Desmatamento na Amazônia. (Getty Images/Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 18 de outubro de 2017 às 10h20.
Última atualização em 18 de outubro de 2017 às 11h07.
São Paulo - A mineração foi responsável por quase 10% de todo o desmatamento da Amazônia no período de 2005 a 2015, o que equivale a uma área de 11,7 mil quilômetros quadrados.
Parte de um estudo inédito publicado nesta quarta-feira na revista científica Nature Communications, a descoberta vem na esteira de investidas do governo para aliviar ainda mais as regulamentações ambientais, e aponta a necessidade de se elevar as restrições à mineração em áreas protegidas e indígenas.
Segundo o estudo, liderado pela Universidade de Vermont, cerca de 90% do desmatamento relacionado à mineração ocorreu fora das áreas de concessão para mineração. Porém, a atividade com "carimbo oficial" acaba por abrir caminho para atividades ilegais e predatórias.
Os pesquisadores apontam que o estabelecimento da infraestrutura para a mineração, como moradia para trabalhadores, novas rotas de transporte, estradas, ferrovias e aeroportos acabam por permitir outras formas de desmatamento, incluindo garimpo ilegal e agricultura, que continua a ser a principal causa da perda de floresta amazônica.
Conforme a pesquisa, o desmatamento induzido pela mineração foi 12 vezes maior fora das áreas de concessão do que dentro delas, estendendo-se por até 70 quilômetros além das fronteiras das minas.
"Esses resultados mostram que a mineração agora é uma causa substancial da perda da floresta amazônica", diz Laura Sonter, do Instituto Gund de Meio Ambiente da Universidade de Vermont. "As estimativas anteriores apontavam que a mineração causara talvez um ou dois por cento do desmatamento. O limiar de 10% é alarmante e demanda ação".
Atualmente, quando as empresas se candidatam à concessão para mineração, elas não precisam explicar ou propor estratégias para lidar com nenhum dano que suas operações possam causar fora da área concedida, dizem os pesquisadores.
"A mineração representa riscos significativos para as florestas tropicais em todo o mundo. No entanto, raramente a produção mineral é considerada um motor significativo de desmatamento extensivo. Nossos resultados revelam implicações importantes para a conservação da floresta no Brasil. As políticas governamentais atuais não consideram a extensão total do desmatamento induzido pela mineração", alertam.
Para o estudo, pesquisadores acompanharam as mudanças de paisagem em torno das 50 maiores minas ativas da Amazônia, analisando 10 anos de dados de desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).