Não queremos exportar sol e vento com painéis feitos no exterior, diz assessor da Fazenda
João Resende defende que o país deve aproveitar a transição energética para reforçar a industrialização
Repórter de macroeconomia
Publicado em 27 de outubro de 2023 às 12h57.
Última atualização em 27 de outubro de 2023 às 15h26.
O governo brasileiro quer investir em energia verde , mas de uma forma que beneficie também a industrialização do país, de modo com que uma maior parte da riqueza gerada fique no Brasil.
"Não queremos ser exportadores de sol e vento a partir de um painel solar feito na China com carvão, com eletrolizador feito na Alemanha, e transportado em um navio feito em Singapura e replicar 500 anos de economia extrativista sem valor agregado", disse João Paulo de Resende, assessor especial do Ministério da Fazenda.
Resende fez um discurso na abertura do Congresso Brasil Competitivo. Os debates podem ser assistidos aqui e na home da EXAME. Dividido em três painéis, o evento aborda a nova política industrial brasileira e o futuro verde do setor, além de discutir os principais desafios para o financiamento da agenda climática brasileira.
"É como se a Arábia Saudita dissesse 'eu preciso colocar dinheiro de outros setores na produção de petróleo para podermos ser competitivos'. É uma coisa que precisa ser discutida, porque, ao fazer isso, a gente está exportando subsídio brasileiro para limpar a matriz de produão elétrica da Alemanha, da França, dos Estados Unidos, para eles produzirem bens industriais verdes", afirmou.
"A forma talvez mais inteligente, rica e benéfica para o Brasil participar desse processo é 'ora, venha produzir bens industriais aqui, venha fazer um aço verde, um cimento limpo", prosseguiu. "A principal solução que a gente quer vender para o mundo é um produto industrial com zero pegada de carbono."
"O Brasil já teve várias vezes grandes oportunidades e as perdeu. Hoje, temos uma condição extraordinária, e precisamos usar a nossa inteligência e capacidade de mobilização política para não perdemos essa oportunidade e conquistarmos uma posição em patamar internacional", disse Jorge Gerdau, presidente do conselho de administração da Gerdau, que também discursou no evento.
Patrícia Ellen, sócia da Systemiq e cofundadora da Aya Earth Partners, destacou que o próximo passo para o Brasil avançar na competitividade é se voltar para a economia de baixo carbono, pois o mundo está cada vez mais acordando para a necessidade de transição energética e o país não pode ficar para trás. "A gente parece sapos numa panela sendo fervidos. Os sapos não percebem que a panela está fervendo, e nós estamos sendo cozinhados e não entendemos a gravidade da situação", alertou.
“Precisamos não só exportar nossos commodities e nossos ativos, mas trazer o valor agregado para o Brasil. Em estimativas atualizadas e públicas da The Energy Transitions Commission (ETC), o mundo precisa aumentar em 20 vezes nos próximos 20 anos a produção de energia limpa. Essa conta não fecha. Uma outra forma de olhar é levar a produção de parte desses insumos para os países do chamado Sul global e especialmente para o Brasil, que é a grande referência hoje em energia", disse Ellen.
O deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) disse que o Congresso debate atualmente dois pontos importantes: a definição de um marco para o mercado de créditos de carbono e outro com definições para combustíveis do futuro, como novas formas de uso do etanol e a produção de SAF, o combustível sustentável de aviação, que o Brasil pode se tornar um grande produtor.
"O debate sobre eletrificação é mundial e o Brasil tem de participar disso com sua própria perspectiva. Não tenho dúvida de que podemos oferecer ao mundo a questão do híbrido etanol como um veículo diferenciado", disse Jardim.
O Congresso Brasil Competitivo é realizado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC) e pela Brasil AYA Earth Partners, ecossistema dedicado a acelerar a economia regenerativa e carbono zero do Brasil, além de ter a EXAME como parceiro de mídia.