Palácio do Itamaraty, na Esplanada dos Ministérios: Maria Laura da Rocha assume como primeira secretária-geral do órgão (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de janeiro de 2023 às 11h41.
Primeira mulher a se tornar secretária-geral das Relações Exteriores, a embaixadora Maria Laura da Rocha assumiu o cargo nesta quarta-feira, dia 4, num momento histórico para o movimento de mulheres na diplomacia.
Em discurso, ela prometeu trabalhar "sem medir esforços" para que a igualdade de gênero se torne um objetivo em todas as ações do Itamaraty e para que a diplomacia passe a refletir "a cara da Brasil". Ela defendeu a ampliação do número de diplomatas negros, homens e mulheres, em postos de chefia.
"Não medirei esforços para evidenciar o que a Casa ganha em múltiplas dimensões valorizando as suas funcionárias mulheres e a diversidade dos seus quadros. O objetivo da igualdade de gênero deve pairar sobre todas as ações do ministério, orientando a atuação de cada um de nós em todos os momentos. Todos ganharemos com esse engajamento", disse Maria Laura, antes embaixadora do Brasil na Romênia.
"É preciso aprofundar a tendência do aumento no número de mulheres e negras e negros na carreira diplomática e em postos de chefia, ampliando suas oportunidades nas classes superiores da carreira e em posições de comando na Secretaria de Estado e no exterior."
A embaixadora diz que pretende atuar para "ampliar o número de mulheres, negras e negros, pessoas menos favorecidas e candidatos de todas as regiões do País recrutados para as nossas carreiras".
"Isso é ainda mais importante no caso da carreira de diplomata, que precisa refletir cada vez mais a cara do Brasil. Mas isso não se fará se não agirmos para motivá-los, desde a escola secundária, a ver na carreira diplomática, tanto quanto uma oportunidade, uma verdadeira possibilidade", indicou a secretária-geral.
A nova gestão do Itamaraty promete reativar um comitê interno de Raça e Gênero, que fora extinto. "Uma instituição de Estado mais diversa não é apenas mais justa e democrática como convém, mas é também mais eficiente, produtiva e inovadora", disse a embaixadora.
Tanto o chanceler Mauro Vieira quanto Maria Laura prometem valorizar diplomatas mais experientes, uma tradição num órgão de Estado regido por hierarquia, mas que havia sido abandonada na era Jair Bolsonaro.
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Ela falou também em promover "ambientes livres de qualquer tipo de assédio e preconceito". E defendeu mudanças nos critérios de remoção e ascensão na carreira, vistas como barreiras à promoção de mulheres, para que sejam mais objetivos e previsíveis.
Na política externa, seguiu o tom de Lula e Vieira em defesa de retomar a atuação focada em organismos multilaterais, reconstruir pontes com parceiros e foros tradicionais e destacar o papel do Brasil na diplomacia do clima, como "detentor da maior floresta tropical do mundo".
"Como ex-embaixadora na FAO e na Unesco, conheço bem a demanda pelo Brasil como provedor de soluções para os desafios comuns da humanidade: do flagelo da fome à mudança do clima; da assistência a refugiados e deslocados à promoção dos direito humanos; das novas ameaças à paz e segurança ao enfrentamento de pandemias e catástrofes; dos riscos representados pelas armas nucleares às tensões geopolíticas entre grandes potências; do protecionismo comercial contra países em desenvolvimento à desestruturação de cadeias globais de suprimento", disse Maria Laura.
Ela prometeu dar "especial atenção" a uma nova secretaria que cuidará do atendimento consular, uma diretriz de Vieira, diante do crescimento da comunidade brasileira no exterior. São 4 milhões de pessoas vivendo fora do País. "Trabalharemos sobre o muito que já se fez nessa área para que seja uma vitrine do Serviço Exterior Brasileiro", disse a secretária-geral.
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Os diplomatas lotaram a sala Brasília para assistir à cerimônia. A maioria das mulheres vestia roupas ou acessórios na cor lilás, que representa a causa feminista. Homens usavam gravatas e lenços da mesma cor, com variações de tom.
O chanceler Mauro Vieira, por exemplo, vestia camisa lilás e gravata roxa. Celso Amorim, ex-chanceler e assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também colocou uma gravata de mesmo tom.
A chefia da Secretaria-Geral das Relações Exteriores é o cargo número dois do Itamaraty. Trata-se, porém, do mais alto posto reservado a diplomatas de carreira, além de ser uma posição-chave na administração do ministério e na execução da política externa. É a ele que se dirigem, prioritariamente, os embaixadores acreditados e residentes no Brasil pela comunidade internacional.
Houve intensa campanha interna, na academia e até apelos políticos para que Lula nomeasse uma chanceler mulher. A nova secretária, que havia sido chefe de gabinete de Celso Amorim, era cotada, assim como a embaixadora Maria Luiza Viotti - agora um dos nomes fortes para assumir a embaixada brasileira em Washington. Será também a primeira mulher, caso a nomeação se confirme.
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