Lula só será solto se "a gente" assumir o poder, diz Ciro Gomes
Ex-presidente está preso desde 7 de abril em uma sala especial na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de julho de 2018 às 11h18.
Última atualização em 12 de setembro de 2018 às 07h34.
Texto publicado em 25 de julho de 2018
O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes , afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - preso e condenado na Operação Lava Jato - só terá chance de sair da cadeia se ele, Ciro, for eleito. A frase foi dita em entrevista concedida ao programa Resenha, da TV Difusora, no Maranhão, no dia 16 deste mês.
"Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político", afirmou Ciro. A emissora disse que a entrevista foi ao ar no mesmo dia. Procurada, a assessoria de Ciro não respondeu até a publicação desta matéria.
O ex-presidente está preso desde 7 de abril em uma sala especial na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Ele foi condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) a 12 anos e 1 mês, além de ter de pagar multa no valor total de 1.400 salários mínimos (cerca de R$ 1 milhão), pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP).
A frase foi dita no contexto de uma resposta ao jornalista Itevaldo Júnior em que o pedetista tentava explicar a estratégia do PT de insistir na candidatura de Lula - mesmo após a condenação em segunda instância da Justiça e prisão. "Estão cansados de saber que eles não vão deixar o Lula ser candidato, pela Lei da Ficha Limpa que o próprio Lula botou pra valer."
Ainda na resposta, Ciro descreve aquilo que o PT estaria pensando: "Nós (PT) vamos manter a candidatura do Lula, continuar dizendo que ele é candidato e, lá pelo meio de setembro, que a Justiça disser que o Lula não é candidato, o Lula, então, diria assim: 'Então, se não vão me deixar, vai ser fulano'".
O pedetista afirmou que o Brasil "não aguenta um presidente por procuração a uma altura dessas" - se referindo a um presidenciável que fosse escolhido por Lula. "Eu gosto muito do Lula, mas, só porque gosto muito, ele vai apontar outra Dilma (Rousseff)", disse Ciro, ao sugerir qual seria a reação do eleitor simpático ao ex-presidente. "O Brasil está em um momento muito difícil, precisando de pulso, liderança, autoridade até para corrigir a carga."
Ao se referir à "carga", Ciro diz: "Você imagina se, com um cabra desse do outro lado (candidato do campo da direita), o Lula tem alguma chance de sair da cadeia?", questionou, para continuar dizendo que o ex-presidente só teria chance de sair da prisão se ele (Ciro) assumisse o poder.
Ao se referir a possíveis nomes colocados pelo PT, no caso de Lula não ser candidato, Ciro afirma: "Com uma tragédia, só resta eu. Porque ninguém inventa (um nome) de um dia pra noite. Se inventa, mesmo dando certo, acaba dando errado".
Indulto
Em maio, Ciro chegou a declarar que propor um indulto a Lula seria "loucura". "Se eu prometesse indulto a Lula, eu estaria agindo contra ele, que é meu amigo há mais de 30 anos", disse à época. "Indulto é apenas para aqueles que já foram condenados em todas as instâncias. E Lula ainda está recorrendo da decisão que o condenou", afirmou Ciro, para acrescentar: "Por que vai me indultar? Sou inocente".
No programa da TV maranhense, Ciro confirmou que chegou a procurar Josué Gomes (PR), filho do ex-vice-presidente José Alencar, para ser vice na sua chapa. Josué também vinha sendo cortejado pelo PSDB. Ciro fez ainda elogios ao presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM).
A entrevista ocorreu quatro dias antes da convenção do PDT, na sexta-feira passada, dia 20, que confirmou o seu nome como candidato do partido à Presidência. Ela também foi feita no contexto de negociações entre Ciro e o Centrão (bloco composto pelo DEM, Solidariedade, PP, PR e PRB). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.