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Metanol: como universidades auxiliam na prevenção de intoxicações

Projetos da UEPB, Unesp e UFPR permitem detectar metanol em minutos

Agência o Globo
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Publicado em 7 de outubro de 2025 às 07h59.

Em meio à escalada de casos de suspeita de metanol no país, universidades brasileiras se mobilizaram com iniciativas que auxiliam na detecção da substância em bebidas alcoólicas.

No sábado, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), articulou uma reunião virtual com o ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) e pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), que trabalham em um método capaz de identificar o metanol em minutos.

A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores paraibanos emite luz infravermelha sobre a garrafa, e um software analisa a movimentação das moléculas dentro do recipiente, possibilitando a identificação de substâncias suspeitas. Há ainda um canudo em desenvolvimento que muda de cor ao entrar em contato com o metanol. Em nota, a UEPB afirmou que será feito o detalhamento técnico do projeto junto ao Ministério da Saúde, seguido de um plano para viabilizar o uso prático da tecnologia.

Como funcionam os métodos de detecção

"Existe uma série de fraudes que podem atingir as bebidas, desde rótulos enganosos até a adição de substâncias nocivas. Bebidas alcoólicas podem ter adição de água ou, se o processo de preparação não for adequado, presença de metanol. A pesquisa impregna um canudo com uma substância específica que reage com o metanol, mudando de cor por capilaridade", explica Germano Veras, doutor em Química Analítica e professor da UEPB.

O projeto, financiado pelo governo estadual, começou com a análise de cachaça local, mas também pode ser aplicado a outros destilados como gin, vodca e uísque, consumidos pelos pacientes intoxicados. Diferente dos casos tradicionais, a onda recente ocorreu em bares e estabelecimentos comerciais, enquanto antes a intoxicação por metanol estava mais ligada ao consumo de combustíveis por população de rua.

Outro método é da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Em 2022, pesquisadores do Instituto de Química, em Araraquara, desenvolveram um processo em duas etapas para detectar adulterações em gasolina, etanol e bebidas alcoólicas. Primeiro, um sal é adicionado ao líquido e, em contato com o metanol, transforma-se em formol. Depois, um ácido muda a coloração da solução, indicando a presença da substância.

"A reação leva cerca de 15 minutos para etanol e bebidas alcoólicas, e 25 minutos para gasolina. Após esse tempo, a mistura já pode ser classificada", explica a química Larissa Modesto, que desenvolveu o projeto durante o mestrado.

O método da Unesp chegou a ser patenteado no INPI, mas não se tornou um produto comercial. A ideia era criar um kit que reduziria os custos da detecção de R$ 500 para cerca de R$ 15, identificando com precisão o teor de metanol.

Análises laboratoriais à população

Desde a última quinta-feira, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) passou a oferecer análise de bebidas alcoólicas pelo Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear. Interessados devem enviar 5 ml da bebida por e-mail e recebem o resultado em poucos minutos.

"Colocamos a amostra em um porta-amostra dentro do equipamento de ressonância magnética nuclear. Conseguimos diferenciar o etanol do metanol, cuja diferença química é mínima, mas que no corpo humano faz grande diferença", explica o professor Kahlil Salome, vice-coordenador do laboratório.

Casos e impacto econômico

O Paraná tem dois casos confirmados, com outros dois em análise. No país, são 225 ocorrências, sendo 16 confirmadas como causadas pelo metanol. Em São Paulo, duas pessoas morreram após ingerir a substância. Há casos suspeitos na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.

Em São Paulo, que concentra a maior parte dos casos investigados, a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado (Fhoresp) estima perdas de até 50% em receitas com destilados em alguns estabelecimentos.

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