Ministro da Justiça aparece em grampo da Operação Carne Fraca
Na conversa interceptada, o ministro chama o fiscal apontado como líder de esquema de “grande chefe” e questiona sobre problemas em um frigorífico no PR
Talita Abrantes
Publicado em 17 de março de 2017 às 11h04.
Última atualização em 17 de março de 2017 às 18h17.
São Paulo – O ministro da Justiça, Osmar Serraglio , aparece em grampo telefônico capturado pela Polícia Federa ldurante as investigações da Operação Carne Fraca,que desde o início da manhã desta sexta-feira (17) mira um esquema de pagamento de propina de grandes frigoríficos a fiscais do Ministério da Agricultura , Pecuária e Abastecimento .
Na conversa interceptada, Serraglio, que assumiu o ministério da Justiça neste mês, conversa com Daniel Gonçalves Filho, superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016 e apontado pelos investigadores da Operação Carne Fraca como o “líder da organização criminosa”.
De acordo com a decisão que embasa a operação de hoje, no diálogo, o hoje ministro chama Gonçalves de “o grande chefe” e o informa sobre problemas que um frigorífico de Iporã, cidade no noroeste do Paraná, estaria tendo com a fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Ele se refere ao frigorífico Larissa. Veja o trecho da conversa revelado pela PF:
"OSMAR: Grande chefe, tudo bom?
DANIEL: Tudo bom.
OSMAR: Viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá sabendo?
DANIEL: Não.
OSMAR: O cara lá, que ... o cara que tá fiscalizando lá ... apavorou o Paulo lá, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico .. botô a boca ... deixou o Paulo apavorado! Mas para fechar tem o rito, num tem? Como que funciona um negócio desse?
DANIEL: Deixa eu ver o que tá acontecendo .. tomar pé da situação lá, tá? ... falo com o senhor."
Gonçalves, então, liga para Maria do Rocio Nascimento, chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura no Paraná, e conta “que o fiscal de Iporã quer fechar o frigorífico Larissa e pede que ela averigue o que está acontecendo”.
Maria afirma que não há nada de errado com o frigorífico. A informação é, então, repassada ao ministro.
De acordo com o delegadoMauricio Moscardi Grillo, as ligações do ministro da Justiça foram tratadas na operação com contexto separado e foram encaminhadas para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
“Naquele momento, não houve ato errado que pudesse ser concluído no contato de Serraglio com uma pessoa investigada”, disse o delegado. “Não conseguimos concluir se houve interferência de Serraglio no esquema.”
Com a palavra, o ministro
Em nota, o ministro da Justiça afirmou que a operação é um exemplo “cabal” de que respeita a autonomia da PF e que soube da citação de seu nome na investigação “como um cidadão comum ”.
“Se havia alguma dúvida de que o ministro Osmar Serraglio, ao assumir o cargo, interferiria de alguma forma na autonomia do trabalho da Polícia Federal, esse é um exemplo cabal que fala por si só”, diz a nota.
“A conclusão tanto pelo Ministério Público Federal quanto pelo juiz federal é a de que não há qualquer indício de ilegalidade nessa conversa degravada”, acrescenta a nota.
Operação Carne Fraca
A operação Carne Fraca investiga fraudes em fiscalizações do Ministério da Agricultura com um esquema de pagamento de propina, envolvendo duas das maiores companhias globais da indústria de carnes, a JBS e a BRF.
Segundo os investigadores, os frigoríficos pagavam propinas a fiscais para que fizessem vista grossa a irregularidades. Esta é a maior operação da história da Polícia Federal. No total, mais de 1,1 mil policiais participam das investigações.