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O que Barusco revelou para a PF sobre corrupção na Petrobras

Pelo menos 90 contratos teriam sido alvo de propina entre 2003 e 2013; diretoria de Graça Foster também teria sido ligada ao esquema

Sede da Petrobras, no Rio de Janeiro: SEC também não confirmou a investigação envolvendo a Petrobras (Vanderlei Almeida/AFP)

Sede da Petrobras, no Rio de Janeiro: SEC também não confirmou a investigação envolvendo a Petrobras (Vanderlei Almeida/AFP)

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Da Redação

Publicado em 5 de fevereiro de 2015 às 17h36.

São Paulo – A nona fase da Operação Lava Jato, que foi deflagrada nesta quinta-feira, teve como ponto de partida as revelações que Pedro Barusco, ex-gerente de serviços da Petrobras, fez em acordo de delação premiada no final de novembro.

Se comprovadas, as informações que vieram a público nesta quinta-feira mostram que o esquema de pagamento de propinas atingia ao menos quatro diretorias e tinha o Partido dos Trabalhadores (PT) como um dos principais beneficiários.

Segundo cálculos do ex-gerente, o PT pode ter recebido até 200 milhões de dólares com o esquema durante dez anos - o que seria equivalente hoje a mais de meio bilhão de reais.

Barusco afirmou à Polícia Federal que o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, era responsável pelo recebimento de propinas. Ele não soube informar, contudo, para onde o dinheiro seria enviado. 

Vaccari Neto prestou depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira.  Ele e o partido negam envolvimento com o esquema. Em nota, o PT afirmou que as "acusações não apresentam provas ou sequer indícios de irregularidades e, portanto, não merecem crédito". Veja o texto ao final da reportagem.  

Considerado um dos principais operadores do esquema, Barusco era o braço direito de Renato Duque na diretoria de Serviços. No final do ano passado, ele concordou em devolver cerca de 100 milhões de dólares em troca de um acordo de delação premiada.

Confira uma seleção de revelações de Barusco ao investigadores da Lava Jato. 

PT pode ter recebido até 200 milhões de dólares em propina

Roosewelt Pinheiro/ABr

O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto

Baruso estima que o Partido dos Trabalhadores pode ter recebido entre 150 milhões e 200 milhões de dólares em desvios de contratos da Petrobras entre 2003 e 2013.

O cálculo foi feito tendo em vista o que ele mesmo recebeu no esquema de corrupção na estatal.

Segundo o ex-gerente de Engenharia da Petrobras, João Vaccari Neto era o responsável pelo recebimento da propina destinada ao Partido dos Trabalhadores.

O dinheiro é referente à propina paga no período entre 2003 e 2013, a partir de 90 contratos firmados com a Petrobras.

Barusco e Duque receberam juntos ao menos 90 milhões de dólares

De acordo com depoimento do ex-gerente, sozinho, ele recebeu cerca de 50 milhões de dólares em propina no período de 2003 a 2013, a partir de 90 contratos firmados com a Petrobras. Parte dos pagamentos era feito por meio de contas no exterior.

Barusco diz ainda que o ex-diretor de Serviços da estatal, Renato Duque, recebia valores apenas através de terceiros e que ele próprio era um dos intermediários. Barusco disse só ele recebeu 40 milhões em favor de Renato Duque.

90 contratos foram alvo de desvios entre 2003 e 2013

Obras na Refinaria Abreu e Lima (Refinaria do Nordeste- Rnest) em Pernambuco, em uma foto de 2013 (Divulgação/PAC)

Os pagamentos de propina teriam sido feitos em cerca de 90 contratos de grandes obras da estatal vinculados às diretorias de Abastecimento, Gás e Energia e Exploração e Produção, além da Diretoria de Serviços.

Entre as obras listadas por Barusco estão a Refinaria Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Veja quais são as outras obras listadas pelo ex-executivo. 

Diretoria de Graça Foster também teve cobrança de propinas

Obras na Refinaria Abreu e Lima (Refinaria do Nordeste- Rnest) em Pernambuco, em uma foto de 2013 (Ricardo Moraes/Reuters)

Barusco afirmou que, além das diretorias de Serviços e Abastecimento, pelo menos outras duas também estavam envolvidas com esquema de corrupção - uma delas foi comandada por Graça Foster. Ontem, a executiva renunciou à presidência da estatal.

Segundo ele, as diretorias Gás e Energia e Exploração e Produção também tiveram cobrança de propinas em contratos.

No entanto, ele afirma, que tanto Graça quanto Ildo Sauer, que presidiram o setor de Gás e Energia, provavelmente não sabiam do esquema porque “não havia espaço para esse tipo de conversa.

Propina custava até 2% de cada contrato

Segundo Barusco, em todas as diretorias, o percentual de propina cobrado por contrato variava de 1% a 2%.

