Marcelo Odebrecht, CEO da Odebrecht: advogados prestaram esclarecimentos sobre o conteúdo das mensagens, encontradas na agenda do aparelho celular do executivo (REUTERS/Enrique Castro-Mendivil)
Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2015 às 22h16.
A defesa do presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia, declarou hoje (27) à Justiça Federal em Curitiba, que as mensagens encontradas pela Polícia Federal (PF) eram “anotações pessoais a si mesmo dirigidas”.
A pedido do juiz federal Sérgio Moro, os advogados prestaram esclarecimentos sobre o conteúdo das mensagens, encontradas na agenda do aparelho celular do executivo, que está preso em Curitiba.
Em tom crítico à atuação de Moro, que determinou a prisão de Odebrecht, os advogados afirmaram que as mensagens eram “manifestações unilaterais de seu pensamento”, e não tinham conteúdo criminoso, conforme apontado pela PF.
“O peticionário deplora o rematado absurdo de se considerar anotações pessoais a si mesmo dirigidas, meras manifestações unilaterais de seu pensamento, como atos efetivamente executados ou ordens de fato passadas. Ainda que o conteúdo dos registros fosse aquele nascido das criativas mentes policiais, rematado absurdo, nada indica que eles de algum modo tiveram repercussão prática, ou seja, que foram de fato implementados ou determinados a terceiros”, declarou a defesa.
Os defensores também disseram que Moro encampou a interpretação da PF sobre as mensagens. “Impressiona, igualmente, a dubiedade do discurso de Vossa Excelência. De um lado, quando intima a defesa, assevera que ‘tudo está sujeito à interpretação’. De outro, porém, antes mesmo de ouvir explicações, prende novamente quem já está preso dando por certo aquilo tudo que estava sujeito à interpretação! Isto é: mesmo sem poder assegurar o sentido das anotações, e muito menos se elas surtiram efeito prático, Vossa Excelência não hesitou em empregá-las para o mais drástico propósito”, disse a defesa.
Os advogados também questionaram o trabalho da Polícia Federal. “Ao que parece, quem tem um plano em andamento é uma parcela da própria PF: expiar seus aparentes pecados à custa de Marcelo, para tanto subvertendo o sentido de palavras e adivinhando o significado de siglas na forma que lhe convém”, argumentaram.
Durante as investigações, a PF encontrou as seguintes anotações no celular de Marcelo Odebrecht: “MF/RA: não movimentar nada e reembolsaremos tudo e asseguraremos a família. Vamos segurar até o fim. Higienizar apetrechos MF e RA. Vazar doação campanha. Nova nota minha mídia? GA, FP, AM, MT, Lula? E Cunha?”.
De acordo com o juiz Moro, as siglas MF e RA podem fazer referência a Márcio Faria e Rogério Araújo, executivos da empreiteira investigados na Lava Jato. Para Moro, as frases indicam que subordinados a Marcelo Odebrecht foram orientados a não movimentar suas contas e que seriam reembolsados, caso uma decisão judicial determinasse o congelamento dos valores.
“A referência a ‘higienizar apetrechos' e ‘MF e RA’ sugerem destruição de provas, com orientação para que os aparelhos eletrônicos utilizados por Márcio Faria e Rogério Araújo fossem limpos, ou seja, que fossem apagadas mensagens ou arquivos neles constantes eventualmente comprometedores. ‘Vazar doação campanha’ é algo cujo propósito ainda deve ser elucidado, mas pode constituir medida destinada a constranger os beneficiários”, completou Moro.
Em outra mensagem interceptada pela PF, Marcelo Odebrecht cita a frase “Trabalhar para parar/anular (dissidentes PF...)”. A mensagem foi considerada por Moro como trecho mais “perturbador”.