Sergio Moro: atual ministro da Justiça teve suas conversas por celular com os procuradores responsáveis pela Lava Jato vazadas (Valter Campanato/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de junho de 2019 às 17h33.
Última atualização em 12 de junho de 2019 às 08h35.
Brasília — O ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, tentou nesta terça-feira, 11, contornar o desgaste causado com a divulgação de supostas mensagens trocadas com o procurador Deltan Dallagnol, nas quais eles discutem detalhes da Operação Lava Jato. Logo pela manhã, se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro para tratar do assunto e, mais tarde, almoçou com senadores, com quem combinou que irá voluntariamente explicar o episódio em comissões da Câmara e do Senado.
A primeira audiência foi agendada para a próxima quarta-feira na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Na tentativa de evitar pressões para a abertura de uma CPI, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e outros senadores aconselharam o ministro da Justiça a se antecipar para comparecer de forma espontânea ao colegiado.
A investida de Moro para evitar desgaste no Congresso ocorre diante do silêncio do presidente Jair Bolsonaro, que até o momento não se pronunciou publicamente sobre o caso. Nesta terça, em visita a São Paulo, o presidente encerrou uma entrevista quando foi questionado sobre as suspeitas que recaem sobre o seu "superministro".
O almoço desta Terça com senadores não estava previsto na agenda do ministro. Foi Moro quem puxou o assunto das mensagens vazadas, segundo relatos de participantes. Ele repetiu aos parlamentares que foi alvo de uma ação criminosa. Alertado por um senador de que não estava ali para se explicar, passou a falar de temas relacionados ao trabalho no ministério. O encontro durou cerca de duas horas.
Segundo Alcolumbre, a expectativa é de que Moro não encontre um clima hostil no Senado na semana que vem. "Chance zero, ele é ministro da Justiça do governo federal e tem a confiança do presidente. O Congresso vai fazer sua parte", disse. O senador também colocou dúvidas sobre o conteúdo das mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil. "As informações são graves. Nós sabemos se esses conteúdos são todos verdadeiros? A gente tem que avaliar, cada dia com sua agonia."
O The Intercept Brasil publicou conversas que seriam atribuídas a Moro e a procuradores da Operação Lava Jato em Curitiba, nas quais o ex-juiz supostamente sugeriu mudança de ordem nas fases da investigação, além de dar conselhos, fornecer pistas e antecipar uma decisão a Dallagnol. Nas mensagens, há referências ao processo que levou à condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex do Guarujá. Numa outra conversa, conforme o site, o procurador teria demonstrado dúvidas sobre provas pouco antes de apresentar a denúncia. O The Intercept Brasil diz que recebeu o conteúdo de fonte anônima. A reportagem não teve acesso à íntegra do material.
A Polícia Federal investiga ataques de hackers aos celulares dos procuradores da Lava Jato e do ministro.
Na CCJ do Senado, embora Moro tenha conseguido escapar de uma convocação, Dallagnol pode ser obrigado a se explicar. Um requerimento apresentado pelo senador Angelo Coronel (PSD-BA) e deve ser colocado nesta quarta-feira, 12, em votação. A oposição é minoria no colegiado, com apenas 8 dos 27 integrantes.
O clima ameno esperado por Alcolumbre, porém, não deve se repetir na Câmara. Ainda não há data marcada para a visita de Moro, mas a expectativa é de que seja no dia 26.
A oposição na Casa decidiu nesta terça obstruir todas as votações para pressionar o ministro a deixar o governo. "As denúncias sobre a conduta do ministro Sérgio Moro e do Ministério Público são gravíssimas. Indicam conluio, comportamento inadequado para aqueles agentes públicos", afirmou o deputado Orlando Silva (PC do B-SP).
Nem mesmo o PSL, partido de Bolsonaro, se comprometeu em defender o ministro. O Moro nem é filiado ao PSL, tá certo?", justificou o presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PSL-PE). Segundo ele, cada parlamentar é livre para se manifestar sobre o caso, mas não haverá uma ação conjunta.
Enquanto o presidente mantém silêncio, ministros militares elogiam Moro e dizem que "escutas criminosas" não devem servir como prova para "manchar" a biografia do titular da Justiça, classificado pela caserna como um homem de conduta irretocável.
Nesta terça-feira, foi a vez de o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército e assessor especial no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), publicar um texto em seu Twitter no qual sai em defesa de Moro. O general da reserva disse que o momento atual é "preocupante" e chamou a Lava Jato de "esperança" para a normalização ética das relações institucionais do Brasil.
"Momento preocupante o que estamos vivendo, porque dá margem a que a insensatez e o oportunismo tentem esvaziar a operação Lava Jato", escreveu o militar.
Peritos da Polícia Federal estiveram na sede do Ministério da Justiça, em Brasília, na última semana para coletar dados do celular do ministro Sérgio Moro. Conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo, a PF instaurou inquéritos para investigar ataque de hacker ao celular do ministro e de procuradores que trabalham na Operação Lava Jato em Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Moro denunciou o ataque há quatro dias.
O procedimento é padrão nesse tipo de investigação. Os peritos espelham os dados do celular atingido para tentar rastrear a origem dos ataques. A cópia dos dados permite obter o histórico de ligações e a utilização de aplicativos, como o Telegram, por meio do qual Moro conversava com procuradores.
A PF suspeita que a ação pode ter sido planejada para atingir a Operação Lava Jato. Segundo os investigadores, Moro atendeu a uma ligação que tinha como origem o seu próprio número de celular, quando percebeu o ataque. O ministro não tinha dupla verificação do Telegram.