O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas (Wilson Dias/ABr)
Da Redação
Publicado em 4 de março de 2015 às 20h37.
Brasília - A espera pela divulgação oficial da lista de políticos envolvidos na operação Lava Jato agrava o clima de tensão no Congresso e esse ambiente de ansiedade prejudica ainda mais as discussões de propostas que aguardam para serem analisadas na Câmara e no Senado.
Na avaliação do ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, há muita especulação e por isso é preciso esclarecer logo para reduzir "uma certa ansiedade”.
A expectativa entre os parlamentares por causa da lista de políticos envolvidos nas investigações só torna ainda mais conturbada a relação entre o Executivo e sua base aliada, já que há indícios de que os partidos da coalizão governista podem ser os mais atingidos.
Na terça-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) 28 pedidos de inquérito para investigar 54 pessoas, com ou sem mandato parlamentar, suspeitas de envolvimento num esquema bilionário de corrupção na Petrobras, investigado pela operação Lava Jato. Os nomes não foram divulgados, porque a investigação está sob segredo de Justiça.
No STF, a expectativa é que o ministro Teori Zavascki, relator das ações da operação Lava Jato, retire o sigilo sobre a lista de 54 pessoas e divulgue a íntegra dos pedidos de Janot na sexta-feira, segundo disse à Reuters uma fonte do Supremo.
“A operação Lava Jato obviamente causa apreensão no Congresso”, disse o ministro Pepe Vargas a jornalistas nesta quarta-feira, após participar de uma reunião da presidente Dilma Rousseff com os líderes aliados do Congresso. “Há muita especulação em torno desse tema”, afirmou. Horas depois, após se reunir com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ministro foi mais direto.
“O importante é que essa lista venha logo, que se tire o sigilo em cima dela até para que a coisa fique clara e transparente e tire esse clima, digamos assim, de uma certa ansiedade, de especulações”, afirmou. “É óbvio que esse ambiente não é o mais saudável para discutir essas questões (de pautas do governo no Congresso)”, acrescentou.
Essa tensão política ocorre num momento em que o governo precisa dos aliados mobilizados para aprovar medidas que alteram benefícios trabalhistas e previdenciários e reduzem desonerações tributárias para vários setores da economia para conseguir fazer um forte ajuste fiscal e evitar, com isso, a perda do grau de investimento por parte das agências internacionais. O ministro disse ainda que não há interesse nenhum do governo na “fragilização do Congresso”, uma possível consequência das investigações dos políticos na operação da Lava Jato.
Um dos políticos que supostamente estariam na lista de pedidos de abertura de inquérito é o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que nesta quarta negou que tenha sido avisado por Janot sobre seu envolvimento. “Eu não fui informado de nada, tão logo eu seja informado de alguma coisa eu darei as respostas que a sociedade está cobrando. Eu não tenho absolutamente nada a ver com isso", disse. "Qualquer questionamento que me fizerem, e na democracia é importante que se façam questionamentos, eu estarei pronto para dar as respostas à luz do dia”, afirmou Renan nesta quarta a jornalistas.
A Lava Jato investiga um esquema de corrupção em que empreiteiras teriam formado cartel para participar das licitações de obras da estatal e pagariam propina a funcionários da empresa, operadores que lavariam dinheiro do esquema, políticos e partidos.
O envolvimento de parlamentares é investigado com base nos depoimentos de delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.
Até agora, 40 pessoas respondem a processo na Justiça Federal no âmbito da Lava Jato. Entre elas, dois ex-diretores da Petrobras --além de Costa, o ex-chefe da área internacional Nestor Cerveró-- e 23 réus ligados a seis das maiores empreiteiras do país.