Murillo Aragão, da Arko Advice, Márcia Cavallari, do Idec, Maurício Moura, do Ideia (no telão) e Marcelo Tokarski, da FSB: pouco espaço para um terceiro nome (BTG Pactual/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2022 às 18h59.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2022 às 19h24.
A pouco mais de sete meses das eleições de 2022, as pesquisas têm mostrado rejeição alta ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas, embora haja chance de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença a eleição ainda no primeiro turno, o histórico recente brasileiro mostra que é comum que presidentes no cargo melhorem a popularidade em ano de eleição, o que pode favorecer Bolsonaro até outubro.
A análise foi feita durante a CEO Conference, evento organizado pelo BTG Pactual e que teve painel sobre as eleições com Maurício Moura, presidente do instituto de pesquisa IDEIA, Márcia Cavallari, presidente do Ipec, e Marcelo Tokarski, sócio-diretor da agência de comunicação FSB.
Cavallari reforça que as pesquisas são um retrato do momento, não uma projeção de futuro, e que muito ainda pode mudar até o pleito de outubro.
"O eleitorado ainda não está com aquele foco, geralmente isso acontece em meados de junho", diz. Por outro lado, ela aponta que há um "grau de definição" bastante superior a outras eleições, com cerca de 60% dos eleitores já escolhendo na pesquisa espontânea entre Bolsonaro e Lula.
Os analistas apontam que tanto Lula quanto Bolsonaro têm uma base fiel de cerca de um terço do eleitorado, e que há outros blocos de cerca de 20% ou 25% "em disputa". Até o momento, Lula tem conseguido capturar maior parcela dos eleitores nas pesquisas, com votação na casa dos 40% dos votos, ante pouco mais de 20% de Bolsonaro.
Mas ainda que a preferência se mantenha até outubro, é consenso entre os analistas que vencer a eleição logo no primeiro turno será tarefa difícil para o petista.
Moura, do IDEIA, lembra que desde 1989 movimentos de oposição ao PT se aglutinam e ganham força na reta final da primeira etapa das eleições, o que pode fazer a candidatura perder votos. "Por isso, o PT nunca ganhou no primeiro turno", diz.
Tokarski, da FSB, aponta que Lula não conseguiu vencer sem ir ao segundo turno "nem mesmo em seu melhor momento", na reeleição em 2006.
Para ele, uma das dúvidas no horizonte é se a rejeição atual a Lula vai subir até outubro. Nessa frente, o analista avalia que, por enquanto, ainda não há "assuntos novos" na pauta contra o petista, e que parte das críticas e temas já apareceram em 2018.
Cavallari, do Ipec, afirma que muitos eleitores têm escolhido Lula também devido à alta rejeição de Bolsonaro, e que o ex-presidente tem "gordura para queimar", mas que pode cair nos próximos meses com a aproximação da campanha oficial e críticas de adversários.
O governante no cargo costuma melhorar a popularidade em ano de eleição, fazendo uso de programas sociais e investimentos, lembra Moura. Mas, no caso de Bolsonaro, seu nível de rejeição é mais alto do que outros presidentes que conseguiram se reeleger.
Bolsonaro bate hoje 50% de avaliação negativa de seu governo, acima da reprovação que tinham FHC, Lula e Dilma em anos de reeleição.
Com a aposta de que a eleição deste ano possa ser um referendo sobre o governo Bolsonaro, a missão do presidente também é árdua: mais de 60% dos brasileiros apontam que Bolsonaro não merece se reeleger na última pesquisa EXAME/IDEIA, em janeiro (registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR-03460/2022).
"O problema de Bolsonaro é que parte de um patamar menor [de intenções de voto] e tem um teto maior de rejeição, comparado com outros pares [que se reelegeram]", resume Moura.
Para reverter o cenário, Tokarski afirma que o presidente "tem outras medidas econômicas que até outubro podem fazer sua popularidade melhorar", como o anúncio de renegociação das dívidas do financiamento estudantil via Fies, que pode lhe render pontos com um eleitorado mais jovem que hoje o rejeita.
Mas um desafio grande de Bolsonaro é que o Auxílio Brasil, uma de suas principais apostas, não tem surtido até agora o mesmo efeito que o auxílio emergencial lhe garantiu em 2020, quando sua popularidade chegou ao auge.
Para parte dos eleitores, há até mesmo a sensação de que o pagamento é passageiro, enquanto para o Bolsa Família (programa da era petista), há maior ideia de permanência. "Algumas pesquisas qualitativas mostram que a palavra 'auxílio', na cabeça desse público, é um benefício temporário, que tem uma duração prévia e vai terminar em algum momento", diz Tokarski.
