/Site Exame)

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