Na diretoria de Abastecimento, por exemplo, o percentual de propina cobrado por contrato era, geralmente,de 2%. Destes, “1% era gerenciado por Paulo Roberto Costa, o qual promovia a destinação, e os outros 1% eram divididos entre o Partido dos Trabalhadores, na proporção de 0,5% representada por João Vaccari, e a "Casa", na proporção de 0,5% representada por Renato Duque, o declarante [Barusco] e uma terceira pessoa".

Durante o comando de Ildo Sauer e Graça Foster na diretoria de Gás e Energia,  valor da propina variava de 1% a 2% dos contratos firmados.

Neste caso, metade da propina ia para o PT, por meio de João Vaccari Neto, e o restante para a Casa, representada por Renato Duque ou por Barusco.

Em algumas ocasiões, segundo o ex-gerente, toda a propina foi para o Partido dos Trabalhadores.

Quem eram os operadores

O ex-gerente disse que recebia 90% do dinheiro através de contas no exterior. Porém, uma pequena parte era paga em dinheiro vivo no Brasil. Ele citou os nomes dos operadores que faziam essas transações. Citou ainda o nome do operador que fazia as intermediações para a empresa SMB, a primeira a pagar propina a Barusco, ainda na década de 1990.

Julio Gerin de Almeida Camargo, que operava para as empresas Toyo e Camargo Correa

Shinki Nakandakari, que operava para Galvão Engenharia, EIT e Contreiras

Mario Goes, que operava para UTC, MPE, OAS, Mendes Junior, Andrade Gutierrez, Schain, Carioca e Bueno Engenharia

Julio Faerman, que operava para a SMB

Só a Odebrecht teria pagado US$ 1 milhão para Barusco

Barusco afirmou que teria recebido US$ 1 milhão da construtora Norberto Odebrecht em pagamento de propina. A transação teria sido feita entre maio e setembro de 2009 por meio de uma conta no Panamá.

Segundo Barusco,  Rogério dos Santos,  executivo da construtora,  era um "operador" do pagamento de propinas para agentes públicos da Petrobras em contratos de construção de sondas por estaleiros contratados pela Setebrasil. Entenda como o processo funcionaria. A construtora nega as acusações.

Barusco começou a participar do esquema de corrupção em 1997

No depoimento, Barusco afirmou que começou a receber propina em 1997 ou 1998 quando ocupava o cargo de gerente de tecnologia de instalações na diretoria de Exploração e Produção na Petrobras.

Entre 1997 e 2010, ele calcula ter recebido cerca de 22 milhões de dólares em pagamentos de propina da empresa holandesa SBM por meio do operador Julio Faerman.

Segundo ele, o pagamento se tornou sistemático entre 2000 e 2003. Durante este período, a propina era paga mensalmente e os valores variavam de US$ 25 mil a US$ 50 mil por mês.

Quatro anos depois, em 2007, a SBM firmou um novo contrato com a Petrobras no valor de 1,3 bilhão de reais. Sozinho, Barusco recebeu um pagamento equivalente a 1% do valor deste montante que foi parcelado entre 2007 e 2010. Nesta época, ele já estava no cargo de engenheiro executivo da área de Engenharia da diretoria de Serviços - onde se consagrou como o braço direito de Renato Duque.

Veja a nota do PT

"A assessoria de imprensa do PT reitera que o partido recebe apenas doações legais e que são declaradas à Justiça Eleitoral. As novas declarações de um ex-gerente da Petrobras, divulgadas hoje, seguem a mesma linha de outras feitas em processos de “delação premiada” e que têm como principal característica a tentativa de envolver o partido em acusações, mas não apresentam provas ou sequer indícios de irregularidades e, portanto, não merecem crédito. Os acusadores serão obrigados a responder na Justiça pelas mentiras proferidas contra o PT"

Veja a nota de João Vaccari Neto:

"JOÃO VACCARI NETO, Secretário de Finanças do Partido dos Trabalhadores - PT, por sua defesa, vem a público para dizer que há muito ansiava pela oportunidade de prestar os esclarecimentos que nesta data foram apresentados à Polícia Federal, para de forma cabal, demonstrar as inúmeras impropriedades publicadas pela imprensa nos últimos meses, envolvendo seu nome.

Reitera, mais uma vez, que o Partido dos Trabalhadores – PT, não tem caixa dois, nem conta no exterior, que não recebe doações em dinheiro e somente recebe contribuições legais ao partido, em absoluta conformidade com a Lei, sempre prestando as respectivas contas às autoridades competentes.

Sua defesa registra ainda, que o Sr. Vaccari permanece à disposição das autoridades, para prestar todos e quaisquer esclarecimentos, e que sua condução coercitiva, desta data, entendeu-se desnecessária, pois bastaria intimá-lo, que o Sr. Vaccari comparece e presta todas as informações solicitadas, colaborando com as investigações da operação “Lava Jato”, como sempre o fez"

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