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Inquérito cita empresários por trás de ataques ao STF

Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o mesmo grupo de empresários também está ajudando a convocar os atos do próximo domingo

STF: ministros foram alvos de ataque nas redes sociais (STF/Divulgação)

STF: ministros foram alvos de ataque nas redes sociais (STF/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de março de 2020 às 12h26.

Última atualização em 29 de agosto de 2020 às 19h14.

O inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) aberto para investigar fake news identificou empresários bolsonaristas que estariam financiando ataques contra ministros da Corte nas redes sociais. O Estado apurou que as investigações estão adiantadas e atingem até mesmo sócios de empresas do setor de comércio e serviços, todos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

Embora o inquérito, que tramita sob sigilo, seja destinado a investigar ameaças, ofensas e calúnias dirigidas a ministros do STF e suas famílias, as informações são de que o mesmo grupo de empresários também está ajudando a convocar os atos do próximo domingo, tendo como alvo o Congresso e o Judiciário.

O custo dos ataques virtuais pode chegar a R$ 5 milhões por mês. As apurações indicam que esses empresários bancam despesas com robôs - programas de computador que podem ser usados para fazer postagens automáticas nas redes - e produção de material destinado a insultar e constranger opositores de Bolsonaro nas mídias digitais.

Aberto em março do ano passado por determinação do presidente do Supremo, Dias Toffoli, o inquérito não identificou apenas fake news, mas também evasão de divisas, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal por parte de alguns empresários bolsonaristas. A expectativa é de que o processo, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, seja concluído em maio e enviado ao Ministério Público.

Em outra frente, a CPI das Fake News vai buscar reforços para a investigação que tramita no Congresso, mas está patinando porque virou uma disputa fratricida entre governo e oposição. Um dos primeiros movimentos da deputada Joice Hasselmann (SP), ao assumir a liderança do PSL, foi substituir quatro deputados bolsonaristas por outros quatro de seu grupo.

Pedido

A estratégia é lotear a CPI para tentar avançar nas apurações sobre o pagamento de robôs que propagam notícias falsas ou atacam políticos que batem de frente com Bolsonaro. Integrantes da CPI já solicitaram ao Supremo o compartilhamento de dados relativos ao inquérito das fake news, mas tiveram o pedido negado, sob o argumento de que o foco da Corte está apenas nos magistrados e suas famílias.

A CPI é mais abrangente e apura a ofensiva contra os parlamentares. Nas redes sociais, os principais alvos das agressões são os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); e a própria Joice. Uma das mensagens em poder da CPI traz ordem para disseminar críticas a Maia na internet, chamando-o de "filho da p...".

O primeiro objetivo da CPI, após o troca-troca de cadeiras, será aprovar a convocação do vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente. Carlos é apontado como responsável pelo chamado "gabinete do ódio". Como revelou o Estado, o grupo trabalha dentro do Palácio do Planalto e tem como missão disseminar ataques contra "inimigos" do governo.

Até agora, a CPI já aprovou requerimentos de convocação ou convite de 153 pessoas. A falta de foco interessa a aliados de Bolsonaro e, por isso, a estratégia de mexer na composição do colegiado foi discutida com líderes de partidos. As trocas vão ocorrer nas legendas que compõem o Centrão.

A avaliação na cúpula do Congresso é de que, com o atual esquema milionário para manter a guerra virtual contra deputados e senadores, apenas a narrativa de Bolsonaro prevalecerá nas redes. No PSL, a dança das cadeiras levou os deputados Junior Bozzella (SP) e Nereu Crispim (RS) para duas vagas titulares, enquanto Delegado Waldir (GO) e Heitor Freire (CE) serão suplentes. Todos os quatro comandam diretórios regionais do PSL e são aliados do presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), adversário de Bolsonaro.

Deixaram a CPI os deputados titulares Carlos Jordy (RJ) e Caroline de Toni (SC), além dos suplentes Filipe Barros (PR) e Carla Zambelli (SP), todos bolsonaristas. "Joice começou o festival de retaliações e movimentos para prejudicar o governo", afirmou Jordy.

Prazo

Os integrantes da comissão já chegaram a um acordo com Alcolumbre para que a CPI seja prorrogada e funcione pelo menos até junho. Para tanto, porém, são necessárias 171 assinaturas de apoio na Câmara e 27 no Senado. Caso isso não ocorra, a CPI termina em 13 de abril. A renovação por 180 dias estenderia os trabalhos de apuração até outubro, mês de eleições.

O prazo maior é considerado essencial porque a CPI começou a receber somente agora informações das empresas de tecnologia. O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) disse que obteve do Facebook a quebra do sigilo de 70 contas e perfis em redes suspeitos de serem usados para destruir reputações de adversários do governo. O documento identifica IPs e e-mails associados às contas, entre outros dados. "Imagine quantos computadores já não foram jogados fora e assessores, demitidos", disse Frota.

CPI

A CPI Mista das Fake News identificou que as páginas responsáveis por disseminar ataques virtuais contra parlamentares e integrantes do Judiciário partiram de três Estados e do Distrito Federal. Os dados foram obtidos a partir da quebra de sigilo de perfis solicitados pela comissão ao Facebook, empresa responsável pelas redes sociais usadas para espalhar as mensagens.

As páginas no Instagram que tiveram o sigilo quebrado são Conservador Liberal, Mito do Brasil, além de snapnaro e bolso_feios. Os endereços de criação das duas primeiras apontam para contas acessadas a partir das regiões de Belo Horizonte (MG) e de Cotia (SP).

No caso da snapnaro, a criação da página foi feita a partir de Valença (RJ), mas a comissão também identificou acesso à conta feito por computadores do Senado, como revelou ontem o jornal O Globo. O presidente da comissão, senador Ângelo Coronel (PSD-BA) determinou que a Polícia Legislativa investigue de qual máquina da Casa partiu o acesso.

Assessor

A página bolso_feios, apontada como uma das que disseminam ódio contra adversários do presidente Jair Bolsonaro, teve registros de acesso a partir de telefone usado por um assessor do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. A origem do acesso foi antecipada pelo site UOL.

Todo o material enviado pelo Facebook ainda está sendo analisado pela equipe de perícia ligada à CPI. A comissão deve analisar ainda mais uma leva de quebras de sigilos em reunião marcada para hoje. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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