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Investigação mira ação da CBF em amistoso contra a Argentina

Documentos revelam que o dinheiro pago no jogo em novembro de 2010 envolveu três paraísos fiscais e pelo menos oito entidades - duas eram de fachada


	Ricardo Teixeira ao lado do símbolo da CBF
 (Nacho Doce/Reuters)

Ricardo Teixeira ao lado do símbolo da CBF (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2015 às 08h24.

Genebra - O amistoso Brasil x Argentina no Catar envolveu uma ampla engenharia financeira e, agora, levanta suspeitas por parte de investigadores da Suíça e dos Estados Unidos. Documentos obtidos pela reportagem revelam que o dinheiro pago no jogo em novembro de 2010 envolveu três paraísos fiscais e pelo menos oito entidades - duas eram de fachada.

No total, um único jogo movimentou US$ 8,6 milhões oficialmente. Mas a suspeita dos investigadores é de que outros pagamentos tenham ocorrido por acordo secreto. A Agência Estado revelou no início da semana que a Justiça suíça fez uma operação de busca na sede de uma das empresas envolvidas na partida, a Kentaro. Era a empresa quem, entre 2006 e 2012, organizava os amistosos do Brasil e havia sido contratada por Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF.

Mas a suspeita dos suíços é de que o jogo no Catar foi usado para pagar propinas a cartolas no Brasil e Argentina, em troca de votos para a escolha da Copa do Mundo de 2022. A eleição na Fifa da sede ocorreu 20 dias depois da partida em Doha.

Investigadores revelaram que apresentaram ao CEO da Kentaro, Philipp Grothe, um organograma de qual teria sido o fluxo de dinheiro para aquele jogo. Grothe, no dia 27 de maio, confirmou que ele conhecia o esquema e, de fato, ele já havia repassado as mesmas informações para Michael Garcia, o ex-investigador da Fifa que pediu demissão de seu cargo ao ver que seu trabalho havia sido enterrado por Joseph Blatter, presidente da entidade.

Quem pagou pelo jogo foi a GSSG, empresa de construção no Catar que está erguendo as principais obras da Copa do Mundo de 2022. O dinheiro, em seguida, foi enviado à empresa sediada em Zurique, a Swiss Mideast. Um total de US$ 8,6 milhões foram dados para Kentaro organizar o jogo e pagar as duas seleções. A empresa, porém, deu uma comissão de US$ 2 milhões para uma sociedade de Cingapura, a BCS. O pagamento foi apenas por terem "feito a apresentação" entre as partes envolvidas no jogo.

Mais US$ 2 milhões teriam seguido para a empresa World Eleven, contratada pela Associação de Futebol da Argentina (AFA) para organizar amistosos pelo mundo. O dinheiro, então, seguiria para a entidade esportiva de Buenos Aires e na época presidida por Julio Grondona, um dos que votaram pelo Catar.

No caso do Brasil, a Kentaro destinaria um valor inferior, em US$ 1,1 milhão, mais um pagamento extra de 300 mil. O dinheiro foi enviado para a ISE, nas Ilhas Cayman, que depois repassou para a CBF. "O que fica claro é que se criou uma engenharia financeira complexa para pagar por um jogo amistoso", declarou um dos responsáveis da Justiça suíça pelo caso.

O que os investigadores suspeitam, porém, é que um contrato paralelo foi também organizado, contornando a Kentaro e permitindo que o dinheiro chegasse até as mãos dos dirigentes. Essa, pelo menos, foi a versão que os executivos envolvidos na organização da partida revelaram aos investigadores.

A Justiça da Suíça e o FBI vão investigar as transações financeiras de Ricardo Teixeira, inclusive uma conta mantida por ele em Mônaco. A apuração identificou depósitos de empresas do Golfo à conta no principado. Teixeira nega e diz que a conta foi aberta dois anos depois da escolha do Catar como sede.

Para o FBI, a resposta não convence. No caso de Jack Warner, outro que vendeu seu voto, as investigações apontam que pagamento da suposta propina ocorreu quatro anos depois.

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