Luiz Inácio Lula da Silva: "eu não temo ser preso, porque eu duvido que tenha alguém nesse país, alguém, do pior inimigo meu ao melhor amigo meu, qualquer empresário pequeno ou grande, que diga que um dia teve uma conversa comigo ilícita" (Hugo Villalobos/AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2015 às 21h29.
São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira que não tem medo de ser preso em meio às investigações das operações Lava Jato e Zelotes e afirmou que pode ser candidato à Presidência da República em 2018 para defender o projeto de governo do PT, inaugurado por ele em 2003 e que teve continuidade com a presidente Dilma Rousseff.
"Eu não temo ser preso, porque eu duvido que tenha alguém nesse país, alguém, do pior inimigo meu ao melhor amigo meu, qualquer empresário pequeno ou grande, que diga que um dia teve uma conversa comigo ilícita", disse o ex-presidente em entrevista ao SBT.
Lula é alvo de uma investigação do Ministério Público Federal no Distrito Federal que apura se ele promoveu tráfico de influência para favorecer a empreiteira Odebrecht, uma das investigadas na Lava Jato, na obtenção de contratos no exterior. Em depoimento espontâneo prestado aos procuradores, ele disse ser comum ex-presidentes defenderem as empresas do seu país no exterior.
Na semana passada, em nova fase da Zelotes, que investiga fraude em julgamentos do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), do Ministério da Fazenda, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão em uma empresa de marketing esportivo de propriedade de um dos filhos do ex-presidente.
Na entrevista desta quinta-feira, Lula disse que esses fatos são normais na democracia e exaltou seu governo (2003-2010) por dar autonomia à Polícia Federal e independência ao Ministério Público.
Sobre uma eventual nova candidatura ao Palácio do Planalto em 2018, que seria sua sexta disputa presidencial, Lula garantiu que poderá concorrer caso sinta que o projeto petista de governar esteja ameaçado.
"Se houver necessidade de defender o projeto que fez com que os pobres fossem vistos nesse país, que incluiu milhões e milhões de pessoas, para esse projeto, se eu perceber que ele vai correr risco, você não tenha dúvida que eu estou disposto a ser candidato", garantiu.
"EQUÍVOCO"
O ex-presidente avaliou, ainda, que o governo Dilma cometeu "equívocos" em seu primeiro mandato, como desonerações de impostos e o congelamento do preço da gasolina, e afirmou que, se fosse presidente, adotaria uma forte política de crédito para sair da crise econômica.
"Houve equívoco no governo? Houve", disse. "Houve equívoco, por exemplo, quando não se aumentou em 2012 o preço da gasolina. Nós acumulamos uma inflação que só foi acontecer no segundo mandato da Dilma", afirmou.
Lula também criticou o que chamou de excesso de desonerações feitas pelo governo de sua sucessora.
"Talvez o governo tenha descoberto que desonerou tanto, sabe, quando já tinha ultrapassado o limite, eu acho que foi um equívoco desonerar consequentemente. E eu não vejo uma propaganda na televisão agradecendo o governo pela desoneração, eu vejo propaganda contra a CPMF", disse Lula, referindo-se ao imposto que o governo está tentando recriar como parte do esforço para reequilibrar suas contas.
"Eu acho que não deveria fazer tanta desoneração... Mas também assim, quando você está do lado de fora, você acha, você pensa, você acredita. Quando você está do lado de dentro, você faz ou não faz, você toma uma decisão. Tomou uma decisão, percebeu que vazou, tenta mudar. Eu acho que é isso que a Dilma está fazendo agora." Questionado sobre qual seria a saída para a atual crise econômica vivida pelo país, Lula, que governou de 2003 a 2010, disse que existem dois caminhos: o aumento de impostos, caminho que Dilma tem buscado seguir com a proposta de recriação da CPMF, e a adoção de uma política forte de crédito.
"Eu faria uma política de crédito", declarou Lula. "Primeiro à cadeia produtiva, fazendo com que as grandes empresas fossem avalistas das pequenas empresas fornecedoras delas, depois eu aumentaria o crédito consignado para o setor da indústria privado, depois a gente liberaria crédito para os governadores e prefeitos que têm capacidade de aumentar financiamento... você pode abrir crédito para consumo", disse.