Quando se cruza intenção de votos entre quem recebe Auxílio Brasil ou mora com algum beneficiário, Lula é inclusive mais forte do que na média do eleitorado.
"Bolsonaro não conseguiu capturar nada em termos de intenção de voto. O ponteiro por enquanto não mexeu", diz o sócio da FSB, mas afirma que ainda pode haver alguma mudança nos próximos meses, à medida em que os beneficiários comecem a pagar dívidas, por exemplo.
Enquanto isso, para os demais presidenciáveis na disputa, a tarefa de bater Lula ou Bolsonaro é quase impossível - uma missão que Moura, do IDEIA, descreve como "uma corrida contra o relógio".
Os demais candidatos não chegam a dois dígitos na pesquisa espontânea (quando os nomes não são apresentados com antecedência), o que significa que não ocupam posição relevante no imaginário da opinião pública, dizem os analistas.
Nunca ninguém com menos de 10% em janeiro e fevereiro foi eleito presidente da república em outubro, afirma o presidente do IDEIA. "Vamos precisar de um evento bastante estrutural [...] para que haja outra alternativa além de Lula e Bolsonaro."
Cavallari afirma que somente uma grande "onda" em torno de um único nome poderia mudar o cenário, mas que a possibilidade, até o momento, tem se mostrado difícil.
Além da quantidade de nomes na disputa, a eleição de 2022 trará pela primeira vez um presidente e um ex-presidente no páreo, o que torna mais desafiador que outros candidatos, menos conhecidos, ganhem votos.
Sobre o calendário eleitoral que virá, como as discussões das federações e alianças para composição de chapa, os especialistas concordam que tais temas impactam pouco para o eleitor e estão no radar sobretudo dos partidos - que, para além da eleição presidencial, têm priorizado negociações para formar bancadas no Congresso.
"O eleitor brasileiro vota muito na pessoa, é muito personificado. Não conta muito vice, não conta muito partido", diz a presidente do Idec, fazendo alguma exceção ao PT, que tem uma faixa mais fiel do eleitorado.
Um consenso entre os analistas, e que tem aparecido nas pesquisas, é que a economia tende a ser o grande tema da eleição de 2022. A conta, por ora, tem caído sobre o governo Bolsonaro, refletida nos índices de rejeição.
"Um presidente da república consegue se desassociar de inúmeros eventos [...], mas a gestão da economia é um tema que o presidente responde, para o bem ou para o mal", diz Moura, do IDEIA.
Para ele, temas como inflação, preço dos combustíveis, renda e emprego são hoje os mais importantes para a popularidade do presidente.
"Diferentemente de 2018 em que Bolsonaro era a 'novidade' [...], hoje ele tem mais de três anos de gestão", completa Tokarski. "A gente sabe que a inflação não é específica do Brasil, é um cenário mundial. Mas quando você pergunta de quem é a culpa pela situação, a maior parte diz que a culpa é do governo, não é da pandemia, não é do cenário internacional", diz.
Cavallari aponta que os principais problemas na visão do eleitor, desde 1989, são saúde, educação, desemprego e segurança. A corrupção cresceu em 2018, apontada como um dos principais problemas por 40% dos eleitores, mas hoje caiu para 15%, diz a presidente do Idec.
Além disso, temas em que Lula é bem visto por seu eleitorado, como questões sociais, voltaram à pauta.
"Entram [na lista de principais temas] a questão de fome, pobreza, miséria, que não apareciam entre os cinco principais problemas desde 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez", diz. "Os eleitores do Lula percebem nele alguém que vai resolver mais as questões sociais."
Com a deterioração da situação econômica, pobreza e fome aparecem agora entre as principais preocupações do eleitorado com pouco mais de 20%, assim como "custo de vida" e "preços", muito acima do cenário de 2018.
Cavallari também aponta que, ainda que haja uma redução da inflação no restante do ano, os números específicos dos índices importam pouco ao eleitor, que se atenta mais para os efeitos práticos.
"O eleitorado não está preocupado se a inflação tem dois dígitos ou não; está preocupado se tem aquele dinheiro e se consegue comprar mais ou menos coisas no mercado", diz.
O CEO Conference reúne nestes dias 22 e 23 de fevereiro os principais líderes empresariais, políticos e da sociedade civil do Brasil. Este ano, o principal objetivo da reunião será debater os desafios do país e as principais tendências em economia, política e tecnologia para 2022. O evento é organizado pelo BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME).
Entre os participantes confirmados estão o presidente da República, Jair Bolsonaro, e os pré-candidatos João Doria (PSDB), governador do Estado de São Paulo, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro (Podemos), e o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT).
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