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O Brasil um ano depois da saída de Dilma Rousseff

Há um ano, Dilma deixava o poder denunciando um golpe institucional. Hoje, Michel Temer completa um ano no cargo com uma aprovação nada desejável

Dilma Rousseff: vice desde 2011, Temer rompeu com Dilma antes de seu afastamento (Ueslei Marcelino/Reuters)

Dilma Rousseff: vice desde 2011, Temer rompeu com Dilma antes de seu afastamento (Ueslei Marcelino/Reuters)

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AFP

Publicado em 12 de maio de 2017 às 11h21.

Última atualização em 12 de maio de 2017 às 14h27.

Um governo conservador, novas acusações de corrupção e um desemprego recorde, apesar de se vislumbrar o fim da recessão. Para os brasileiros, muito e ao mesmo tempo nada mudou desde que Dilma Rousseff foi destituída do poder, há um ano.

"Disseram que o problema era a presidente. Tiraram ela do poder, colocaram outro, mas não mudou nada", diz Gabriel, um jovem que trabalha em um bar de uma comunidade do Rio de Janeiro.

Em 12 de maio de 2016, Dilma deixava o poder, denunciando um "golpe institucional". Reeleita em 2013, a presidente havia sido afastada para ser julgada pelo Congresso por suspeita de manipulação das contas públicas, nas chamadas "pedaladas fiscais".

Seu então vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), assumiu interinamente o comando do país e prometeu mudar radicalmente o rumo político para resgatar a confiança nos mercados e tirar o Brasil da pior recessão de sua história.

Um ano depois, oito em cada dez brasileiros consideram que o hoje presidente Temer fez menos pelo Brasil do que esperavam, segundo pesquisa do Instituto Datafolha.

Apenas 9% aprovam sua administração.

De vice "decorativo" a presidente impopular

Vice desde 2011, Temer rompeu com Dilma antes de seu afastamento. Primeiro protestou por ter sido tratado como um "vice-presidente decorativo" e, pouco depois, seu partido desembarcou da coalizão do governo.

A presidente o acusou de traição e de orquestrar o impeachment para ficar no poder, condenando-a por manobras contábeis que todos os seus antecessores tinham feito.

A destituição definitiva se concretizou em 31 de agosto de 2016, mas, ao assumir interinamente, Temer montou um gabinete do zero e iniciou reformas estruturais, com o objetivo de completar o mandato em 31 de dezembro de 2018.

Embora a economia dê sinais de melhora, e o governo projete uma recuperação modesta de 0,5% para 2017, o desemprego chegou a níveis recordes (13,7%) e afeta 14,2 milhões de brasileiros.

A aprovação da PEC do Teto dos Gastos Públicos, que impõe o congelamento do orçamento por duas décadas, e as reformas trabalhista e da Previdência fizeram o governo despencar a índices mínimos de popularidade, coincidem analistas.

Temer "entrou no poder pela porta dos fundos e propôs mudanças radicais no Estado brasileiro, sem ter sido eleito pelo voto popular", disse à AFP o professor de História Otávio Guimarães, da Universidade de Brasília (UnB).

O próprio presidente admitiu que essas decisões não favorecem sua avaliação nas pesquisas, mas afirma que prefere ser lembrado como o líder "que fez as grandes reformas, que permitiu que os próximos governos não encontrem o Brasil como nós o encontramos".

A sombra da "Lava Jato"

Pelo menos oito ministros de Temer estão sob investigação por suspeitas de corrupção na operação "Lava Jato", que investiga uma maciça rede de corrupção na Petrobras.

Quase um terço do Senado e 40 deputados, de praticamente todos os partidos, também estão na mira da Justiça.

Desde o impeachment, "nada mudou. Continua pior, inclusive. Pra mim, todos teriam que sair do poder e convocar novas eleições presidenciais", afirma o taxista carioca Carlos Roberto.

E quem os brasileiros elegeriam?

Lula, segundo as últimas pesquisas.

Apesar dos cinco processos que enfrenta por corrupção, Lula (PT), o patriarca da esquerda, que governou o Brasil de 2003 a 2010, seria votado por 30% da população, enquanto o segundo candidato mais votado, Jair Bolsonaro (PSC) teria, de acordo com a pesquisa Datafolha de 30 de abril, 15% dos votos.

Se for condenado em primeira instância e um tribunal superior confirmar a sentença, o ex-sindicalista não poderá se candidatar, e esse desfecho pode aumentar ainda mais a polarização no país.

"Acho que seu impeachment foi bom para o Brasil, porque está revertendo a recessão e devolvendo o país a um caminho de crescimento estável", disse o analista político David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília.

"Claro que os partidários de Dilma sustentam que foi um golpe. Mas, se foi um golpe, foi feito pelo Congresso, utilizando a Constituição e supervisionado muito de perto pelo Supremo", acrescentou.

Para o doutor em Ciência Política Nuno Coimbra, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), apesar de Dilma ter perdido sua "capacidade de governar", do ponto de vista jurídico, o impeachment foi "altamente controverso" e deixou marcas de ilegitimidade no governo atual.

"Poderíamos discutir se as reformas são necessárias, ou não, mas, de qualquer forma, não passaram pelo crivo das eleições", sustenta.

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