Ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro deve se pronunciar nesta quinta, 11, de manter Lava Jato só até janeiro (Andressa Anholete/Getty Images)
Carla Aranha
Publicado em 9 de setembro de 2020 às 22h08.
Última atualização em 9 de setembro de 2020 às 22h28.
Segundo apuração de Exame, Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Operação Lava Jato, deve se pronunciar nesta quinta-feira, dia 10, por meio de suas redes sociais, sobre a decisão do procurador-geral da República, Augusto Aras, de prorrogar o prazo para a operação da força-tarefa apenas até 31 de janeiro de janeiro de 2021.
Nos bastidores da Lava Jato, a decisão de Aras é vista como um gesto para encerrar rapidamente as investigações contra políticos e membros do Executivo que possam estar envolvidos em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Os membros da Lava Jato haviam pedido pelo menos um ano a mais da continuidade dos trabalhos de investigação. Aras tinha até o dia 10 de setembro para tomar uma decisão, mas decidiu antecipar seu posicionamento.
“Isso nos leva, a meu ver, a uma discussão relevante de que nós temos que construir melhores sistemas que garantam independência e autonomia dos órgãos de controle pra que nós tenhamos um cenário melhor", afirmou Moro em um evento realizado em agosto. “Existe um establishment afetado pela Lava Jato".
Nesta quarta-feira, dia 9, a Operação Lava Jato alcançou o advogado Eduardo Martins, filho do recém-empossado presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Humberto Martins. Eduardo foi acusado de receber cerca de 82 milhões de reais em propina da Fecomércio do Rio de Janeiro em troca de um tráfego de influência junto ao STF.
Um dos principais objetivos era proteger o empresário Orlando Diniz, presidente da Fecomércio, acusado de estar metido em um esquema de corrupção que, segundo a Lava Jato, integra as atividades de uma organização criminosa liderada pelo ex-governador Sergio Cabral.
A força-tarefa da Lava Jato realizou um cruzamento de provas obtidas nas delações premiadas de Orlando Diniz e do doleiro Álvaro Novis, acusado de fazer parte do grupo do ex-governador Sérgio Cabral.
Atualmente, há apenas 14 procuradores cedidos para trabalhar nos processos relacionados à maior operação de combate à corrupção no país, que resultou na prisão de centenas de políticos e empresários.
A Lava Jato vive um de seus momentos mais delicados. A crise atingiu o auge na semana passada, com a saída do coordenador da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol. Ele alegou, em postagens nas mídias sociais, que o motivo de seu afastamento foi a saúde frágil de sua filha de dois anos.
Na Lava-Jato em São Paulo, sete procuradores solicitaram desligamento dos trabalhos na operação até o final deste mês. A lista inclui a coordenadora do grupo, Janice Ascari. Nesse cenário, o posicionamento de Sérgio Moro pode jogar ainda mais lenha na fogueira na disputa de interesses ao redor da Lava Jato ou ajudar a esclarecer um panorama incerto, permeado por incertezas.