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Nem tudo está perdido: os estados na trilha do crescimento em 2022

Na rota da expansão do PIB enquanto boa das unidades da federação deverá ficar estagnada, as regiões Norte e Centro-Oeste colhem os frutos da alta das commodities e produção agrícola

Belém, no Pará: estado deve liderar ranking do crescimento econômico este ano (Getty Images/Getty Images)

Belém, no Pará: estado deve liderar ranking do crescimento econômico este ano (Getty Images/Getty Images)

CA

Carla Aranha

Publicado em 10 de fevereiro de 2022 às 06h00.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2022 às 07h12.

Enquanto a maioria das unidades da federação deverá apresentar um crescimento econômico pífio este ano – ou até encolher --, alguns estados deverão trilhar o caminho oposto. A maior expansão está prevista para a região Norte, graças a fatores como a valorização das commodities, investimentos em infraestrutura e os bons resultados do agronegócio, segundo um estudo da Tendências Consultoria.

O Pará lidera a fila, com um aumento projetado de quase 3% do PIB, um pouco maior do que o registrado em 2021, seguido por Rondônia (1,6%), o segundo estado que mais deve crescer este ano, e Amapá (1,3%). “A produção de commodities, seja minério de ferro ou alimentos, deve aumentar na região este ano”, diz a economista Camila Saito, sócia da Tendências. "A indústria metalúrgica também vem crescendo, especialmente no Pará".

A Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, deve conquistar um aumento da produção este ano, passando de cerca de 320 milhões de toneladas em 2021 para 335 milhões de toneladas. Boa parte desse crescimento deve acontecer no Pará, onde se encontram algumas das maiores jazidas do país. Até 2024, a indústria de mineração deve investir 22 bilhões de reais no estado, segundo a Simeral (Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará).

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Em 2021, a exportação do minério de ferro bateu um recorde, alcançando 36,6 bilhões de dólares. Impulsionado pela retomada econômica global e um aumento dos preços no mercado internacional, o pagamento de royalties aos governos estaduais superou 10 bilhões de reais no ano passado, de acordo com o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração). A matéria-prima, um dos principais produtos da pauta de exportações brasileira, atrás deverá continuar em alta este ano. "O agro também tem desempenhado um papel importante no PIB da região", diz Saito.

Rondônia, outro estado bem colocado no ranking do crescimento, vem despontando como uma das novas fronteiras agrícolas do país. Nos últimos quatro anos, houve um aumento de 30% na produção de grãos no local, de acordo com dados do Ministério da Agricultura. “A região Norte como um todo tem experimentado uma expansão importante do agro, especialmente no que diz respeito à soja, milho e café”, afirma o economista José Garcia Gasques, coordenador-geral de Avaliação de Políticas e Informação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. "O café vem crescendo muito em Rondônia, com ótimos resultados de qualidade e volume", diz.

Saneamento básico

A precariedade do saneamento básico no Norte, em que mais de 60% dos municípios não contam com rede de esgoto e 40% não têm acesso á água potável, vem impulsionando um boom de obras, em grande em função da aprovação de uma nova lei. O marco regulatório do saneamento, de 2020, em 2020, tornou obrigatória a universalização do serviço e estabeleceu uma série de regras – e metas – para as empresas do segmento. Com isso, houve um incentivo a novas licitações.

A concessão de fornecimento de água e tratamento sanitário no Amapá, arrematada por um consórcio liderado pela Equatorial Energia, movimentou o mercado em 2021. A previsão é de investimentos da ordem de quase 5 bilhões de reais. As obras já começaram.  A Equatorial tem a missão de universalizar o acesso ao tratamento de água e esgoto em 16 municípios do Amapá nos 35 anos do contrato. De acordo com a empresa, deverão ser criados 45 mil empregos diretos com a ampliação do serviço.

