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"Não se fará revolução entre hoje e a Copa", diz Valcke

A declaração do secretário-geral da Fifa sobre infraestrutura vem num momento em que autoridades vendem a Copa como oportunidade para realizar obras de que o Brasil precisava

O secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, caminha ao lado de um funcionário no Maracanã durante visita ao Rio de Janeiro (REUTERS/Ricardo Moraes)

O secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, caminha ao lado de um funcionário no Maracanã durante visita ao Rio de Janeiro (REUTERS/Ricardo Moraes)

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Da Redação

Publicado em 28 de junho de 2013 às 10h39.

Riode Janeiro - Não haverá tempo hábil para, em um ano até a Copa do Mundo, o Brasil passar por uma "revolução" no que se refere à infraestrutura. Seis anos depois de o País ganhar o direito de organizar o Mundial, esse é o reconhecimento do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, que sugere que até 2014 um novo esquema de transporte terá de ser implementado no Brasil para ligar as 12 cidades-sede.

O dirigente francês falou com exclusividade ao jornal O Estado de S. Paulo, em entrevista publicada nesta sexta-feira, em seu escritório montado em um hotel de luxo em Copacabana.

A declaração vem num momento em que autoridades insistem em vender a Copa como uma oportunidade para realizar obras de que o Brasil precisava. Para isso, o governo promete R$ 28 bilhões em "investimentos". Ele não deixou de alfinetar o governo, quando questionado sobre o motivo da demora, entre 2007 e 2010, para que um primeiro orçamento da Copa aparecesse.

Valcke ainda admitiu a "surpresa" diante dos protestos. Mas insistiu que manifestantes devem desistir de atacar a Fifa. "Não vamos embora. Não adianta brigar conosco." O cartola admitiu que, diante das imagens de violência, uma das prioridades da Fifa a partir de agora será a de convencer torcedores pelo mundo a não desistir da ideia de viajar ao Brasil para a Copa.

Ao falar sobre as manifestações no Brasil, o dirigente reconheceu: "Não era o pior cenário esperado. Claro, não era uma coisa que se esperava, mas também ninguém esperava. Todos ficaram surpresos com a dimensão dos eventos. As pessoas também se surpreenderam com o fato de que uma minoria passou a fazer parte dessas manifestações de forma violenta. Isso é o que acontece sempre que há uma manifestação em qualquer país do mundo. Sempre há uma minoria que fica feliz em entrar em conflito com a polícia. Era algo que nem foi discutido antes do evento. Sempre que há um evento importante, e não só a Copa do Mundo, também há protesto. O que eu digo é que isso não tem a ver com o esporte. Sempre que temos a imprensa, onde a atenção do mundo está focada num lugar muito específico, potencialmente esse é o lugar para protestar".

Já ao ser questionado sobre o fato de que uma pessoa morreu durante um protesto em Belo Horizonte, onde o Brasil bateu o Uruguai por 2 a 1, nas semifinais da Copa das Confederações, na última quarta-feira, Valcke qualificou o episódio como "um acidente".


"Vamos ser claros, não foi uma pessoa que foi abatida pela polícia. Foi um acidente. É sempre triste quando alguém morre, mas foi só um acidente. Vimos nas manifestações cartazes que pedem "Fifa, vá embora". Nós somos o alvo errado. A Fifa não vai embora. É fácil focar na Fifa e dizer Fifa, vá embora, mas esse não é o ponto correto. Aquilo em que temos que nos concentrar é que o Brasil avance, e usar a Copa como um catalisador", destacou.

Valcke também minimizou a preocupação com a previsão de um grande protesto que deverá ocorrer no domingo, antes da grande final entre Brasil e Espanha, no Maracanã. "Para domingo, de fato esperamos isso (uma grande manifestação), já que se trata do último jogo. E não há problema se ela for pacífica. O que eu espero é que não seja afetada por uma minoria", completou.

Questionado sobre o fato de que está sendo usado dinheiro público para a construção ou reforma dos estádios da Copa, o secretário-geral da Fifa reputou o mesmo como "empréstimos" e um "um pagamento adiantado".

"Não é dinheiro público de verdade. Quando falamos de Maracanã, por exemplo, eu acho que eles conseguiram um bom acordo com Odebrecht e IMX para a concessão. Grande parte dos investimentos será feito por essas empresas. Esse é o modelo que está ocorrendo em todo o mundo. E o Brasil está apenas aplicando o mesmo modelo", disse, para em seguida enumerar benefícios que São Paulo, por exemplo, terá com o novo estádio do Corinthians e as consequentes obras no entorno do local, em Itaquera.

"Veja o que está acontecendo com o estádio em São Paulo. Se olhar só o estádio, é um olhar míope. O que precisamos ver é o plano em torno de todo o estádio. Haverá muita coisa para milhões de pessoas que moram naquela região. Será dada uma nova área, até com hospitais e coisas que eles não têm hoje; trens que ligam ao centro da cidade. Isso é para garantir que o desenvolvimento não seja apenas nos estádios, mas sim para um perímetro maior. Isso levará a um aumento do valor das propriedades das pessoas que já estão lá, mas também trazendo uma nova vida e um novo futuro. Os estádios são apenas catalisadores disso tudo", defendeu.

Valcke também foi realista ao projetar o que precisa ser mudado no Brasil até 2014.

"Não se fará uma revolução no País entre agora e a Copa do Mundo. Parece que teremos que garantir uma melhor forma de conectar as 12 cidades para a Copa do Mundo, alguma forma mais fácil de voar entre as cidades. Tivemos a mesma situação na África. Quando queríamos ir da África do Sul para o Gabão, tínhamos que ir via Dubai ou Paris. Tentamos na África do Sul ter mais voos entre as cidades, e dar mais flexibilidade aos torcedores. No Brasil teremos que trabalhar com o governo para garantir que quem quiser voar entre as cidades-sede possa fazer sem problema. E que possa voar entre todas as cidades e o Rio. Talvez tenhamos de adicionar umas aeronaves", previu.

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