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Juiz quebra sigilo de empresários investigados por vacinação às escondidas

A decisão permite aos investigadores acessarem os aparelhos eletrônicos dos empresários, como celulares e notebooks, e consultarem os arquivos salvos em nuvem

Vacinação: a Operação Camarote cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte durante a manhã (Justin Tallis/Pool/Getty Images)

Vacinação: a Operação Camarote cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte durante a manhã (Justin Tallis/Pool/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de março de 2021 às 19h49.

Última atualização em 26 de março de 2021 às 19h55.

O juiz Rodrigo Pessoa Pereira da Silva, da 35ª Vara Federal Criminal de Minas Gerais, autorizou a quebra do sigilo de dados dos empresários Robson e Rômulo Lessa, investigados no caso da vacinação às escondidas em Belo Horizonte no início desta semana. A dupla foi alvo de buscas e apreensões na manhã desta sexta, 26, na Operação Camarote.

A decisão permite aos investigadores acessarem os aparelhos eletrônicos dos empresários, como celulares e notebooks, e consultarem os arquivos salvos em nuvem. A quebra de sigilo foi solicitada pela PF, que abriu inquérito na quinta, 25, para investigar o caso. O esquema foi revelado pela revista Piauí.

Segundo a revista, um grupo formado por políticos e empresários do setor de transportes de Minas Gerais adquiriu doses da vacina da Pfizer contra covid, não repassou ao Sistema Único de Saúde e aplicou secretamente em 50 pessoas. Seis vídeos obtidos pelo Estadão mostram pessoas sendo vacinadas na noite de terça-feira, 23, em uma das garagens da Saritur, de Robson e Rômulo Lessa.

Agentes da Polícia Federal estiveram nas duas garagens da empresa em Belo Horizonte e questionaram Robson Lessa, que negou a ocorrência da vacinação. No entanto, o empresário 'demonstrou nervosismo e apreensão'. Após a divulgação das imagens, os agentes afirmaram que um dos homens que aparecem nos vídeos 'se assemelha, em muito, pela forma de andar e pelas características físicas, ao empresário Rômulo José de Carvalho Lessa'.

"Pelo relato dos policiais na representação, o diretor da empresa Robson José Lessa de Carvalho, apesar de negar a ocorrência do noticiado na imprensa, demonstrou muito nervosismo e apreensão durante a entrevista", apontou o juiz. "Em que pese as diligências preliminares não terem obtido êxito, há fortes indícios de ocorrência de importação ilegal de vacinas contra covid-19 e de realização de vacinação organizada por representantes da empresa Saritur, que, segundo as investigações, são administradas por Robson José Lessa de Carvalho e Rômulo José de Carvalho Lessa".

A Operação Camarote cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte durante a manhã, incluindo na residência dos empresários. O Ministério Público Federal pediu à Justiça que, caso fossem encontradas doses de vacina contra a covid-19 durante as buscas realizadas nesta manhã, os imunizantes fossem encaminhados ao Ministério da Saúde, para distribuição e aplicação segundo as regras do Programa Nacional de Imunizações.

O juiz Rodrigo Pereira da Silva autorizou a solicitação e registrou que a 'luta pela vacina é coletiva' e que 'indícios de burla às regras de preferência na ordem de imunização são inadmissíveis, especialmente quando podem configurar crime'.

"A gravíssima pandemia que assola o mundo todo e o Brasil de forma mais severa, ceifando centenas de milhares de vidas em nosso país, se apresenta como uma guerra, e uma guerra só se vence com esforço e sacrifício coletivos. E é justamente diante de uma situação como essa que deve imperar o espírito de solidariedade, de auxílio mútuo, não se admitindo que cidadãos se coloquem em posição privilegiada", afirmou.

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