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Nas redes sociais, Bolsonaro faz uma transmissão ao vivo a cada dois dias

Estratégia foi intensificada no segundo semestre deste ano após sucessivas crises na área de comunicação do Planalto

Jair Bolsonaro: com estratégia, presidente assume o controle da sua comunicação (Ueslei Marcelino/Reuters)

Jair Bolsonaro: com estratégia, presidente assume o controle da sua comunicação (Ueslei Marcelino/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 16 de dezembro de 2019 às 09h01.

Última atualização em 16 de dezembro de 2019 às 09h03.

Brasília — A notificação disparada a celulares de quem segue as redes sociais do presidente se tornou rotina: “Jair Messias Bolsonaro iniciou uma transmissão ao vivo”. Do início do mandato até a última sexta-feira, foram 137 vídeos desse tipo no Facebook, uma média de um a cada dois dias e meio. É o próprio Bolsonaro quem decide quando e como fazê-las, numa estratégia para se comunicar diretamente com o público. O resultado são pouco mais de 44 horas de vídeo, que renderam mais de cem milhões de visualizações.

Essa estratégia foi se intensificando com o decorrer do ano: no primeiro semestre houve apenas 21 lives; no segundo, 116 até o momento. Foi uma maneira de Bolsonaro assumir o controle da comunicação, que havia sido foco de crises no início do governo. O presidente ainda aproveita as transmissões para passar recados, criticando adversários e rebatendo reportagens.

Bolsonaro não fez nenhuma transmissão nos dois primeiros meses do ano. Foi somente em março que ele retomou um costume da campanha, que havia sido abandonado: “a live da semana”, que passou a ser exibida toda quinta-feira — cronograma cumprido até aqui, com apenas uma exceção, durante a viagem do presidente à Ásia, em outubro. Até mesmo quando estava internado, em setembro, após uma cirurgia, Bolsonaro não deixou de fazê-la, ressaltando que não poderia durar mais de dois minutos por recomendação médica, mas que não queria quebrar a rotina.

Lives já foram gravadas na Argentina, nos Estados Unidos e no Japão. Há duas semanas, foi feita de dentro de um carro, enquanto Bolsonaro se dirigia ao Maracanã para um jogo do Flamengo.

Aos poucos, Bolsonaro passou a transmitir momentos de sua rotina, desde a cerimônia de assinatura de um decreto que flexibilizou o porte de armas até sua visita à Festa de Peão de Barretos.

Outro tipo frequente de transmissão são as exibições das conversas que ele tem com apoiadores e jornalistas quando chega e sai do Palácio da Alvorada — na manhã da última sexta-feira, o vídeo contou até com a participação de um homem fantasiado de Papai Noel. Tudo gravado com o celular do próprio presidente, com duração média de 19 minutos.

O próprio Bolsonaro reconheceu, numa transmissão de julho iniciada às 14h40m, que poderia parecer estranho realizar uma transmissão durante o expediente:

"Você pode achar que não é normal um presidente da República abrir uma live num horário como esse", disse, explicando que o objetivo era falar sobre uma reunião que teve com Yohei Sasakawa, embaixador da boa vontade da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a eliminação da hanseníase.

A transmissão com mais visualizações (mais de 7 milhões) foi feita em outubro, para rebater a informação de que o nome do presidente havia sido citado, em depoimento, pelo porteiro de seu condomínio, na investigação da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL).

Outra live simbólica foi feita em julho: Bolsonaro cancelou uma reunião que teria com o chanceler da França, Jean-Yves Le Drian, e, poucos depois do horário marcado para a audiência, apareceu no Facebook cortando o cabelo.

Nas lives semanais, há sempre convidados, geralmente integrantes do governo. O secretário da Pesca, Jorge Seif Junior, e o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, são alguns dos participantes mais frequentes. A decisão de quem vai participar é de Bolsonaro, assim como a palavra final sobre as pautas.A gravação é feita por um assessor do gabinete. Em geral, Tércio Arnaud Thomaz, que o acompanha desde a campanha eleitoral.

" A maioria das pautas é dele mesmo. Ele escreve os tópicos em letras grandes e desenvolve", diz Gilson Machado Neto. "Ele sempre se comunicou com muito sucesso. Se elegeu com muito pouco tempo de televisão.

Chamado pelo presidente de “o homem do fundo do mar” e de “Netuno”, numa referência ao deus dos mares e oceanos, Seif costuma ligar para Bolsonaro e oferecer assuntos para a transmissão.

Recentemente, uma fala do secretário numa live repercutiu nas redes sociais: a de que os peixes são capazes de desviar do óleo derramado na água. Seif comemora:

"Houve várias consequências: piadas, defensores, materiais na internet, duas menções no “Fantástico”, apoio dos pescadores devido ao objetivo de incentivar o consumo e retirar o medo. No fim, ganhei mais de mil seguidores."

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