Roberto Jefferson: ex-deputado e atual presidente do PTB que revelou o escândalo é um dos acusados (José Cruz/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 1 de agosto de 2012 às 12h06.
Brasília - O Supremo Tribunal Federal (STF) começará a julgar nesta quinta-feira os 38 acusados de participar do maior escândalo de corrupção da política brasileira, o mensalão, que abalou o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Foi o mais ousado e escandaloso esquema de corrupção e desvio de dinheiro público descoberto no Brasil", segundo afirmou o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no documento que enviou ao Supremo para solicitar a abertura do julgamento, que tem 44.265 páginas repletas do que considera "provas documentais".
O processo é qualificado por juristas e analistas políticos como o "maior julgamento por corrupção" da história do país, tanto pela quantidade de acusados como pela importância de muitos deles, entre eles vários antigos e fiéis escudeiros de Lula, que, apesar de estar no meio de todas as suspeitas, não foi processado.
O mais proeminente de todos é José Dirceu, que em 2002 coordenou a campanha que levou Lula pela primeira vez ao poder e até antes de explodir os escândalos, há sete anos, foi ministro da Casa Civil e principal articulador político do governo.
O caso que o Supremo analisará se refere a denúncias sobre uma suposta trama financeira ilegal para financiar a campanha de Lula, que depois foi mantida para subornar dezenas de deputados e "comprar" seus votos. Segundo a Polícia Federal, o esquema desviou R$ 101 milhões.
O escândalo foi revelado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, outro dos acusados e atual presidente do PTB, que em junho de 2005 declarou que o PT havia pagado R$ 4 milhões pelo apoio do partido ao governo Lula.
No banco dos réus também estarão o ex-presidente do PT e atual assessor do Ministério da Defesa, José Genoino, e o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Além disso, deverão apresentar-se perante o STF o ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Luiz Gushiken, e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, ambos do PT, que, por esse caso, se viu obrigado a renovar toda sua direção nacional em 2005.
O único dos dirigentes do partido na época que não será julgado é Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, que chegou a um acordo com a Justiça e trocou uma eventual condenação por serviços comunitários pelo período de três anos.
Outro processado é o publicitário Duda Mendonça, que cuidou da imagem de Lula na campanha de 2002 e confessou que parte do pagamento por seus serviços foi depositada pelo PT em contas que precisou abrir em paraísos fiscais.
Fora do âmbito político, o mais importante dos acusados é o publicitário Marcos Valério Fernandes, qualificado pelo Ministério Público como "um verdadeiro profissional do crime".
Marcos Valério é apontado como "diretor financeiro" do esquema e também como o "homem das malas" de dinheiro, que supostamente entregava pessoalmente aos parlamentares subornados.
Suas duas agências de publicidade levavam as contas de diversos organismos públicos, dos quais se suspeita ter saído o dinheiro que permitiu "comprar" os votos no Congresso, e em 2002 financiou parte da campanha de Lula e muitos candidatos do PT e outros partidos.
Segundo comprovou o Ministério Público, o patrimônio de Valério se multiplicou 60 vezes entre 2003 e 2004, os dois primeiros anos de mandato de Lula.
Os processados são 22 antigos dirigentes de quatro partidos políticos, três ex-diretores do Banco Rural e outro do Banco do Brasil, três operadores do mercado financeiro, um ex-funcionário do Ministério do Trabalho e oito empresários do ramo da publicidade.
Os 38 acusados devem responder por peculato, lavagem de dinheiro, corrupção e fraude, crimes pelos quais podem pegar penas de até 45 anos de prisão. As primeiras sentenças devem ser anunciadas em meados de setembro.
A primeira sessão, que será realizada nesta quinta-feira, se dedicará à leitura de acusações, e nas nove seguintes serão escutadas as alegações dos advogados de defesa.