São Paulo – Para participar da quadrilha que obtinha laudos fraudulentos de órgãos públicos e desbaratada pela Polícia Federal na última sexta-feira, Rosemary Nóvoa de Noronha, ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, recebia vantagens de “chinelagem”, na avaliação de um dos agentes da Polícia Federal envolvidos na operação Porto Seguro.

A palavra é usada para se referir a pessoas que se envolvem em casos de corrupção por pouco, ou muito pouco. Rosemary ganhou de viagens de cruzeiros com dupla sertaneja a cirurgias plásticas (veja lista abaixo).

Sua exoneração foi publicada hoje no Diário Oficial da União junto a outros nomes envolvidos no esquema.

As somas eram vultuosas para os servidores que fraudavam pareceres: um técnico do Tribunal de Contas da União recebeu uma oferta de 300 mil reais para emitir um laudo favorável a uma empresa que opera no Porto de Santos (SP).

Chegou a receber parte do dinheiro quando decidiu delatar o esquema, dando início à Operação Porto Seguro.

Já as negociações com Rosemary envolviam o pagamento a conta gotas, sempre que ela prestava serviços à quadrilha, mostram as investigações da PF.

Veja abaixo o que ela teria recebido para participar do esquema:

1) Plástica

- uma cirurgia plástica de 7,5 mil reais, de acordo com diálogos interceptados pela polícia e obtidos pelo Jornal Nacional;

2) Reformas

- Cinco mil reais para um armário, também segundo o JN. Mas emails trocados por ela divulgados pelo Bom Dia Brasil mostram que Rosemary pediu ainda mais para cobrir os gastos de 20 mil reais com uma ampla reforma em seu apartamento na zona central de São Paulo;

3) Cruzeiro

- Um passeio de três dias em um cruzeiro com show da dupla sertaneja Bruno e Marrone. A cabine dupla do navio temático, no ano de 2010, custou, segundo a Folha de S. Paulo, 2,5 mil reais;

4) Pagamentos e benefícios

- pagamento de um boleto no valor de R$ 13.805,33, informou o Estado de S. Paulo; outros benefícios seriam ainda apoio jurídico pessoal e empregos para familiares, de acordo com a Polícia Federal.

Conhecida como "Madame", pela aspiração de emergir à alta sociedade paulistana, Rosemary foi levada ao cargo pelo ex-presidente Lula em 2005, mas perdeu poder com a chegada de Dilma Rousseff, embora tenha sido mantida na chefia do escritório. Antes disso, assessorou José Dirceu por 12 anos.

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Seu papel, segundo a Polícia Federal, era operacional: usava da influência do cargo para marcar encontros de empresários em dificuldades com autoridades do governo.

Apesar da pecha de “chinelagem”, tinha influência política. Dois dos principais nomes da quadrilha, os irmãos Paulo Vieira, diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas, e Rubens Vieira, diretor de Infraestrutura Aeroportuária da Anac, chegaram ao cargo por ajuda dela.

Rosemary deve ser indiciada pela Polícia Federal por corrupção passiva e tráfico de influência.

As notícias atuais são de que ela está em estado instável, de choro, desde que teve início a operação da PF.