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Mendes critica redução de foro, mas baixa processo contra parlamentar

Ministro decidiu retirar do seu gabinete uma ação penal que investiga o deputado federal Édio Lopes (PR-RR), com base no novo entendimento do STF

Gilmar Mendes: "A experiência indica que as instâncias ordinárias estão menos providas de recursos do que o Supremo Tribunal Federal" (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Gilmar Mendes: "A experiência indica que as instâncias ordinárias estão menos providas de recursos do que o Supremo Tribunal Federal" (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de maio de 2018 às 15h56.

Brasília - O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), reforçou nesta terça-feira, 15, as críticas à decisão da Corte de reduzir o alcance do foro privilegiado para deputados federais e senadores.

Em conferência com militares, Gilmar disse na manhã desta terça que a medida não vai dar certo, afirmou que os próximos desdobramentos vão trazer uma radiografia da Justiça Criminal em todo o País e ressaltou que o STF terá de rediscutir o tema "com uma dose maior de realismo".

Apesar das críticas, o ministro decidiu retirar do seu gabinete uma ação penal que investiga o deputado federal Édio Lopes (PR-RR), com base no novo entendimento do STF - de que o foro privilegiado para parlamentares só vale para os crimes cometidos no exercício do mandato e em função do cargo. Foi o primeiro caso que Gilmar baixou para a primeira instância.

"Vai dar certo (reduzir o foro)? Estimo que sim. Espero que sim. Acho que não. A experiência indica que as instâncias ordinárias estão menos providas de recursos do que o Supremo Tribunal Federal. E certamente, se o mensalão tivesse sido julgado nas instâncias ordinárias muito provavelmente nós teríamos ainda o pequeno poder", disse Gilmar Mendes.

"Foi o Supremo que julgou (o mensalão) e o fez de maneira compacta aqui. É claro que nos sobreonera, nós paramos quatro meses do plenário para julgar", completou o ministro.

Crime

Gilmar destacou que as Forças Armadas estão "engajadas" no tema da segurança pública, mas observou que também é fundamental uma justiça criminal eficiente para combater a prática de delitos.

"Eu tenho dito com certo sarcasmo, mas infelizmente com certo realismo, que a justiça criminal brasileira para ficar ruim precisa melhorar muito. Este é um fato da realidade. Tinha achado que é virtuoso o debate sobre o foro porque inevitavelmente ele vai nos trazer alguma radiografia da questão da Justiça Criminal. De modo que vamos discutir essa temática com uma dose maior de realismo", frisou Gilmar.

Processo

Em decisão assinada na última sexta-feira, 11, Gilmar decidiu encaminhar para a primeira instância uma ação penal que investiga o deputado Édio Lopes.

Lopes é investigado pela prática de peculato, sob a suspeita de ter desviado dinheiro público entre janeiro de 2005 e dezembro de 2006, época em que era deputado estadual de Roraima. O parlamentar é acusado de indicar três pessoas para trabalharem em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Estado de Roraima sem exigir a prestação dos serviços correspondentes.

"Trata-se de fatos alheios ao mandato de parlamentar federal. Ante o exposto, declino da competência para a Comarca de Boa Vista/RR", decidiu Gilmar.

Procurado pela reportagem, o gabinete do deputado Édio Lopes não havia se pronunciado até a publicação deste texto.

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