Estão em pauta também licitações no Acre e Rondônia. Ao mesmo tempo, outras unidades federativas passam por um momento de expansão da construção civil. Só em 2021, reformas no aeroporto de Belém, no Pará, para recuperação do asfalto das pistas de pouso e decolagem, além do alargamento das faixas, demandaram investimentos de quase 80 bilhões de reais, realizados pelo governo. No total, 11 entregas públicas movimentaram 374 milhões na região em 2021, incluindo a pavimentação de estradas, a construção de pontes e a dragagem de hidrovias.

“Foram entregues obras que estavam paralisadas e já movimentam a economia no dia seguinte, como a pavimentação dos últimos 52 quilômetros que faltavam da BR-163, no Pará”, diz Marcello Costa, secretário nacional de Transportes Terrestres do Ministério da Infraestrutura.

Para este ano, estão previstos os leilões dos terminais aeroportuários de Belém e Macapá, no Amapá, do chamado Bloco Norte, com aportes ao redor de 875 milhões de reais e outorga mínima de 57 milhões de reais, segundo o Ministério da Infraestrutura. “Seria ainda mais representativo se o Norte tivesse uma força maior no PIB do Brasil”, diz Saito.

Hoje, a região representa 5,7% da geração de riquezas no país. Metade do PIB nacional é produzido por apenas quatro unidades da federação, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal, que devem registrar estagnação este ano. A expectativa é que a economia do país cresça apenas 0,5%, com a pressão de custos maiores, a crise na cadeia global de abastecimentos causada pela pandemia e incertezas no campo fiscal.

Mais uma vez, as commodities e o agronegócio devem representar uma boia de salvação. O Centro-Oeste não deve desapontar: o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que estão entre os principais produtores de grãos do país, devem crescer ao redor de 1,5%, bem mais do que São Paulo, com previsão de estagnação econômica, Rio de Janeiro (0,8%) e Espírito Santo (-0,1%). No Mato Grosso, a expectativa é de uma safra recorde de soja, com a colheita de 38 milhões de toneladas, diante de 36 milhões no ano passado.

Atentos às boas perspectivas, os agricultores sul-mato-grossenses buscaram 9,2 bilhões de reais em crédito rural apenas entre julho e dezembro de 2021, 30% a mais do que no mesmo período de 2020, segundo a Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja).

Eleições

Em um ano em que os eleitores vão às urnas escolher os mandatários que deverão ocupar as cadeiras do Executivo, os governadores de estados com expectativa de maior crescimento econômico devem ter um trunfo em mãos. “Em um cenário de quase estagnação e até retração econômica em algumas unidades da federação, os líderes de estados e regiões em expansão provavelmente terão maior força política”, diz o cientista político André César, sócio da Hold Assessoria, de Brasília.

Embora as chapas ainda não estejam definidas em boa parte do país, governadores eleitos pela primeira vez em 2018 seguem cotados para disputar um novo mandato. Alguns dos casos mais emblemáticos são de Helder Barbalho (MDB), no Pará, Marcos Rocha (PSL), em Rondônia, e Mauro Mendes (União Brasil), no Mato Grosso.

Reinado Azambuja (PSDB), governador do Mato Grosso do Sul, se empenha em fazer um sucessor. Seu correligionário, Eduardo Reidel, atual secretário de infraestrutura, deve se licenciar nos próximos meses para disputar o cargo.

No Tocantins, em que o agronegócio vem puxando a expansão econômica com a soja e milho, Wanderlei Barbosa (sem partido), vice que assumiu o cargo após o afastamento de Mauro Carlesse (PSL), acusado de participação em um esquema de corrupção no ano passado, tem feito uma peregrinação por diversos munícipios em busca de votos. Ex-deputado estadual e filho do ex-prefeito de Palmas, Barbosa é um velho conhecido das rodas políticas locais. “Muitos candidatos a governador, especialmente no Norte e Centro-Oeste, integram a elite política e econômica. Com uma ajudinha da criação de empregos e melhora do cenário econômico, poderão ter mais chance de sair na frente”, diz César.

 

 

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