Eduardo: a possível chegada do filho do presidente é tema nas embaixadas da região (Amanda Perobelli/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 24 de agosto de 2019 às 13h28.
"É mesmo o filho do presidente quem virá?" é a pergunta frequente em Washington feita, nas últimas semanas, por estrangeiros que integram embaixadas, empresas e consultorias com relação com o Brasil.
A perspectiva de ter Eduardo Bolsonaro como chefe da maior sede diplomática do Brasil no exterior agitou a capital americana, mas a demora na sua indicação fará com que a tradicional festa brasileira de 7 de setembro mude de cara.
Os eventos em comemoração ao dia da independência são usados pelos países para receber, na embaixada, contatos importantes com o governo americano, organismos internacionais, além de promover a cultura nacional.
Normalmente, comida e bebida típicas do país são servidos aos convidados. Durante a gestão do embaixador Sérgio Amaral, que deixou Washington no início de junho, os eventos aconteceram à noite na residência usada pelo diplomata.
Neste ano, a recepção será mais modesta e em outro cenário: a Organização dos Estados Americanos (OEA). A ideia de fazer uma só festa, junto com a missão diplomática do Brasil na OEA e com o consulado brasileiro em Washington, partiu de Nestor Forster.
O diplomata foi promovido ao primeiro escalão da carreira em junho e, portanto, assumiu a chefia da embaixada de forma interina. Seu nome era anunciado nos bastidores como o do futuro embaixador nos EUA, até que o presidente Jair Bolsonaro disse que indicaria o filho ao posto.
Forster é diplomata de carreira e tem tocado a embaixada sob elogios da família Bolsonaro e do núcleo duro do governo. Os convites para o 7 de setembro, que será comemorado no dia 6, não foram despachados com o nome do embaixador desta vez.
O e-mail da solenidade informa que "o representante do Brasil para a OEA, o cônsul geral do Brasil em Washington e o Chargé d'Affaires (encarregado de negócios)" convidam para a cerimônia - que será no horário do almoço, no Salão das Américas da sede da OEA.
No lugar dos 600 convites feitos em anos anteriores, agora cerca de 500 pessoas serão chamadas. Os cerimoniais calculam que quase metade dos convidados não comparece.
Sem anfitrião claro, a hora do discurso foi cortada. É possível que os embaixadores convoquem um brinde, mas nada está previsto até o momento.
Diplomatas da embaixada minimizam a mudança e dizem que a cerimônia já foi assim em anos anteriores. Há países adotam o mesmo sistema de comemoração, como o Uruguai.
A possível chegada de Eduardo é tema nas embaixadas da região. Uma das preocupações de embaixadores da América Latina ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo é com o quanto Eduardo, se confirmado embaixador, irá se integrar a um bloco regional, diante da sua assumida reverência à Casa Branca de Donald Trump. Segundo um embaixador, Eduardo precisa se sentir "latino-americano" e não só "americano".
Um outro embaixador, no entanto, pondera que qualquer avaliação feita agora é prematura e cita como exemplo o receio de países da região de que Bolsonaro, eleito, endossasse a possibilidade do uso de força para resolver o problema da Venezuela.
O apoio a uma intervenção militar foi descartado pelos militares e pelo governo brasileiro desde a posse do presidente. Diplomatas estrangeiros lembram que Eduardo precisará de interlocução com o Congresso também, que inclui os democratas, de oposição a Trump, para representar o País, o que pode ser um entrave.
A maior curiosidade é com o quanto o novo embaixador vai desejar se integrar aos colegas dos países vizinhos. O foco dos embaixadores em Washington é a relação com os EUA. Mas, devido ao fato de os diplomatas enviados à capital serem do alto escalão e confiança de cada um de seus países, as relações bilaterais avançam para além da ligação com a Casa Branca.
Um dos embaixadores ouvidos avalia que o Brasil estava jogando isolado dos demais na sua relação com os EUA, sem conversas informais tidas como rotineiras no caso dos demais países.
A avaliação corrente é de que o Brasil tem uma postura de independência extrema, o que acontece mesmo quando os governos dos respectivos países têm posturas e linhas ideológicas convergentes.
A região foi forçada a se coordenar melhor, segundo um dos embaixadores, devido à conjuntura atual na Venezuela. Além disso uma guinada à direita na região tornou os governos mais próximos.
Atualmente, as embaixadas da Argentina, Colômbia, Chile, Paraguai, Costa Rica e Peru tem interlocução intensa, com alinhamento de pautas e bom relacionamento, segundo diplomatas ouvidos.
Para embaixadores ouvidos, a representação brasileira ficou espremida em meio ao governo transitório de Michel Temer e o início da gestão Bolsonaro, sem clareza sobre quem ocuparia o posto mais alto em Washington.
Dois integrantes do setor privado com trabalho em empresas americanas que possuem operações no Brasil apontam que o nome de Eduardo é bem recebido na área.
O poder de um embaixador, segundo eles, reside na sua capacidade de interlocução com Brasília e, sob este aspecto, não há dúvida segundo os empresários de que o recado dado a Eduardo chegará ao Planalto.
Dentro da embaixada do Brasil, a perspectiva otimista de diplomatas de alto escalão externada em reuniões de trabalho era que Eduardo já estivesse na capital americana no final de setembro, quando há possibilidade de que Bolsonaro passe por Washington depois de participar da abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
O cenário mudou nas últimas semanas, quando aliados do presidente informaram o Planalto que será difícil ter a aprovação do nome de Eduardo Bolsonaro no Congresso, conforme o placar feito pelo Estadão mostrou na segunda-feira passada.