Tragédia: investigadores voltaram a local dos destroços nesta quarta-feira, e soldados isolaram o local durante a noite (Fredy Builes/Reuters)
Reuters
Publicado em 30 de novembro de 2016 às 13h25.
Chapecó - Médicos ainda prestavam o atendimento nesta quarta-feira aos sobreviventes do acidente na Colômbia com o avião que levava o time da Chapecoense para a final da Copa Sul-Americana, que deixou 71 mortos, e investigadores iniciaram os trabalhos para tentar descobrir as causas da tragédia.
Somente seis pessoas, entre elas três jogadores, um jornalista e dois tripulantes, sobreviveram ao acidente ocorrido na noite de segunda-feira, quando o avião que transportava a delegação do time catarinense se chocou contra uma área montanhosa no noroeste da Colômbia.
Os sobreviventes estavam sendo atendidos em hospitais locais. Segundo a Chapecoense, ainda não há estimativa de alta.
Entre os jogadores, o goleiro Jakson Follmann se recupera de uma amputação da perna direita, segundo os médicos. O zagueiro Hélio Neto seguia sob cuidados intensivos por trauma severo no crânio, tórax e pulmões. O lateral Alan Ruschel passou por cirurgia de coluna.
Investigadores brasileiros viajaram à Colômbia para se juntar às autoridades locais e revisar as caixas-pretas do avião da companhia Lamia, que foram encontradas no local do acidente, próximo à cidade de La Unión.
O jornal colombiano El Tiempo disse que tripulações de aviões que se aproximavam do aeroporto de Medellín na segunda-feira à noite disseram que o piloto do voo da Chapecoense gritou no rádio que estava ficando sem combustível e precisaria fazer um pouso de emergência.
Foi dada prioridade de pouso para um avião da companhia VivaColombia, que já havia relatado problemas nos instrumentos, segundo o jornal.
Pouco depois, o piloto do avião da Chapecoense disse à torre de controle que estava passando por problemas elétricos, antes do rádio ficar em silêncio, acrescentou o jornal, citando fontes.
Outro sobrevivente, o técnico de voo Erwin Tumiri, da Bolívia, disse que saiu com vida por ter seguido as instruções de segurança.
"Muitos passageiros se levantaram de seus assentos e começaram a gritar. Eu coloquei a bolsa entre minhas pernas e entrei em posição fetal, como recomendado", disse à Rádio Caracol, da Colômbia.
A comissária boliviana Ximena Suárez, outra sobrevivente, disse que as luzes se apagaram menos de um minuto antes de o avião colidir com as montanhas, de acordo com autoridades colombianas em Medellín.
Médicos disseram que Ximena e Tumiri estavam abalados e feridos, mas não em condição grave, enquanto o jornalista brasileiro Rafael Valmorbida estava na UTI devido a múltiplas fraturas nas costelas, que prejudicaram um pulmão.
Investigadores voltaram a local dos destroços nesta quarta-feira, e soldados isolaram o local durante a noite.
Moradores da região estão acostumados com aviões voando na área, mas muitos ficaram em choque pela tragédia.
"Passou por cima da minha casa, mas não houve barulho, o motor deve ter parado", disse Nancy Muñoz, de 35 anos, que cultiva morangos na região.
Até a noite de terça-feira, equipes de resgate haviam recuperado a maior parte dos corpos, que serão repatriados para o Brasil e Bolívia, país de membros da tripulação.
O presidente Michel Temer decretou luto oficial de três dias no país.
A tragédia destruiu o sonho de um time sem tradição que vivia a melhor temporada de sua história, com direito a vitórias sobre gigantes do esporte na caminhada até a sua primeira final internacional. [nL1N1DV043]
O mundo do futebol também ficou de luto com o acidente, e jogadores e torcedores do mundo todo enviaram homenagens e expressaram apoio ao time brasileiro.
"Dia triste para o futebol", disse o atacante do Barcelona e da seleção argentina Lionel Messi no Twitter. "Nossos pensamentos e orações estão com a família e amigos dos jogadores da Chapecoense e outros que morreram."
Alguns jogadores e clubes mudaram seus perfis nas redes sociais para o símbolo da Chapecoense, que tentava o primeiro título internacional de sua história.
Na cidade de Chapecó, no interior de Santa Catarina, escolas suspenderam as aulas e comerciantes fecharam as portas de seus negócios. Fitas pretas e verdes foram colocadas em varandas, cercas e mesas de restaurantes em homenagem ao clube.
"É um milagre", disse Flávio Ruschel, pai de Alan Ruschel, em entrevista à emissora Globonews, enquanto se preparava para viajar para a Colômbia. "Acho que não vou conseguir falar nada, só abraçá-lo e chorar muito."
Do lado de fora da Arena Condá, estádio que foi o caldeirão do time durante a campanha na Copa Sul-Americana, um grupo de torcedores montou um acampamento e prometeu fazer uma vigília até a chegada dos corpos de seus ídolos à cidade.
"Nós estávamos lá com eles na vitória e estamos aqui por eles na tragédia, chova ou faça sol. Como uma família", disse o torcedor da Chapecoense Cauã Régis.
Quase todos os 67 corpos recuperados do acidente já foram identificados, de acordo com um membro da diretoria da Chapecoense. O dirigente disse que os legistas devem concluir o trabalho até a noite desta quarta-feira.
O clube pretende realizar um velório coletivo no estádio na sexta-feira ou sábado, de acordo com o secretário de Planejamento de Chapecó, Nemésio da Silva.
O time colombiano Atlético Nacional, adversário da Chapecoense na final da Sul-Americana, pediu aos organizadores do campeonato que o título do torneio seja entregue à equipe catarinense como forma de homenagem às vítimas da tragédia.