Microcefalia: Salvador lidera o ranking das cidades com maior número de casos (REUTERS/Nacho Doce)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2016 às 08h20.
A pequena Geovanna nasceu há quatro meses e é uma das 395 crianças soteropolitanas afetadas pelos efeitos do vírus zika.
Diagnosticada com microcefalia, a menina é levada uma vez por semana, pela mãe Sílvia de Jesus Pinheiro, ao Instituto Bahiano de Reabilitação (IBR). Um grupo de atenção às famílias de crianças com microcefalia foi criado no local.
Mãe de Geovanna e professora do Bairro Nordeste de Amaralina, na periferia de Salvador, Sílvia diz que a orientação dos profisisonais vai ajudá-la a estimular o desenvolvimento da filha.
“Aqui tenho toda a assistência e começamos hoje a participar do grupo com outras crianças. As expectativas são maravilhosas, sempre com muito otimismo, a certeza de que o bebê vai se desenvolver e sabendo que as pessoas estão aqui para ajudar com isso”, diz a mãe da menina, que já foi atendida duas vezes, antes do início do grupo.
O instituto criou recentemente um protocolo que cria o grupo de atendimento especializado, específico para a microcefalia associada ao zika, já que apresenta efeitos mais severos que a malformação não relacionada ao vírus.
Equipes formadas por quatro profissionais de psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e fisioterapia já começaram a cuidar de sete crianças com microcefalia.
Como o atendimento é novo, o número de crianças ainda é considerado baixo, mas tende a aumentar, segundo o coordenador do IBR, Rogério Gomes.
“Essas crianças estão chegando aos atendimentos agora, então, com certeza, esse número vai ser maior que o que a gente tem hoje. A estrutura já está montada para atender a esses sete, mas existe um processo de triagem e avaliação e, conforme for surgindo a demanda, a gente vai ampliando o atendimento”, explica.
A psicóloga Júlia Reis conta que a atenção dela é direcionada principalmente, às mães, já que se deparam com uma situação nova e desafiadora.
“O trabalho diferencial da psicologia é dar razão a essas mães. Elas têm razão de estarem preocupadas e de se sentirem desesperadas, em algum momento e, ao mesmo tempo, [o trabalho é] acolher esse sofrimento, trabalhar todo esse sofrimento, levando-as a estimular seus filhos, a vê-los não como uma patologia ou uma microcefalia, mas como um filho delas”, afirma a profissional, que acompanha a mãe de Geovanna, Sílvia de Jesus Pinheiro.
“Sílvia já sinalizou pra gente o quanto mudou o dia a dia dela, a partir do momento em que [descobriu que] precisava estimular Geovanna. Ela já sabe que a filha precisa de atendimento especial, de estimulação mais específica. Mas é a filha dela, tem o olho no olho, tem o amor, o aconchego. Nesse grupo, as crianças têm pouca idade, o trabalho da psicologia é mais forte. Cuidamos da mãe, para que ela possa cuidar da criança”, acrescentou a psicóloga.
Segundo o último balanço da Secretaria de Saúde da Bahia, entre outubro de 2015 e 27 de fevereiro deste ano, 817 casos de microcefalia foram notficados em todo o estado.
Salvador lidera o ranking das cidades com maior número de casos. Sílvia conta que a surpresa, no momento do diagnósico, é natural, mas isso não deve comandar a rotina da família.
“A diferença é só essa: a mãe de um bebê com microcefalia é mãe, mas é um bocado de especialidades (socóloga, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional). O amor supera tudo. O bebê com microcefalia precisa se sentir amado e esse amor quem passa, antes de qualquer pessoa, é a mãe. A relação mãe e filho deve ser centrada no amor, independentemente da microcefalia", disse emocionada.
Segundo os especialistas, Geovanna é nova no instituto, mas já apresentou avanços: tem se acostumado às músicas de boas-vindas, à troca de roupa como estímulo corporal e à presença de outras crianças.
O IBR é uma entidade filantrópica e funciona há 60 anos. Referência no estado em reabilitação, o instituto atende a qualquer pessoa com pedido e laudo médico e carteira do Sistema Único de Saúde.