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Interrogatório de Lula por Moro ganha teor de disputa política

O que deveria ser apenas uma parte do processo legal transformou-se em uma batalha de força e popularidade que se refletirá em protestos em Curitiba

Lula: o crescimento da popularidade de Sergio Moro como um herói anticorrupção o transformou em um adversário direto do ex-presidente (Paulo Pinto/Agência PT/Divulgação)
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Reuters

Publicado em 8 de maio de 2017 às 20h53.

Última atualização em 9 de maio de 2017 às 15h21.

Brasília - Ao depor pela primeira vez em Curitiba, na próxima quarta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se verá frente a frente com o juiz federal Sérgio Moro , no primeiro embate com o homem que é visto hoje por boa parte dos brasileiros como seu principal rival, em uma disputa política que se refletirá nos protestos marcados para as ruas da Capital paranaense.

O que deveria ser apenas uma parte do processo legal - o juiz ouve o depoimento do acusado - transformou-se em uma batalha de força e popularidade. Partidários de Lula prometem tomar as ruas de Curitiba com cerca de 30 mil manifestantes vindos de todo país, em eventos que começam na terça-feira de manhã e só devem terminar na quarta à noite, com a presença do próprio ex-presidente.

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Do outro lado, defensores da Lava Jato prometem uma vigília em defesa da operação no dia do depoimento de Lula. Desde a semana passada, cartazes com caricaturas do ex-presidente como presidiário foram espalhados pela cidade.

No último final de semana, Moro divulgou um vídeo pelas redes sociais pedindo que os apoiadores da Lava Jato não se dirijam a Curitiba. Na fala, o juiz diz que "nada de diferente ou anormal vai acontecer", apenas o interrogatório de Lula, agradece o apoio, mas diz que nessa data ele não é necessário.

"Tudo que se quer evitar é qualquer tipo de confusão e conflito e, acima de tudo não quero que ninguém se machuque", disse o juiz.

Na guerra pela melhor versão, Cristiano Zanin, advogado de Lula, divulgou em seguida sua resposta, também pelas redes sociais, a Moro. Zanin afirma que o processo é político, que Lula está sendo perseguido por Moro e que o juiz não tem isenção.

"O juiz, que deveria ser imparcial, fala diretamente a seus apoiadores, isso não é normal. Em uma democracia, políticos tem apoiadores e adversários. Juízes, não", diz Zanin.

Mesmo não sendo, em tese, uma figura política, o crescimento da popularidade de Sergio Moro como um herói anticorrupção o transformou em um adversário direto do ex-presidente.

A última pesquisa Datafolha, divulgada no final de abril, mostra que o juiz, caso fosse candidato, seria, junto com Marina Silva, um dos únicos nomes a bater Lula em um eventual segundo turno nas eleições de 2018.

Manifestações

Organizadas pela Frente Brasil Popular --uma reunião de partidos de esquerda e movimentos sociais-- as manifestações a favor de Lula em Curitiba começam na manhã de terça-feira com a chega da manifestantes e a inauguração de um acampamento, passa por um ato ecumênico na noite de terça e termina com um "ato político", supostamente com a presença do próprio Lula, na noite de quarta.

Diversos representantes de movimentos sociais passaram o dia divulgando vídeos convidando militantes a ir a Curitiba,

"Nossa expectativa é que seja uma manifestação calma, mas com um número muito grande de pessoas. Tem tudo para ser tranquila, não tem um objetivo de ter confronto", disse à Reuters o líder do PT na Câmara dos Deputados, Carlos Zarattini (SP). "É uma demonstração de solidariedade de todo país, dos movimentos sociais. Coloca esse processo em outro patamar."

Cerca de 30 deputados da bancada federal do PT se preparam para ir a Curitiba acompanhar o depoimento, assim como um grupo de senadores.

Apesar das promessas de manifestações pacíficas, o esquema de segurança no entorno do Fórum de Curitiba foi reforçado. Um perímetro de 150 metros será cercado e apenas moradores, comerciantes e jornalistas credenciados pela Polícia Militar poderão ter acesso.

O expediente na Justiça Federal foi suspenso, e, a pedido da prefeitura, a Justiça do Paraná proibiu a montagem de barracas e acampamentos de movimentos próximo ao prédio do Fórum.

O processo em que o ex-presidente irá depor diz respeito a um apartamento tríplex no Guarujá (SP), que, segundo a acusação, teria sido dado a Lula pela empreiteira OAS em troca da favores. A defesa do ex-presidente afirma que o apartamento não é e nunca foi de Lula, que teria apenas uma opção de compra, nunca exercida.

Na tarde desta segunda-feira, a defesa de Lula pediu a suspensão dos prazos do processo ao Tribunal Regional Federal da 4a região, alegando que documentos foram anexados ao processo sem que eles tenham tido tempo de examiná-los.

Se a resposta for positiva, o depoimento pode ser adiado mais uma vez. Marcado inicialmente para 3 de maio, foi adiado a pedido da Secretaria de Segurança do Paraná e da Polícia Federal, que pediram mais tempo para as providências de segurança.

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