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Moro não responde se PF solicitou informações de Glenn ao Coaf

Desde o início da sessão os parlamentares questionam se a Polícia Federal fez solicitações envolvendo o editor do site The Intercept Brasil

Moro: o ministro afirmou que não participa das investigações e que, essa questão deve ser feita "ao órgão certo" (Pablo Valadares/Agência Câmara)

Moro: o ministro afirmou que não participa das investigações e que, essa questão deve ser feita "ao órgão certo" (Pablo Valadares/Agência Câmara)

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Clara Cerioni

Publicado em 2 de julho de 2019 às 17h46.

Última atualização em 2 de julho de 2019 às 18h05.

São Paulo — Em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, foi questionado diversas vezes se a Polícia Federal solicitou ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) um relatório sobre as atividades financeiras do jornalista Glenn Greenwald, editor do The Intercept Brasil, como noticiou mais cedo o site O Antagonista.

Apesar da insistência dos parlamentares desde o início da sessão, às 14h30, o ministro respondeu à pergunta apenas quando o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) pediu questão de ordem, por volta das 17h40.

"O ministro precisa responder às perguntas que estão sendo feitas. Foi questionado aqui, diversas vezes, se a PF, se o Coaf estão investigando o jornalista e o ministro não responde", disse o petista.

Moro, então, afirmou que não participa das investigações e que, essa questão deve ser feita "ao órgão certo". A Polícia Federal está subordinada à pasta da Justiça, chefiada por Moro, e o Coaf à Economia.

Após a reportagem do Antagonista, EXAME procurou o Ministério da Economia para confirmar as informações. Por e-mail, a equipe de comunicação da pasta afirmou que "não tem conhecimento de nenhum pedido por parte" da PF.

Além disso, também disse que "não é função do Coaf realizar investigações, o que faz é encaminhar às autoridades competentes de investigação – geralmente Ministério Publico e/ou Polícia Federal - informações sobre movimentações financeiras atípicas".

Indagada diversas vezes nesta tarde, para confirmar ou negar a informação, a PF não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Argumentos

Apesar de seguir sem reconhecer a autenticidade de mensagens atribuídas a si mesmo em supostos diálogos com o procurador Deltan Dallagnol, o ministro tentou explicar e demonstrar que, mesmo se verdadeiras, as comunicações não representariam crimes. "São coisas absolutamente triviais dentro do cenário jurídico", disse.

Moro leu, por conta própria, o diálogo que consta nas mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil envolvendo a atuação da procuradora da República Laura Tessler, e afirmou que não havia ali qualquer sugestão de que ela fosse substituída, ao contrário do que afirmado por deputados da oposição.

"Prezado, a colega Laura Tessler de vocês é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem", leu o ministro sobre o diálogo que ele não reconhece. "Tem aqui pedido de substituição? Aqui não tem!", afirmou Moro, acrescentando que "pessoas têm direito a opinião, mas não têm direito a seus próprios fatos". 

A afirmação de que Moro orientou a substituição da procuradora Laura Tessler porque ela não estava se saindo bem em audiências com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva partiu de deputados como Erica Kokay (PT-DF).

"É trivial orientar substituição de procurador", disse Kokay, citando um termo (trivial) que o ministro usou mais cedo na sessão ao dizer que os conteúdos — se verdadeiros — não eram fora do comum.

Em outra ocasião que tentou explicar frases apesar de não reconhecer como dele próprio, Moro disse que confia em ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de maneira geral. A referência era à mensagem "In Fux We Trust", atribuída a ele em uma das reportagens publicadas com base nos conteúdos obtidos pelo The Intercept Brasil.

"Eu não reconheço mais uma vez a autenticidade. Pode ter algumas mensagens ali que eu tenha mandado. A referência lá: confia no ministro do Supremo Tribunal Federal. Bem, eu confio. Sempre tratei respeitosamente os ministros do Supremo Tribunal Federal. Aliás, se tivesse alguma mensagem ofensiva, provavelmente, já teria saído. Mas eu sempre tratei eles com absoluto respeito. Agora não posso confirmar a autenticidade porque pode ter ali algum material que tenha sido alterado", disse.

A sessão começou por volta das 14h30, com uma exposição inicial de 20 minutos de Moro. Agora, cada deputado inscrito têm o direito de falar por três minutos. Líderes têm tempo proporcional à representação do partido, de três a dez minutos. Em cada bloco de perguntas falam três deputados e um líder. Moro tem sete minutos para responder.

"Entregue o celular"

O deputado José Guimarães (PT-CE) propôs durante a audiência, que o ministro assine um termo de compromisso para que entregue seu celular aos parlamentares. Ele desafiou o ex-juiz da Lava Jato, que condenou e prendeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Eu queria iniciar. Vossa Excelência assinaria essa declaração para a imprensa, nos termos que o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) propôs entregando o seu celular para esta Comissão de Constituição e Justiça ou para algum órgão de investigação? Por que eu coloco isso? Para a verdade ser restabelecida. Vossa Excelência fala: eu não lembro, eu não sei", afirmou, referindo-se a palavras do próprio Moro.

José Guimarães prosseguiu. "'Eu não tenho mais as mensagens'. É fácil, assine. Ao assinar, Vossa Excelência está firmando um compromisso com a ética e com a verdade", concluiu o petista.

Moro respondeu. "Sobre declaração, desculpe, deputado, mas aí é um puro teatro. Eu já respondi aqui no início dizendo que em 4 de junho meu aparelho celular sofreu uma tentativa de ataque. O aparelho foi entregue à Polícia Federal para perícia. Quer que eu entregue de novo? Está na PF, realizando exame. Em algum momento vai chegar laudo pericial sobre o aparelho. Não tenho nada a esconder."

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