Mourão estuda troca de sigla e novo cargo a disputar eleição em 2022
Ciente de que perderá vaga na chapa de Bolsonaro, vice quer deixar PRTB e pode sair a senador no RS ou ao governo no Rio
Agência O Globo
Publicado em 13 de junho de 2021 às 16h27.
Após receber sinais de que o presidente Jair Bolsonaro procurará outro companheiro de chapa em sua campanha à reeleição, o vice-presidente Hamilton Mourão começa a planejar seu futuro político, avaliando diferentes cenários. Além de uma possível candidatura ao Senado, já admitida publicamente, Mourão recentemente começou a cogitar até mesmo concorrer ao governo do Rio de Janeiro.
O mundo segue mudando.Siga em evolução com a EXAME Academy
Atualmente filiado ao PRTB, Mourão tem conversado com diversos partidos para discutir uma possível troca de legenda. Uma dessas conversas ocorreu há algumas semanas, com o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB. No encontro, no Clube Militar, no Rio, Mourão manifestou a intenção de ser candidato ao governo e questionou se o PTB estaria disposto a lhe dar a legenda. Jefferson viu a ideia com bons olhos e levou a questão para a cúpula do partido, que ainda estuda a possibilidade.
O GLOBO apurou que, embora a relação de Mourão com Bolsonaro não seja das melhores, o fato não é empecilho para que Jefferson, aliado do presidente, abrace a possível candidatura do general. A avaliação no PTB é que Bolsonaro de fato se afastou de Mourão, mas não teria "nada contra" o vice e nem atuaria para prejudicá-lo. E que a restrição a Mourão ocorreria por parte dos filhos do presidente. Pesa, ainda, a boa relação que Jefferson sempre manteve com o general. O PTB tem, cada vez mais, cultivado uma imagem de partido conservador, e aliados de Jefferson avaliam que a filiação de Mourão contribuiria com essa linha.
Outra legenda com a qual Mourão já teve conversas foi o Republicanos. O general procurou dirigentes da sigla no Rio Grande do Sul, estado no qual também avalia concorrer, mas como senador. Entretanto, foram apenas conversas iniciais que ainda não chegaram até o presidente do partido, o deputado federal Marcos Pereira (SP).
A permanência no PRTB, embora não descartada, é incerta. A maior ligação de Mourão com o partido era Levy Fidelix, presidente nacional da sigla, que morreu em abril. Após a morte de Fidelix, sua viúva, Aldinea, e seus filhos conversaram com Bolsonaro sobre uma possível filiação, mas a negociação não foi para frente. Uma das exigências do presidente é ter o controle total da sigla.
Em entrevista ao Valor Econômico em abril, dias após a morte de Fidelix, Mourão disse que "a princípio" deveria continuar no partido, mas ressaltou que era preciso aguardar a reestruturação da sigla.
Procurada, a assessoria de imprensa de Mourão negou que ele estude concorrer ao governo do Rio e disse que está sendo avaliada uma candidatura ao Legislativo.
Atritos
A relação entre Bolsonaro e Mourão começou a se desgastar na campanha eleitoral, quando o então candidato a vice deu declarações que geraram polêmicas, como quando falou na possibilidade de elaboração de uma nova Constituição. Bolsonaro a desautorizou Mourão publicamente. Depois, nos primeiros meses de governo, a situação piorou quando um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), fez diversos ataques públicos a Mourão, insinuando que ele teria interesse em assumir o cargo do pai. O vice devolveu algumas provocações. Na época, Bolsonaro fez um apelo público para um “ponto final” na discussão e a situação se acalmou.
Um dos pontos de atrito são as frequentes declarações de Mourão à imprensa.
Nos últimos meses, Mourão passou a reconhecer publicamente que sua relação com Bolsonaro está desgastada e que os dois têm poucas reuniões particulares. O presidente também passou a excluir o vice de algumas reuniões ministeriais.
Outro foco de desgaste foi o episódio em que um auxiliar de Mourão mandou mensagem para um assessor parlamentar dizendo que o vice era mais “preparado” que Bolsonaro. Mourão exonerou o auxiliar e disse que ele agiu sem o seu consentimento.
Na última sexta-feira, ao relatar que teve uma reunião com Bolsonaro para tratar de uma nova operação de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) na Amazônia, o vice disse que a relação está “tranquila”:
— Nossa relação está tranquila. É aquela história, o presidente sabe que tem a minha lealdade, sabe a forma como eu atuo, sabe o que eu penso. É uma questão de cada um se adaptar ao modo do outro. Eu mais do que ele, né. Porque, afinal de contas, ele é o presidente — disse.
Entenda como as decisões da Câmara e do Senado afetam seus investimentos. Assine a EXAME.