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Da Redação
Publicado em 31 de outubro de 2012 às 21h01.
Rio de Janeiro - Os moradores do Morro da Providência, a favela mais antiga do Brasil, resistem ao milionário plano de reurbanização do Centro do Rio de Janeiro promovido por ocasião dos Jogos Olímpicos de 2016, uma vez que o projeto prevê a demolição de centenas de casas.
O plano de reforma da zona portuária e de seus bairros próximos inclui a construção de um teleférico que subirá até o alto da favela, que tem sua origem no século 18 e que hoje conta com cerca de 5.500 habitantes, segundo dados oficiais.
O projeto contempla o despejo de quase mil pessoas cujas casas estão construídas em áreas de risco, consideradas vulneráveis a sofrer deslizamentos de terra.
As casas condenadas à demolição são identificadas com a sigla SMH, referente à Secretaria Municipal de Habitação, que é vista em diversas fachadas das residências que se proliferam em vielas com pouco mais de um metro de largura.
A presidente da associação de moradores, Maria Helena Santos, disse à Agência Efe que a Prefeitura abusou da denominação ''área de risco'' como desculpa para expulsar cerca de 20% das famílias para a construção de projetos que ela qualifica como ''turísticos'' por ocasião das Olimpíadas.
A Prefeitura do Rio construiu 800 casas para realojar a maioria das famílias que serão expulsas do Morro da Providência e oferece como alternativa uma indenização de cerca de R$ 30 mil para quem rejeitar essa opção.
Na opinião de Maria Helena, nenhuma dessas alternativas permite ao proprietário ficar no morro.
A arquiteta Lu Petersen, autora do livro ''Militância, Favela e Urbanismo'', considerou que o teleférico ''é um atentado à história do Rio de Janeiro'' por ocasionar tantas demolições neste bairro centenário.
Os primeiros assentamentos no morro remontam ao século 18, segundo os historiadores, e se intensificaram na segunda metade do século 19 com o auge do comércio no porto do Rio, a capital do império brasileiro recém-independente.
Após o fim da Guerra de Canudos, em 1897, centenas de soldados sem lar se instalaram na área, que então passou a ser chamada Favela, em alusão a uma planta homônima (Cnidoscolus quercifolius) muito comum no Nordeste.
Posteriormente, o bairro pobre se expandiu nas décadas seguintes com a chegada de imigrantes espanhóis e portugueses, como foi o caso dos bisavôs de Lúcia Oliveira Silva, de 54 anos, que vive no lugar onde seus antepassados ergueram seu primeiro barraco.
''Está me matando ver como retiram os moradores originais do bairro'', disse Lúcia à Efe, antes de expressar o temor de ser expulsa do local onde sempre viveu com sua família.
Até agora, cerca de 130 famílias foram desalojadas da favela, segundo relatou o fotógrafo e líder comunitário Mauricio Hora, que reivindicou que a transformação do bairro seja feita ''de maneira participativa''.
O projeto da Prefeitura, com um orçamento de R$ 131 milhões, contempla a construção de uma creche e um centro esportivo, a melhoria do serviço de água e esgoto e o alargamento de algumas vielas.
O teleférico, com capacidade para transportar mil pessoas por hora, ligará o alto do morro à Central do Brasil, uma das principais estações de trem e metrô do Rio.